Capítulo 11

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Junho de 1982

A noite iniciou a corrida. Janete começara a sentir as dores do parto de manhã naquela quinta feira e a noite não aguentava mais. A espera pelo marido chegar apenas serviu para a ansiedade aumentar, mesmo com Cláudia e Julita falando para irem ao hospital Janete não saía do lugar.

Porém naquele dia, justamente naquela noite Antônio se atrasou para o jantar. Pelas dores e pela demora do marido decidiu seguir para o hospital. Chegando lá foi logo encaminhada para uma sala de parto e sua obstetra acionada, assim que médica chegou foi ao quarto ver a paciente e lhe deixar tranquila.

— Chegou o grande dia - sorriu a Janete que já estava com o roupão do hospital. Cumprimentou as duas acompanhantes.

— Doutora Deise, está doendo muito - Janete mal conseguia e o suor molhava seu corpo todo. - Quero o meu marido aqui!

— Ele logo chegará. Já deixei o recado com a secretária da empresa. - Julita respondeu preocupada, secando sua testa.

— Pois bem, vamos lá. O bebê está saudável e você também. Não poderei esperar por ele. - Deise, de cabelo curto e crespos, fazia jus ao jaleco que usava. Era eficiente e excelente profissional, acompanhou Janete desde o primeiro momento.

— Cacau, ligue para Antônio de novo. Por favor! - o aperto na mão da amiga a fez gemer de dor. Nunca imaginara que Janete era tão forte, mas devido a dor sentiu sua potência.

— Pode deixar. Vou agora mesmo! Agora se concentre em minha afilhada, certo? - Janete assentiu e viu Cláudia sair do quarto.

O que impedia a Janete dar a luz era exatamente a ausência de Antônio. A dor era o seu corpo se preparando para o parto, o quadril esperando aquele serviço e a bebê forçando a saída. Julita segurava a mão da filha enquanto colocavam suas pernas cada uma em uma base, um pano em seu quadril e a visão de sua entrada, apenas para a doutora e enfermeiras.

Estava chegando a hora e Antônio não aparecia. Queria que ele estivesse ali para ajudá-la, para ver a sua filha e ser o primeiro a segurar. Pelo jeito,  aquilo teria que esperar.

Descobriram o sexo do bebê na ultrassonografia de seis meses de gestação, a pedido da médica. Naquele momento ficaram maravilhados e Antônio preocupado. Arrumaram o quarto com enfeites infantis mas ele já procurava outra casa para se mudarem e estava tendo sucesso em sua investida.

A demora fora justamente por isso. A corretora o levara para ver outra casa naquela noite, após o trabalho. Antônio insista em ver os quartos, aquele casa tinha dois, cozinha e banheiros. A sala fora o que mais lhe agradou por espaçosa e poderia colocar ali uma mesa com a papelada do trabalho.

Ao seu contentamento, a Jaqueline, corretora, achou a casa ideal mas não resistiu ao jogar uma asa para ele. Antônio se mantera fiel todo esse tempo, mas escolhera o pior dia para não fazê-lo. Então testou a pia da cozinha, com Jaqueline em cima dela, o quarto sem móveis mas a parede era firme. Testou também a força da pia do banheiro e aprovou o chuveiro, muito bom com água quente.

Jaqueline não sabia mais o que fazer pois foram tantas formas e posições que tinha certeza que Antônio conhecia o Kama Sutra todo. Antônio estava em êxtase. Não fazia nem metade daquilo com Janete e com ela grávida ficava mais difícil ensina-la a arte do amor. Riu após o banho e colocou as roupas no corpo molhado.

— Isso foi incrível! - Jaqueline tinha dúvidas se conseguiria andar até o carro.

— Obrigada. Só não entendi uma coisa, o que houve entre você e Bruno? - Antônio abotou o último da camisa e jogou o palitó no ombro. Deu o braço a Jaqueline rindo de sua falta de equilíbrio. Seu ego inflou.

— Nada demais, fez uma coisa que não gostei apenas...

—Que seria?

— Ele me forçou. - Antônio parou de pronto e a encarou. Não conseguia imaginar seu amigo forçando uma mulher.

— Como? Ele te machucou? Se eu pego...

— Não. Não. Ele apenas... Enfim, não foi bem a força mas não foi do jeito que eu gostaria. - Jaqueline se envergonhou. Apesar de ter feito sexo em toda a casa nova de Antônio, não podia deixar de se ruborizar.

— Vou falar com ele. Não se preocupe...

— Não por mim. Só quero ficar longe, apenas isso. E nós dois, como ficaremos? - A esperança acendeu em seus olhos.

— Não ficaremos. Sou casado e essa loucura foi uma depois de muito tempo para não se repetir mais. Minha filha logo nascerá.

Deixou Jaqueline em casa, combinando o almoço no dia seguinte para fecharem o contrato da casa. Foi para casa aliviado e tranquilo, Janete já deveria estar dormindo naquela hora e não mentiria para ela. Falaria que encontrou a melhor casa para eles, pequena ao lado do que a família merecia, mas mesmo assim uma melhor do que aquela em que viviam. Ocultando os outros fatos.

Desceu do carro em frente a casa amarela, já dando adeus e riu ao ver as luzes apagadas. Como estava em ascensão na empresa de peças, Janete estava acostumada aos seus atrasos. E não, naqueles meses não era mulher. Uma das prioridades de Antônio era o seu trabalho e para isso se empenhou. De assistente chegou a técnico e de técnico a profissional da área. Com o seu conhecimento em administração e sua curiosidade em tecnologia, a próxima vaga que almejava era no escritório, na organização da empresa.

Entrou na casa silenciosa e foi ao quarto, hábito que adquiriu com o tempo, dar um beijo de boa noite em Janete quando chegava. Tinha muito carinho por ela, não amor. Chegando lá percebeu a bagunça da cama e a ausência da mala que estava pronta para o hospital. Viu que os lençóis estavam molhados e sem pensar correu...

Como ninguém avisara? Por que ele fez aquilo justamente na noite que sua esposa mais precisava dele?

No carro, se mal disse todo o caminho do hospital e chegando lá, pediram para que ele esperasse ali. Ao conferir o nome da paciente, Antônio percebeu na expressão da enfermeira que algo não estava indo bem. Lhe indicou o corredor e ele correu.

— Onde estava? Te liguei na empresa e depois em casa. Você não estava em ligar nenhum! - vociferou Bruno quando se encontraram no corredor branco de paredes amarelas.

— Eu... Eu...

— Esquece! Senta, vou te contar o que aconteceu. - Cansado, Bruno passou a mão pela cabeça, conhecendo o amigo, Antônio ficou quieto. Mas uma dor em seu peito não o deixava bem. O que será que aconteceu?

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora