Capítulo 33

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- O que está pensando em fazer? - Cláudia perguntava sentando no sofá, aquela hora Joana já dormia e Janete estava de ombros caídos, pela correria e pelas palavras de Antonio.

- Não sei Cacau. Não estou conseguindo pensar em nada agora. Só quero dormir - Claudia entendia o cansaço da amiga. Nunca precisou trabalhar na vida, que dirá procurar por trabalho.

- Amanhã veremos os classificados antes de você sair pela rua de novo, certo?

Janete apenas assentia. De cabelos molhados e roupa confortável se jogou ao lado de Claudia e deitou a sua cabeça no colo dela. Ter de novo a sua família inteira, sua reputação e honra era tudo o que ela queria mas será que Antonio a respeitaria?  Será que ele deixaria a vida devassa de lado? Entraria de cabeça para valer dessa vez?

Aqueles pensamentos faziam Janete chorar. Ela queria que a vida tivesse um botão de rebuninar igual ao vídeo cassete, voltando a fita até o momento em que começou a enxergar melhor a história e pudesse decidir que caminho tomaria. Quem sabe poderia fazer uma colagem, cortava a parte ruim do filme e colocava as pontas pulando logo para o final feliz.

Cláudia resolveu passar a noite com Janete, não queria deixá-la daquela forma. O pior marítimo do ser humano é a dúvida sobre uma decisão, sendo essa a mais importante de sua vida. Ela deixou mãe e filha juntas na cama, contra aquele aconchego não poderia lutar pois seria perda na certa.

Voltou para sala e pegou o telefone, girou o disco a cada número  e esperou que atendessem enquanto enrolada o fio em aspiram no dedo.

- Alô - Bruno estava com voz de sono. Depois daquele tempo em sua casa já reconhecia.

- Oi, sou eu - ouviu um barulho do corpo se ajeitando e sorriu.

- Cláudia, aconteceu alguma coisa? Como estão nossas meninas? Há algum perigo? - ele acordou na hora pela preocupação.

- Não, não desse jeito que está pensando. Antônio deu um golpe baixo em Janete. - Bruno suspirou do outro lado da linha. Já tinha conhecimento da atitude do amigo.

- É,  eu sei...

- Deixou Nete triste, confusa. Isso não se faz. Como pôde deixar a dúvida em sua cabeça? - O silêncio dos amigos deixava claro a desaprovação mas...

- O que ela fez? - Bruno perguntou depois um tempo.

- Ainda nada, procura forças para continuar. Não quer morar onde eu morava. Tive que lhe contar a realidade Bru, mães solteiras que saiem para trabalhar, deixando seus filhos em casa expostos a crimilidade crescente. De onde você pensa que a droga que vocês consomem a noite?

O jato de palavras de sem pensar deixou Bruno atordoado, mas logo sorriu. Aquela vida não os pertencia mais. Se fosse na época da faculdade tudo bem, mas agora. Com responsabilidade de trabalho, contas a pagar e a vida de adulto chamando. Não havia tempo para isso. A não ser a cerveja as sextas feiras.

- Você faz um juízo muito ruim de mim não Cacau? Que coisa feia. - a ironia, marca dos amigos, fez Cláudia apertar os olhos. - O que ela decidir estaremos ao seu lado e não deixarei minha afilhada morar no subúrbio,  muito menos Antonio, anote o que digo!

- Eu que não posso ficar aqui dando despesas a minha amiga. Tenho que voltar para casa e ver o que sobrou. Recomeçar a minha vida. - além da constatação existia medo em sua voz.

- Tudo a seu tempo Cláudia. Depois vamos lá, por enquanto Nete precisa de você. Qualquer coisa me ligue. - fez um pausa. - Ele apareceu de novo?

Aquela pergunta fez Cláudia se arrepiar.

- Não, mas Marcelo está aqui dia e noite. Ele irá lhe falar qualquer coisa.

-Tudo bem. E seja como for com Nete nos iremos apoiar como sempre fizemos.

- Sim. Apesar de não concordar, a não ser que Antonio mude de fato.

Desligou o telefone e se deitou na cama de casal. Sabia que Antônio tinha feito a proposta para Janete, só não sabia que ele esperaria tanto tempo. Bruno colocou a mão sobre o rosto, o cachorro do vizinho latia mais que o normal naquela noite. De qualquer forma o cansaço do dia o pegou em cheio e dormiu.

Já Antonio se apertava na cama de solteiro de sua antiga casa. Como pôde ter parado ali ele não sabia? Ou sabia, foram tantas mentiras que não se surpreendeu quando Janete tomou aquela decisão, porém não imaginou que ela aguentasse tanto tempo ou ele para conversarem sobre a sua relação. Se ele estava decidido a deixar de lado o seu lado promíscuo? Bom, sempre que a consciência pesada ele dizia que sim, mas Marina mexia com ele de tal forma que não negava.

Virou de barriga para cima imaginado sua filha crescendo fora de seus olhos. Já estava com a fofura e peso que antes não havia percebido. Era hora de retornar a sua vida. Cuidar de sua família e não deixar que mais nada acontecesse a elas. No dia seguinte cobraria a resposta de Nete! Custe o que custar.

O telefone tocou mas a preguiça deixou que a mensagem fosse gravada pela secretária eletrônica. Era Bruno como sempre lhe dando um bronca, ultimamente era isso que o amigo fazia. Prova que ele amadureceu mais rápido que Antonio. A voz do amigo era branda mas era o tapa que precisava, a consciência fora de sua mente tinha nome e sobrenome. Por mais que ele não quisesse uma frase ficou gravada na cabeça e adormeceu com ela fazendo voltas em seus sonhos.

"Se for isso mesmo que você quer, tenha responsabilidade e caráter Antonio! Não a faça sofrer de novo!"

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora