Capítulo 15

104 19 26
                                    

A casa era situada em uma vila, que como tantas outras, crescera perto do bairro de fábricas. As vilas geralmente eram de operários que antigamente não tinham horário certo de sair do trabalho, logo a opção era morar próximo ao serviço. Com a vilas, crescera também os serviço básicos para atender as pessoas que ali viviam.

Em particular, essa vila tinha a fama de oferecer diversão e aquela casa era comum, comparada às outras era grande, com quatro quartos grandes, cozinha ampla, dois banheiros e sala. Ela tinha dois andares e a fachada branca com janelas da mesma cor. O que chamava atenção em a sua frente era a luz que acesa a noite, era vermelha.

Apesar de ser a profissão mais antiga do mundo, a prostituição era descriminada e mantida com clandestina. Todos sabiam onde encontrar, mas ninguém dizia que usava os serviços das moças de má fama.

Uma vez conseguira fugir, mudando o seu nome de Medeiros para Franco, entrara na faculdade e trabalhava em um mercado com caixa. Depois de formada, conseguiu uma escola para dar aulas de português e ajudava Janete em sua aulas particulares aos meninos do bairro. Ainda não havia conseguido se mudar, mas já estava com o calção para o novo aluguel e já estava visitando casas. Com ajuda de Antônio que também procurava uma.

Tinha vergonha de sua mãe, por ter sido uma dessas mulheres e por uma dívida, entregara sua filha ao dono do bordel. Assim, aos quinze anos Cláudia se viu obrigada a atender os clientes de graça. Sem lucro algum! Um fato a ela tinha que admitir, nesse acordo a mãe deixou claro que ela deveria estudar, então frequentava a escola a tarde, trabalhava a noite é descansava de manhã. Mas conseguiu fugir quando completou dezoito anos e se mudou para um bairro longe.

O dono do bordel lhe tratava bem. Não havia abusos da parte dos clientes e sempre que ela denunciava algum, ele não permitia mais a sua entrada. Afinal, ter uma menina em seu corpo de trabalhadoras era lucrativo, porém a sorte de Cláudia mudou quando conheceu o filho do dono.

Jorge era ruim. E nutria por ela um sentimento de posse, diferente das outras meninas, ela tinha que começar a noite com ele. E a ele não podia denunciar.

— Agora você é minha de novo. E exclusiva - ele abusava de seu corpo desde que a pegara no hospital.

A mantinha em segredo das outras meninas para que não houvesse com fugir, levava as refeições e dava banho nela após cada abuso. Cláudia não tinha forças reagir, também quando tentara fora gravemente ferida e levada desacordada para aquela casa que ela não queria voltar.

— Por favor, Senhor Deus. Me ajude - chorava baixinho enquanto rezava por ajuda e sentindo as dores do corpo. - Que ele não volte tão cedo, Senhor. Que minha afilhada esteja bem. - fungou e limpou as lágrimas do rosto, ao ouvir o movimento da porta.

— Sua ração. Quero você forte, vadia - Jorge sorriu desdenhando. - Vamos nos divertir hoje.

— Que dia é hoje? Que horas tem?

— O que isso te interessa? - ele se aproximou e segurou seu queixo com brutalidade. - Sua vida é minha agora!

Saiu do quarto e trancou a porta por fora. Cláudia chorou de novo e clamou por um milagre.

....

Bruno chegara a casa de Antônio e Janete. Ainda na de solteiro do amigo, Julita ajudava a acomodar mãe e filha no quarto. O jantar estava pronto por ela e Pedro também estava lá. A vinda do hospital fora tranquila, apesar de Antônio enrolar Janete mais uma vez, falando que a casa nova era linda e que ela iria gostar, apesar de não ter mudado de opinião e fechado o contrato com Jaqueline naquela tarde, mas fora apenas um almoço profissional. Ela se empolgou mas a maternidade faz a mulher abrir os olhos e Janete amadureceu no momento que deu a luz a Joana.

— O que você tem? - Julita perguntava enquanto ela dava o seio a neném, sentada na cama do casal.

— Só um pensamento...

— E qual seria? Janete você nunca esteve com essa expressão. - o estranhamento era nítido em Julita.

— Do futuro. Agora que tenho uma filha devo dar o melhor para ela, o melhor que eu puder, mas estou...

— ... Desconfiada.

— Sim mãe. Porque eu sei que posso fazer isso. Mas será que Antônio o fará? - posicionou melhor Joana em colo enquanto a mãe sentava ao seu lado.

— Se você fará o melhor que puder, ele também fará! Mas o melhor que ele puder. Não espere nada do outro, minha filha. Logo aprenderá isso.

O carinho foi terno ao se emocionar mais uma vez em ver a filha dando alimento, agora sua Janete era mãe, mulher é casada. Não precisaria mais dela, a não ser pelos conselhos que ela estava disposta a dar.

Na sala, Pedro apertava- se no sofá com Bruno ao lado. Os meses que Janete esperava, ele ganhou mais peso e perdeu mais cabelo. Porém sua expressão era a mesma para Antônio, que estava de pé perto da televisão.

— O senhor vai gostar, seu Pedro.

— Quero ver amanhã. No primeiro horário.

— Levarei o senhor e dona Julita lá sim.

Antônio riu sem graça. Aquela marcação não era nova mas sempre o deixava incomodado. Bruno pediu para ver Joana e, depois de ir no quarto verificar, Antônio o levou até lá. Bruno fez carinho na afilhada e deu um abraço em Janete, dando os parabéns pela noite anterior é linda filha. Não havia como esquecer que quando chegará ao hospital Janete resistia até a médica dar o veredicto.

O jantar foi alegre enquanto Joana descansava. Janete sabia a noite que esperava e se preparou. Comeu bem e conversou com o compadre e os pais, Antônio estava atento a sua palavras. Ela se sentiu bem ali, teve a certeza que ele sentia algo por ela, mas sabia que ainda não era amor.

Antônio se despediu dos convidados marcando com os sogros para a parte da manhã do dia seguinte. No fim, apenas seu Pedro iria porque Julita ajudaria a filha na nova rotina. Também Joana ainda não poderia sair já que teria que tomar a vacina para estar mais segura na rua. Ele levou-os até a porta e deu tchau, quando entraram seus carros. Ouviu um barulho do lado da casa e caminhou até ele, chegando perto percebeu ser um gato de rua.

Suspirou de alívio mas seus pensamentos voaram até Marina e Cláudia. Se arrepiou com a possibilidade da primeira saber o paradeiro da amiga. Entrou, fechou a porta e apagou as luzes.

— O que você está aprontando víbora?

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora