Capítulo 28

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Janete acordou e logo reparou no silêncio da casa. O bilhete lhe chamou atenção na mesa. Aquele era o Antonio que ela amava, um homem que cumpria com a sua palavra e também os seus deveres sem trair ninguém.

Será que tomara a decisão certa? Será que foi precipitada?  Claudia não mentira para ela, nunca! Se ela contou era porque Antonio continuava a fazer, e poderia apostar com quem.

Preparou coador com o pó na garrafa térmica enquanto a chaleira esquentava a água. Pegou o jornal na porta e o colocou na mesa, que como habitual, colocou dois lugares. Se maldizendo, retirou a caneca dele é devolveu para o armário. O jornal ela fez questão de ler tomando o café e passando a manteiga na torrada para ela. Ele sempre li o jornal antes para depois ela lê.

A noite havia sido tranquila. Joana já estava mais calma ou ela já estava acostumando. Sua mãe combinara de almoçar com elas e no almoço contaria tudo o que estava acontecendo. Claudia logo estaria ali, depois do café ligaria para a amiga. Agora tinha que conseguir uma escola para dar aula, teria que ter um trabalho formal e que sustentasse as duas e a casa. Quanto uma professora de português ganhava? Será que supria as suas necessidades?

Pulou as sinopses da novelas e foi para a parte dos classificados. Ali sim encontraria um emprego, pegou a caneta vermelha e ouviu a batida na porta da frente. Podia ser Marcelo mas quando foi atender não sem esquecer o roupão em cima do pijama, viu que era a sua mãe.

- Antonio saiu cedo hoje? Não tomou café? - Julita entrou sem cerimônia e deixou a bolsa no sofá.

Janete ficou em dúvida se contava ali e estragava o dia ou omitiria o que havia acontecido.

- Sim, muito trabalho. - Julita sorriu com a afirmação. - Quer café mãe?

- Claro. - sentou-se a mesa mas não na  cadeira de Antonio. A cabeceira era do dono da casa, Janete também não havia sentado nela. - Sabe que tem que limpar essa janela não é? Está russa.

- Sim, ia dar atenção as janelas hoje mas teria que sair. - Janete tentava se manter tranquila enquanto mordia a torrada.

- Esfrega com sabão de louça e depois passa álcool com jornal, a janela brilha! - Julita levantou as mãos para dar ênfase ao que falava. A filha concordou com a cabeça, era exatamente assim que fazia.

Joana começou a chorar em seu berço e Janete correu para atender. Pediu licença, deixando a mãe sozinha com o seu café. Julita pegou o jornal, imaginou que se a filha estava lendo Antonio já tinha feito. Estranhou quando viu os classificados na parte dos empregos. Esse mania que as mulheres têm de trabalhar, tinha mesmo que cuidar dos filhos e do marido, também da casa. O que não eram tarefas fáceis.

Ao colocar o jornal na mesa percebeu o bilhete e se espantou com as palavras antiga casa e despesas. Entrou em pânico! Antes a filha seria uma mãe solteira, agora era uma mulher desquitada! Não, isso não podia ficar assim.

- O que significa isso? - balançou o bilhete quando Janete entrou com a filha no colo. Deu apenas o tempo dela respirar fundo.

- Ele me traiu mãe. Sempre! Desde o namoro - ela se sentiu e tomou o café. Julita está fora de si. Andava de um lado para o outro.

- Os homens fazem isso Janete! Eles traem! - aumentoua voz para o espanto de Janete. Nunca tinha visto a mãe daquele jeito.

- Mãe, meu pai já te traiu?

- Com certeza! Você pensa que sou idiota? Essas mulheres que trabalham fora dão em cima dos nossos maridos e eles caiem fácil! - Julita respirou. - Filha ela fazem coisas promíscuas por diversão, coisas que nós mulheres casada não devemos fazer.

- Mãe, tem uma escola aqui no bairro e não vejo as professoras assim - Janete revirou. - Também no mercado e até mesmo minha vizinha, trabalha fora, chega em casa e a empregada vai embora. Não são essas mulheres que você está dizendo por aí.

- Elas são casadas minha filha! Casadas. Houve alguma coisa para que elas trabalhassem fora, os maridos autorizaram o trabalho. - Julita sentir-se irritada. - Eu sempre apoiei os seus estudos, queria que você fosse mais inteligente que eu. Essa é a moda e você teria o melhor partido, mas a partir do momento que você casou, você é a dona do lar, esposa e mãe! Minha filha, vá atrás de Antonio e peça desculpa a ele, fale para voltar para casa e cuide bem de sua família!

- Eu pedir desculpas? Eu? - Janete bufou, não queria se alterar com a mãe mas não conseguia entender porque dela não estar ao seu lado. - Ele me traiu! Ele transou com minhas amigas de faculdade! Ele transou com uma amiga de vagabundos que quis tirar minha filha de mim, mandou um homem bêbedo pegar Joana! Mãe, quem me deve desculpas é ele!

Janete não queria mas gritou e chorou de raiva. Queria alguém do seu lado, alguém que entendesse e dissesse que tudo ficaria bem. Como Antonio fazia a noite quando a abraçava e ela se sentia acolhida. Viu seu café esfriar e Joana terminar de mamar, percebeu que toda informação que havia falado a mãe não adiantou nada. A expressão de Julita continuava a mesma.

- Minha filha, Janete. Eu só volto aqui quando seu marido estiver em casa! Não quero saber como seu pai vai reagir mas terei que contar para ele. - ela levantou e pegou a bolsa que havia deixado em cima da cadeira ao seu lado. - E nem pensei em voltar para casa. Não aceito filha com um filho e desquitada debaixo do meu teto.

Julita saiu deixando Joana chorando de soluçar. Que espécie de mãe era ela que pegava ajuda quando mais a filha precisava? Logo agora que alguém teria que ficar com Joana para ela poder procurar um emprego.

Janete atendeu a filha com água nos olhos e uma sensação de vazio na casa, um silêncio que gritava. Não havia mais a quem cuidar, lavar as roupas e cozinhar. Agora era apenas ela esua filha. Seu pai não iria querer mais ve-la e naquele momento sentiu-se órfã.

"Agora colocarei em prática o que aprendi na faculdade. Darei aula e sustentarei minha filha!"
Apesar do pensamento firme, as lágrimas eram de medo.

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora