Capítulo 20

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Antônio chegou em casa e foi recebido por um abraço apertado de Janete. As lágrimas ainda caiam e lhe molhavam os ombros. Ele retribuiu com um beijo em sua cabeça e carinho nas costas, o que apareceu acalmá-la. O beijo foi calmo na boca, de saudade, de medo. Mais calma, ela se permitiu sentar no sofá o levando pela mão.

— Cadê Joana? - ele apertava a mão da esposa, passando segurança.

— Custou, mas voltou a dormir. O que aquele homem queria aqui, Tonho? Como sabia que poderia encontrar Cacau aqui? Cadê ela?

Eram muitas perguntas para uma noite como aquela, ele devia uma explicação mas não certo se aquele seria o momento, se ela entenderia o que ele diria ou aceitaria. Afinal vira Janete se transformar naqueles meses juntos.

— Essa é uma longa história e começa antes de eu te conhecer. Apesar de eu não saber a parte da Cláudia, sei o porquê desse homem aparecer aqui - ele passou novamente a mão no cabelo loiro e a olhou nos olhos. - Eu não queria me casar Janete, eu não sou um cara que deveria ter uma família. Sou um bohemio, na noite paulista eu tacava o terror e nunca terminava sozinho.

— Disso eu sempre soube, Tonho - ela riu. - Por isso resisti tanto a namorar você. Pensa que eu não sei - ele gelou. - Você havia namorado todas as minha amigas antes de mim e elas me contavam histórias suas. - Ele lembrou daquele olhar inocente de quando se conheceram, como o aquilo havia o desafiado a estar com ela, o mesmo olhar recebia agora, porém maduro e divertido. Ele sorriu.

— Sempre soube que eu não era flor...

— ...que se cheire. Até aí, nenhuma novidade. - ele deu graças a Deus de algumas amigas não terem dito a ela que o relacionamento continuava enquanto namoravam.

— Mas eu conheci muitas pessoas na noite, umas boas e outras ruins. Ela, Marina, é uma ruim. - digerir a informação era difícil, mas Janete lembrou da loira chique de seu casamento, com o olhar prepotente.

— Acho que a vi. Sua ex namorada.

— Sim, no casamento. Ela achou que eu não faria aquilo... Isso, quero dizer - se corrigiu rápido. - eu a conheci em uma mesa de jogo, diferente de qualquer garota, ela sabia o que estava fazendo e realmente me encantei. Não sosseguei até tê-la embaixo de... Uma oportunidade com ela. - ele riu sem graça, estava sendo mais difícil do que imaginava. - Ela ganhava muito dinheiro no que fazia, descobri depois que não era com o jogo...

— Como assim? - a novidade do submundo era inacreditável para ela, apesar de saber que existe não imaginava que ele conhecia tão bem.

— Ela é perigosa e não sei como, me fiz notar. Na noite, estar acompanhando dela era ótimo. Eu poderia beber, jogar e ... Bom, você entendeu. Mas ela jogava baixo, tipo naqueles filmes que nos vemos, tinha homens que faziam o serviço sujo para ela sem ter que quebrar as unhas. Ela não me queria casado e sim com ela, por isso aquele homem estaca aqui. Para nos fazer mal.

Janete o olhava tentando entender, quando a ficha caiu, sua expressão mudou de pacífica para raivosa. Como ele teve coragem de se meter como uma mulher daquela?

— Como você pôde? - quase gritou mas lembrou da filha. Ele se retraiu.

— Eu me perguntei a mesma coisa a noite inteira enquanto vinha para casa. Janete, ela não aceita não como resposta é vai atrás do que quer, mesmo que seja de forma suja...

— Teremos que nos mudar de novo então. Ela quer levar a nossa filha. Você fez uma besteira enorme! Terá que falar com ela! Para ela parar. - ela andava de um lado para o outro, não podia ficar sentada com alguém querendo levar sua filha.

— Eu não posso fazer isso é quanto a nos mudar, agora será difícil. Mas tenho que lhe confessar outra coisa, Nete. E espero muito que me perdoe. - aquilo a fez parar a sua frente, ele olhou para cima, vendo a mulher que aquele menina se tornou. - Eu a traia com ela, quando namorávamos.

— Você o que? - dessa vez ela gritou.

— No início do namoro, você não tinha relações comigo e eu não iria te forçar. Então a mantive apenas por isso. Depois que começamos eu a dispensei. - ele mentiu, segurando a cintura dela. - Espero que me per...

O tapa que recebeu foi sonoro e seu rosto virou de verdade, Janete tirou as mãos de sua cintura e caminhou para longe, para o quarto deles, onde fechou a porta. Traída! Ela era uma namorada traída! Tudo o que ouvira de Cláudia na faculdade fazia sentido. Será que Antônio só mantivera relações com Marina? Será que haviam outras moças? Por que ele fez aquilo? Por que não contou antes? Ela queria chorar, mas segurou.

— Nete, por favor. Abra a porta. - ela abriu e jogou o travesseiro nele. - Janete, por favor. - ele coçou os olhos.

— No sofá! Você não dorme na minha cama. Até hoje eu não sabia o porquê minha mãe fazia isso, mas agora, eu rezo para que não tenha sido por traição!

Ele sabia que não fora, não imaginava Seu Pedro fazendo aqui com outra pessoa, ou se outra pessoa aceitaria. Conteve o riso.

— Janete, me deixe durmo na cama. Preciso trabalhar disposto amanhã, quero dizer, hoje mais tarde. - O tapa foi do outro lado do rosto, o vermelho se espalhava por ele. - Virei saco de pancadas, Janete?

— Você me traiu, enquanto deveria esperar por mim. Não sei se fez outras vezes. Onde estava enquanto eu estava em trabalho de parto? Onde estava quando chegava tarde em casa? Você estava me traindo, Antônio? - a cada frase era um empurrão que ela dava nele, o último o fez cair no sofá. - É a sua obrigação trabalhar, vá disposto ou não!

Deu as costas e entrou no quarto, batendo a porta dessa vez. Antônio ficou sem palavras, não conhecia essa Janete furiosa, não sabia que ela poderia ser daquele jeito. Quando Joana chorou, ele ouviu o barulho da porta, o choro aumentando e diminuindo e depois outro barulho de porta. Dormir, ele mal conseguiu. Acalmar Janete, ele teria que tentar outro dia. Estava rezando para que Bruno tivesse sucesso naquela noite, porque a dele já era...

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora