Capítulo 9

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— Que lindo esse lugar. Amei Antônio! - Janete colocava a mão sobre os olhos para tapar o sol.

Forte e refletido nas areias brancas da Praia do Forno, em Búzios. Janete de maiô e Antônio de sunga vermelha chegavam para se instalar. Ele a ajudou a estender a canga e, depois de tirar a saída de praia, foram dar um mergulho juntos. Antônio reparou na pequena barriga da esposa que já anunciava a criança. Pensou que estava mais evidente ou talvez, Janete tenha relaxado.

Esconder a gravidez não era mais necessário, agora voltariam com a desculpa de que ela engravidou na lua de mel. Perfeita saída.

O mar claro, com ondas fracas, convidava ambos ao romance e Antônio não fez por rogado. Beijou sua mulher, abraçou e se deixou levar pelo momento. A ficha começava a cair e a ideia de ter uma família não lhe parecia tão ruim quanto no início. Sorriu para Janete que estava radiante embaixo a luz do sol.

Não podia negar a beleza dela e se o filho ou filha a puxasse seria lindo, magnífico. O que ainda não estava acostumado eram os enjôos matinais e depois do almoço. Mas ali na praia, ela estava perfeita.

— Linda - sorriu acariciando o seu rosto, tirando uma gota que saía do cabelo.

— Você que é, Antônio! Você me salvou e serei eternamente grata por isso. - a emoção tomou conta dela e um beijo carinhoso aconteceu entre os dois.

Voltaram para a areia e tomaram um picolé. Ele deitou para pegar um bronze enquanto ela sentava ao seu lado.

— Por um momento pensei que isso não daria certo. - confessou ele de olhos fechados.

— Por que?

— Nete, por favor, você me conhece. Sabe o que falam sobre mim...

— Eu não dei ouvidos, Antônio. Nunca dei. Você me trair - desfez da afirmação com mão. - Podem falar o que for, mas quem casou com você fui eu. Agora, que se dane os outros.

Determinada, uma qualidade que Antônio não enxergara nela antes. Sorriu mais vez, sentou e olhou o mar. Decidido tinha que seguir em frente e honrar com a sua palavra perante a Deus e seus convidados.

— Vamos fazer dar certo, Nete!

— Já deu, meu amor. Já deu. - ela acariciou o seu peito musculoso e beijou-lhe o pescoço.

....

— Você tem que deixá-los em paz, Marina. Ouve o que estou te falando. - Jorge dizia a sua amiga na mesa do restaurante.

— Não! Ele não pode ficar com ela!

— Já está Marina. Já casou e ela espera um filho dele. - os olhos escuros de Jorge estavam sérios. - Se você tivesse sido mais rápida, de repente seria você...

— Não fale besteira, Jorge. - o tapa de indignação foi na mesa, o temperamento dela não o assustava.

Ele tinha a altura na média e seu corpo também era, com o peso ideal, fugia da academia por não gostar dos exercícios. Já bastava a correria que tinha com ela, além de amigo era o seu empregado para o serviço sujo e Marina tinha vários. De jogatina as drogas, ela se envolvia com os boêmios e fazia a alegria deles em troca de um bom dinheiro.

— Isso já está virando obsessão, gata. Porque não o esquece e parte para outro? - o copo de cerveja foi aos lábios que deixou uma gota escapar.

— Você sabe que não posso deixar assim. Ele tem que ficar comigo.

— Oh furiosa hein! Deixa de ser mimada, mulher! - ele se levantou e colocou o dinheiro da bebida na mesa. - Aceita que dói menos...

— E se eu te dizer que vi a Cacau?

Jorge parou e encarou a mulher imponente, de pernas cruzadas e olhos escuros. Desviou o olhar para as paredes de madeira lustradas e sentou novamente. Não precisava de mais argumentos, aquele fora o suficiente para ceder aos caprichos da loira a sua frente.

— Marina, com isso não se brinca. - aquele tom colocaria medo em outras pessoas, mas nela não surtiu efeito.

— Melhor amiga de "Nete" - fez as aspas com os dedos e falou com desdém. Ele suspirou e chamou o garçom. Acendeu um cigarro e deu outro para ela, que sorriu.

— Traga-me dois bifes a cavalo e outra cerveja. - ela falou ao garçom que logo saiu. - Nossa conversa será longa, rapa.

Jorge coçou a testa. Teria que faltar ao pôquer da tarde e para isso acontecer, teria que lucrar muito. Deixou Marina desabafar mais um pouco sobre o amor e sobre Antônio, bebeu duas garrafas de cerveja até ela dizer o que realmente queria e como pagamento...

— Pode fazer o que quiser com Cacau, não gosto dela mesmo. - deu de ombros.

Em outra parte da cidade, Cláudia arrumava a sua casa humilde. Estava feliz com a carta que recebera de Janete e estava ansiosa para ver as fotos das praias. Ela não conhecia o mar, além de longe era dispendioso demais.

Foi para o quarto e guardou a carta da amiga, sua cama de solteira com a colcha de renda e o armário de madeira escura com o vidro na porta do meio eram as únicas coisas que tinha ali. Na sala, o sofá de dois lugares mal cabia junto a televisão, na cozinha a geladeira azul de sua mãe falecida estava praticamente vazia e o fogão enferrujado.

Porém ela não se importava, agora formada ia a caça de emprego e logo sairia daquele bairro perigoso e sujo, logo teria uma casa bonita e grande, com cozinha ampla do jeito que queria.

Hoje iria encontrar com as colegas da faculdade e passar as notícias de Janete, também pesquisaria onde estavam aceitando currículo.

— Logo, logo... - falou em voz alto ao colocar a bolsa no ombro. De calça jeans e blusa branca, saiu pela porta com a pasta nos braços. Fechou a porta em seguida. - ...darei adeus a esse lugar.

Andou pela rua confiante, olhava para pessoas que não tinham boa índole mas ela não estaria mais entre eles.

— Belezinha - gritou o bêbedo no bar pelo qual estava passando.

— Que tal uma festa? - falou outro ao seu lado, fazendo movimentos vulgares com o quadril.

— Vão se ferrar! - gritou mas não parou de andar.

Só o que faltava era ela perder a confiança agora. Esse sentimento que sempre a manteve de pé.

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora