Capítulo 6

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— Isso não é nada bom - Bruno balançava a cabeça vendo Antônio passar mal no banheiro da igreja.

No meio de uma praça, estava a imponente igreja com uma única torre para o sino, com as paredes de cor cinza o que havia dentro dela era de se admirar. A organização dos bancos de madeira e o teto com detalhes dourados faziam o ambiente lindo e rústico para o casamento que iria acontecer. No altar, a cruz e de cada lado a imagens de Nossa Senhora Aparecida e do outro de Santo Antônio.

No banheiro usado pelo padre e coroinhas, Antônio se lamentava a noite anterior. Primeiro por ter permitido o amigo a levar duas acompanhantes para sua casa, além da cerveja que beberam no gargalo. Depois pela ligação de Marina. O término para ela foi decepcionante, logo um desafio.

Conhecia aquela mulher. Ela lhe traria problemas enormes e não tinha ideia de qual seria o próximo passo. Ele não conseguia adivinhar. O enjoo pela ressaca o deixava sem cor e Bruno estava mais sério do que de costume.

— Você diz isso para mim?

— A sua preocupação é evidente, Bro. Mas tem que se controlar. Não me surpreenderia se Pedro trouxer uma arma. - Bruno com o braço apoiado no batente da porta coçou a entre olhos.

— A minha preocupação não é ele. Se Marina vier você terá que da um jeito. Estou falando sério, Bro.

— Não peça isso.

— Estou implorando - mais uma onda de enjoo fez Antônio virar novamente para o vaso sanitário.

— Isso não está nada bom. Nada bom.

Bruno deixou o amigo sozinho com seus pensamentos e foi para perto de sua companhia. O atraso de Janete era de se esperar. A igreja já lotada revelava que os pais dela não economizaram na cerimônia e nem na lista de convidados. Os pais de Antônio mal se falavam mas estavam ali para fazer a cena mais bonita de suas vidas. Pedro esperava na porta da igreja.

Ele olhou ao redor e no lado esquerdo, estavam mais pessoas do que acharia que estariam presentes. Uma lista passava em sua cabeça e talvez, datas confusas para cada mulher que Antônio havia saído. A vingança dela estava ali, ou isso ou elas queriam uma comprovação de que o galã iria mesmo até o fim, teria o seu game over.

— O que foi carinho? - pergunto Amanda lhe afagando o rosto.

— Esse casamento vai dar o que falar. Pode anotar!

— Tudo bem. Só espero que sirvam champanhe. - ela deu de ombros.

A turma dos bailes estava lá também, além da dos bares. Parecia que o evento tornou-se grande demais para ser apenas um casamento. "Coitado de Tonho", Bruno não conseguia parar de pensar no amigo, que além de não querer uma família, teria que...

— Agora ferrou de vez - ele pensou alto demais...

....

Seu Pedro estava ansioso, quando olhou para o altar não vira Antônio. Pensou em largar tudo para procurar o genro, mas não poderia fazer aquilo com a filha, tinha que ficar onde estava. Quando olhou de novo, Antônio tinha voltado e parecia um fantasma. Melhor que tenha medo mesmo. 

Quem estivesse no casamento e depois fosse a festa, não poderia chamá-lo mais de zura! Porém, juntara esse dinheiro há muito tempo, tanto para os estudos da filha, quanto para o casamento. A classe era média, mas a economia fez o casamento parecer de novela. grandioso!

O carro vermelho parou em frente a igreja e dele saíram Cláudia, Julita e por último, Janete. Pedro sentiu os olhos umideceram. Sua menina cresceu, estava se casando. Mesmo que fosse um homem que ele não aprovava, era um momento marcante na vida de qualquer pai. Ele a entregaria nas mãos de Antônio, para que possa amá-la da forma que merecia. Se não maior, igual ao seu amor.

— Você está linda, minha filha. - levantou o véu que cobria do rosto ao colo da noiva e deu-lhe um beijo.

— Obrigada pai. - disse Janete enquanto o pai cobria o rosto de novo.

Logo, os padrinhos tomaram posição no altar, a daminha com seus cachos angelicais levava uma cesta com pétalas de rosas. A músicas da marcha nupcial começou e logo atrás da menina vinha a noiva com o seu pai.

Antônio respirou fundo, se fosse para fugir seria enquanto estava no banheiro porém a sua palavra valia muito, é aquela visão o atraiu. Janete estava divina e imaculada, mesmo tendo um fruto em seu ventre. Por um momento Antônio se viu feliz, estava fazendo o certo e queria que a Janete fosse feliz ao seu lado. Mas quando olhou os convidados, perdeu o fôlego.

Aquilo estava errado demais, não podia ser verdade mas ela era ousada e maldosa. Essa Marina não sabia perder e ele se viu com um problema nas mãos. A visão da loira ofuscava a dos outros convidados, não estava de vestido e sim de macacão azul marinho, que marcava o seu decote farto e o quadril largo. A postura de miss se fazia presente e enquanto todos os convidados de pé olhavam para a noiva, ela olhava fixamente para ele. Desafiando a duelo de espadas que com certeza ela ganharia.

Viu um lenço estendido de forma discreta e rápido, pegou para secar a testa que suava.

— Não sabia que ela vinha. Você a convidou? - Bruno pegava o lenço de volta e falava baixo.

— Claro que não - sussurrou Antônio.

— Faz o que tem que fazer, amigo. Depois vemos essa situação.

A noiva chegou ao altar. Seu pai lhe beijou o rosto e apertou a mão do noivo. Estava feito, naquele momento Pedro fez o papel de pai confiando a filha em um rapaz que não confiava, mas que ela amava. "Como se amor enchesse barriga", pensava ele ao mesmo tempo desejando o melhor futuro para a sua filha e se colocando ao lado da esposa no altar. 

Ele mal sabia que já estava cheia...

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora