Capítulo 10

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— Fala Bro! Como foi a lua de mel? - Bruno estava ajudando a Antônio a desfazer as malas. Do jeito dele, mas estava.

— Foi ótima, quando puder vai lá. Você vai amar o lugar. - Antônio viu uma camisa debaixo de Bruno. - O mar é lindo demais!

— Está até bronzeado. Mas e a noite? Foi na curtição?

— Claro que não Bruno, Janete está grávida, esqueceu? - dessa vez Antônio fez sinal para o amigo se levantar da cama, agora de casal.

— E não puderam curtir? - Bruno estava decepcionado.

— Nós curtimos muito, seu Bruno. Fomos a praia, jantamos a luz das estrelas e andamos pela cidade para conhecer. Foi lindo! - Janete chegou no quarto e abraçou Antônio enquanto falava.

— Ah, vocês não sabem o que é curtir - Bruno falou triste. O casal riu dele.

— Bro deixa de ser caroço! Agora sou um homem casado - Antônio apertou mais um pouco a Janete.

— E também careta - Bruno riu da mudança do amigo. Quem poderia imaginar?

A casa de Antônio de azul ganhou a faixada amarela, as grades brancas foram pintadas de novo. O sofá de couro substituído por um de tecido, que depois de uma briga com Janete, era liso de cor vermelha. A sala ganhou uma estante de livros, divididos entre administração e literatura brasileira. Na cozinha apenas o fogão foi mudado para o de seis bocas e uma mesa pequena de canto.

No quarto, apenas a cama cresceu e um berço estava na parede ao lado desmontado.

— Quando vamos montar o berço, Nete? - Antônio notou o móvel fechado na caixa de papelão.

— Assim que terminarmos de arrumar o armário, depois de desfazer as malas. Continuem meninos, vou ver o nosso almoço.

Janete foi a cozinha preparar o arroz e a salada de batatas. Antônio ainda contava com a ajuda de Bruno.

— O bebê mexeu - Antônio contou bobo.

— Mesmo? Isso significa que vive, não é? - Antônio olhou para a calça jeans que tinha na mão, decidindo onde acertar Bruno com ela. Esse caia na gargalhada. Por fim revirou os olhos.

— Você não presta Bruno. É claro que está vivo! E saudável, acrescento.

— Meu afilhado é forte!

— Ou afilhada. - Bruno riu de novo. - Qual é a graça, palhaço?

— Se for menina, você está ferrado! - Antônio não havia pensado nisso. - Será que os caras vão fazer o que nós fizemos as mulheres?

— Se fizerem, vão se ver comigo. - o punho dele fechou e Bruno ficou sério. Em um acordo sem palavras, eles assentiram e concordaram, depois apertaram as mais para selar. - Me diz como ficaram as coisas aqui?

— Tranquilas - Antônio encarou de novo. - Ela sumiu, não sei por onde andou. Ninguém a viu. - Bruno deu de ombros.

— Devo ficar preocupado?

— Tratando do broto? Com certeza, sabe que ela não joga para perder.

— Tenho que me mudar logo. O bebê tem que ter o quarto dele e não quero Janete em risco. Se Marina sumiu deve estar planejando algo. - Antônio guardou as roupas limpas e pegou as sujas para colocar no cesto. Bruno veio no encalço.

A companhia tocou e Cláudia entrou sem cerimônia. Cumprimentou os rapazes e foi direto dar um beijo em Janete.

— Foram apenas duas semanas Cacau. - Janete retribuiu o abraço.

— De saudade! Como está meu afilhado? - soltou o abraço e fez carinho na barriga da amiga.

— Saudável e forte, também mexeu - as duas pularam de alegria.

— Agora podem montar o berço. Só não pode arrumar, você sabe.

— Sim, dona Julita falou. - Janete voltou às panelas e Cláudia ajudou com a salada.

— Seus pais vem também?

— Não. Hoje não. Falei que estava cansada. Chegamos ontem a noite e dormi direto. Apaguei mesmo.

— Normal Nete. E quando o bebê mexeu? - Janete corou. Cláudia já sabia a resposta. - E o que Antônio fez?

— Parou e fez carinho na minha barriga - ela sorriu lembrando. - Tenho que saber o que posso fazer, vou perguntar ao doutor semana que vem.

— Vai dá para fazer a ultrassonografia?

— Sabe que não, Cláudia. Além de estar cedo, não tenho dinheiro. Antônio está estabilizando no emprego. Vou pegar algumas aulas particulares para ajudar. Enfim, tenho que fazer alguma coisa. - Janete passou a mão na barriga. - Também essa casa é pequena demais, o bebê tem que ter um espaço só dele.

— Amor, tem que comprar alguma coisa para o almoço? - Antônio entrou na cozinha e deu um beijo em Janete.

— Acho que só a bebida.

— Tudo bem, vou lá e volto rápido.

— Muito rápido, está quase pronto.

— Ok! - falou Antônio já na porta.

Na rua, o andar confiante dos amigos não passava despercebido. Antônio de bermuda jeans e camiseta que marcava o peito e Bruno, tambem de bermuda mas de regata. Ambos de tênis. Olhavam pela rua e quando se afastaram um pouco mais da casa, suspiraram. O de Antônio foi audível.

— Você vai conseguir Tonho, sei que vai. - Bruno colocou a mão no ombro do amigo.

— Não é isso Bruno. O que me preocupa é...

— Antônio! - uma mulher de bicicleta e short curto parou só seu lado. - Chegou de viagem! Quando chegou?

— Ontem a noite Jaqueline. Como você está? - deram beijos nas bochechas.

— Bem! Bruno. - acenou com a cabeça. Não se tocaram, Antônio estranhou.

— Como vai? - Bruno falou sério.

— Que bom que voltou! Vou passar lá para te visitar.

— Sempre será bem vinda, vou avisar a Janete. - ao ouvir o nome da esposa, Jaqueline murchou. Esquecera que a sua viagem fora pela lua de mel.

— Claro, te aviso quando for - falou sem graça. - tchau Antônio, prazer te ver. Boa tarde Bruno.

Subiu na bicicleta e começou a pedalar rápido. Sumiu das vistas como também da vida dos amigos.

— O que aconteceu aqui?

— Longa história, Tonho. Longa história.

— Pode começar a contar!

Em casa, o almoço estava pronto e a mesa sendo posta. Janete e Cláudia riam do programa dos Trapalhões, as duas tiveram de sentar no sofá de tanto que doía a barriga.

— Sabe Cláudia, eu tenho medo.

— De que? - a expressão séria denunciava o que vinha a seguir.

— De Antônio me deixar sozinha com o bebê. - Cláudia piscou, será que só agora Janete havia notado? - Eu vou passar por tudo de cabeça erguida, amiga. Mas sozinha não vou conseguir. - vieram lágrimas em seus olhos.

— Eu vou te ajudar. Pode contar comigo. - não havia nada que poderia dizer no momento.

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora