Capítulo 27

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Viver de brigas, ver agressões tanto verbais tanto físicas entre os pais era tudo que Antonio não queria para a sua filha. Assim fez o que achou justo, junto suas roupas em duas malas e verificou se sua antiga casa já estava alugada. Como não estava, foi para o trabalho com as malas no carro e deixou um bilhete para Janete ao sair de casa. Não a deixaria assumir as despesas da casa, suas aulas particulares não conseguiriam manter a casa.

Com o sentimento de fracasso chegou ao escritório com os ombros caídos, a secretaria lhe olhou estranhando a sua postura porém era discreta demais para perguntar. Entrou em sua sala e colocou a cabeça nas mãos com os cotovelos apoiados na mesa, ele prometera que a faria feliz mas não sabia que ela descobriria tudo ou alguém demorou para contar.

Pegou o telefone e ligou o computador em sua mesa, o sistema Bios deixava a tela preta com letra verdes, não havia arte. As pastas espalhadas pela mesa para atualizar as informações no banco de dados e uma caneca de café que chegou após ele se sentar. Esperou os toque do telefone.

- Alô - a voz de Bruno foi um acalanto. Ele respirou fundo.

- Ela descobriu todas as traições. Vou para minha antiga casa...

- Caraca bro. O que posso fazer por fazer? - Bruno era um bom amigo, já estava com a carteira na mão para sair do trabalho.

- Nada. Agora nada - pareciam que os ombros pesaram mais. - Se quiser aparecer lá em casa depois. Eu agradeço.

- Estarei lá. Mas foi Cacau não é? Ela quem contou para Nete?

- Tive essa mesma impressão, porém contra fatos não tem argumento. Só não sei porque demorou tanto para contar? - os olhos insistiam em marejar, porém Antonio resistia e segurava as lágrimas onde estavam. O soluço foi involuntário.

- Está sofrendo não é Tonho? - Bruno suspirou do outro lado. Sabia que o amigo não iria chorar em seu trabalho mas aquilo aliviada o peito.

- Claro. Eu gosto de Janete, tenho um respiro enorme por ela. Pela mulher que ela se tornou e a força que mostrou. Acredito que isso seja o suficiente para um casamento...

- É mais que alguns casais tem por aí. Mas Nete não era do babado, você nunca conseguiria levá-la para o outro lado. - A carteira foi deixada de lado e deu espaço para caneta que anotou o que ele deveria fazer depois. Apoiou o telefone no ombro e deixou o bilhete perto do telefone.

- Isso bro! Nunca alterei a voz para ela e você sabe que eu não nunca levantei a mão para uma mulher. As brigas dos nossos vizinhos eram horríveis. - Antonio bateu a mão na mesa. Não podia deixar assim, mas teria que dar tempo a Janete. - Vou trabalhar aqui, depois nos falamos.

Desligou o telefone, voltou a atenção para suas tarefas. A janela anunciava que o dia não teria um sol brilhante, estava morno como a sua vida. Tirou o paletó, dobrou as mãos e começou a digitar. Não queria ver o tempo passar, porém toda vez que olhava no relógio parecia que ele estava parado e seu pensamento em Janete.

Não demorou muito para outra ligação chegar, o telefone tocou tirando de sua tentativa de trabalho. A voz lhe causou arrepios.

- Vamos almoçar juntos. Passo aí e...

- Não estou com cabeça broto.

- Não me interessa, vou passar aí.

Quando Marina desligou olhou para sua casa vazia e desejou que o seu plano desse certo. Antonio seria um bom pai, amava aquela coisinha. Ela sabia disso! Tirando Janete de jogada, eles formariam uma família feliz. É com o seu dinheiro a menina teria toda a educação e mimo possíveis. Também ficaria com ela, quando ele fosse trabalhar. Marina a ensinaria a ser forte e guerreira, e não uma franguinha igual a mãe. Mas por culpa é incompetência de Jorge não estava com o homem que era obssecada do lado.

Ele estava preso, merecia esse tempo sofredor para aprender que a cabeça vem acima do peito porque a razão vem antes do coração. No caso dele a ordem! Quando precisasse dele de novo soltaria com mais um favor em sua conta, não era a toa que ele assumia os serviços pesados e de risco. Jorge lhe devia muito!

....

Antonio sabia que não poderia discutir com a loira, ela almoçaria com ele nem que fosse amarrado na cadeira. Porém Antonio não sabia se devia lhe contar o que aconteceu, melhor seria deixar a poeira abaixar e tomar a melhor decisão para Joana. Passou as mãos pelos cabelos e respirou fundo, poderia ter uma desculpa para Marina mas estava cansando demais para pensar.

Não sabia que seria torturante não ter o corpo de sua esposa ao seu lado na cama, também pensar que todas as suas noites seriam dessa forma fazia o seu coração pesar.

Será que estava amando Janete? Será que não estava admitindo para si mesmo que o amor chegou? Apenas de uma coisa ele tinha certeza, o seu corpo não correspondia ao seu comando ainda mais se tratando de Marina. Parecia ter vontade própria. E quando a cabeça não pensa o corpo padece, ele estava sentindo isso em seu coração. Não sabia que Janete lhe era tão importante assim.

O toque na porta fez com que ele levantasse a cabeça e ve-la ali o deixava mais cabisbaixo. O sorriso dela era tão cínico que ele estava com o nojo. Verificou onde parou com os dados e se deu conta que avançou demais porém sem ter percebido. Teria que revisar todo o trabalho antes de fechar o dia, tarefa que não seria um problema já que não tinha hora para voltar para casa. Pegou o paletó da cadeira e o vestiu antes que o salto começasse a bater no chão com impaciência.

O almoço fora agradável para ela, enquanto falava pelos cotovelos, ele pensava em Janete.

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora