Capítulo 12

95 20 44
                                    

— Fala logo, Bruno! Chego em casa e não encontro Janete e...

— Primeiro onde você estava, bro?

— Vendo a nova casa. Amanhã fecho o negócio. Vou comprar para Janete. - Bruno arqueou uma sombrancelha sabendo que aquela não era a única informação. Esperou em silêncio. - Estava com Jaqueline.

— Essa mulher não presta! Mas não vou falar dela agora. Janete quase perdeu o bebê por sua causa!

Aquela informação espantou Antônio de tal forma que parou de imediato na cadeira branca, encarando o amigo. Bruno não aguentou o e se levantou, ajeitou a blusa social e colocou a mão no bolso da calça parando em frente ao amigo. Respirou fundo e balançou a cabeça.

— Pela sua demora, ela se recusou a ter a bebê em sua ausência. Tanto que o bebê entrou em sofrimento e levaram-na para o centro cirúrgico, tendo que dar-lhe anestesia e fazer um parto cesária sem necessidade. A bebê está bem, te esperando para conhecer o pai desnaturado que é! Mas Janete ainda não acordou da anestesia. Julita está em pânico e Cláudia sumiu...

— Onde está Joana? Não acordou como assim? Cláudia sumiu? - era muita informação para Antônio processar de forma rápida. O que não contava foi o soco que recebeu fazendo-a bater a cabeça na parede.

Um enfermeiro alto segurou Pedro para não terem outro desacordado na família. De nada adiantava a violência naquele momento mas seu sogro não se segurou.

— Onde você estava quando ela mais precisava de você? - gritou Pedro se preparando para um novo soco.

— Eu estava vendo a nossa casa nova. - Antônio se levantou. Se fosse lutar seria de pé. A diferença da altura se fez presente. - Não sabia que...

— Claro que não! Calma seu Pedro. Nesse momento temos que ter calma... - ponderou Bruno.

— Onde está minha filha? - firme Antônio perguntou.

— Na maternidade. - aguardou em silêncio o amigo concluir. - Janete está no quarto, sob efeito da anestesia.

Antônio apenas assentiu e seguiu a direção que Bruno indicou. Pedro preferiu ficar calado, senão sairiam palavras que o fariam ser expulso do hospital. Bruno se sentou, agora era hora de resolver outro assunto. Se despediu de Pedro e saiu do hospital pisando firme. Com os dele ninguém mexia.

....

Antônio chegou no quarto, entrou e passou pela porta do banheiro. Viu a silhueta de sua esposa descansando é um berço vazio, ainda, ao lado da cama. Chegando perto passou a mão com carinho na cabeça de Janete, olhando-a com admiração. Força ela mostrou naquele dia, trazendo ao mundo uma vida, uma criança dos dois. Ele poderia ter feito de tudo mas seria grato a ela pelo o que ela fez. Depositou um beijo em seus cabelos e saiu do quarto, sabendo que voltaria para aquele sofá.

No corredor, perguntou a enfermeira onde ficava o berçário da maternidade e foi informado que era no segundo andar do hospital. Subiu as escadas rápidos, pulando dois degraus de cada vez. Chegou na janela do berçário e parou. Olhando estupefato. O coração disparou e se sentiu gigante diante da pequena bebê.

A única a olhar para ele, de toca e enrolada no pano. O cabelo preto igual a da mãe e a pele rosada é inchada pelo nascimento recente. Linda, como ele imaginou. Um nó na garganta se formou ao olha-la, agora era sua responsabilidade, agora teria que ter...

— Linda, não? - Julita se aproximou de Antônio, percebendo suas pernas bambas.

— Sim. Linda demais! - a voz saiu rouca pelas lágrimas que inundavam os olhos.

— Onde você estava, Antônio? - apesar da pergunta o tom foi suave.

— Vendo a nossa nova casa - ele não cansava de olhar para filha, Joana. A emoção lhe tomou como o medo, não sabia o que fazer mas tentaria fazer o melhor.

— Vocês vão se mudar logo? - Julita continuava. Ao contrário de Pedro acreditava que era melhor não confrontar. Antônio percebeu a abordagem e olhou para a sogra que lhe sorria.

— Pensei que... é o que eu quero, mas não sei como será a recuperação de Janete. - Achou melhor deixar o assunto quieto.

—Eu vou ajudar. Ainda mais com essa princesinha ali. - Julita olhou com amor para a bebê.

Antônio queria pegá-la no colo, abraçar e beijar, mas não sabia o que fazer e se era certo fazer. Resolveu voltar ao quarto de sua esposa, a sogra foi atrás dele. Entraram e olharam Janete dormir por um tempo, uma enfermeira chegou e perguntou se poderia levar Joana para perto da mãe. Mais uma vez, Antônio queria porém não sabia se era o certo a fazer. Tomou a sua decisão e assentiu a enfermeira, que o olhou de cima a baixo e afirmou que se precisasse de algo era só chamar.

Insegurança e medo era o Antônio sentia ao pegar a filha no colo. Julita sorriu ao ver o genro sem jeito e lhe falou para apoiar a cabeça da bebe. O berço de acrílico, forrado com um edredom macio fora destinado a recém-nascida e o pai a colocou ali. Janete abriu os olhos devagar e tentou sentar, mas não sentiu as pernas, respirou fundo e com os apoio dos braços conseguiu.

— Nete! - Antônio a abraçou e se emocionou. Janete ficou parada. - Ela é linda, se parece com você. - Janete apenas o encarou. O olhar gelado da esposa espantou até a sua mãe.

—Onde você estava, Antônio? - o tom fez com ele quisesse sair correndo dali, mas respondeu.

—Depois do trabalho, fui ver a casa que lhe falei, Nete. É grande do jeito que você quer, tem dois quartos e um jardim lindo. Dá para gente colocar um...

—Antônio, não tinha outro dia para você ver a casa? Por que não estava comigo quando mais precisei de você? Não havia outro dia para você ver esta maldita casa? - a voz de Janete ia aumentando a cada pergunta e Antônio se retraindo, nunca vira a esposa daquele jeito. Julita riu, todo mundo achava que ele a enganava, mas nada como a força de uma mulher no pós parto para colocar o homem no eixo.

—Eu... eu... sinto muito. - a única coisa que veio em sua cabeça. Joana se mexeu e acordou, chorou de fome e Antônio foi pega-la.

— Não encoste nela!

— Janete? - ele a olhou.

— Hoje, você não encosta na minha filha! Mãe, pegue-a para mim, por favor. Não sinto minhas pernas. - Julita pegou a bebe e entregou a filha na cama.

— Como assim, não sente as pernas? - Antônio se preocupou. Deveria procurar a doutora de Janete...

— É normal, Antônio. Ainda está sob efeito da anestesia. Amanhã deve passar - Julita acalmou o genro que estava admirando a esposa dar o peito a filha. Como ela fazia parecer fácil e agia com maestria.

— Entendi.

— Você não entende nada, Antônio. Nada! - bufou Janete que o olhou se sentar no sofá. - Hoje eu quero minha mãe comigo. Se não precisei de você na hora do parto, agora que não preciso mesmo. 

— Mas eu vou dormir aqui com você. - ele afirmou.

— Hoje não! Minha mãe ficará comigo. Pode ir. Aproveita a arruma o berço de Joana.

Não adiantava discutir, não sabia quais os argumentos usar com uma Janete irritada daquele jeito. Julita cúmplice balançou a cabeça e mesmo com Janete resistindo deu um beijo em sua testa e na de Joana.

— Amanhã estarei aqui cedo, depois vou trabalhar e volto para te buscar. Espero que essa noite te acalme Nete.

— Não teste a minha paciência, Antônio! - a voz sombria como uma ameaça o fez congelar e sair do quarto. Não viu mais nem Pedro e ou Bruno. Chegou a porta do hospital e encontrou o seu carro. Aquela noite seria longa, mas por incrível que pareça que ele queria ficar com a família dele e não com outra mulher.

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora