Além do Tempo

By GihCross_27

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O amor não escolhe clásse social, personalidade, etnia... não escolhe hora, nem lugar. Ele simplesmente acont... More

1 - O Encontro
2 - O Encontro part. 2
3 - Primeiro dia de aula
4 - Divergências
5 - Confusões de Sentimentos
6 - Sentimento de Mudança
7 - Conflitos
8 - Descobertas
9 - Sentimento de Esperança
10 - Orgulho Ferido
11 - Mesmos Erros de Sempre
12 - Condescendência
13 - Abstinêcia
14 - Amor a Prova de Balas
15 - Oceano
16 - Estou Pronta
17 - Voltando a Realidade e Conhecendo o Perdão
18 - Tudo ou Nada
19 - Decisão Tomada
20 - Minha Dona
21 - Cartas na Mesa
22 - Minha Rainha
23 - Toda Sua
24 - Acertando as Contas
25 - Tudo muda... Tudo passa
26 - Dores e Conquistas
27 - Um Pedido, A Viagem
28 - Noite Feliz
29 - Intolerância
30 - Londres
31 - Curtindo a Vida
32 - Lá Ville Lumière - A Cidade Luz
33 - Au Revoir!
34 - Certezas
35 - Sua Para Sempre!
36 - Lua de Mel e Outras Coisas
37 - Desprezo é a Arma
38 - Ponto de Impacto
39 - Vida que Segue
40 - Fidelidade
41 - Danou-se
42 - Sou Órfã!
43 - Descontração
44 - Noite na Boate e Despedida
45 - Noite das Garotas
46 - O Ano Em Que Ela Não Viveu
47 - Bons Ventos
48 - Promises of Love
50 - Mais Um Ano
51 - Sonhos de Amor
52 - Naxos
53 - Antio Athína
54 - Cult
55 - Memórias
56 - Novos Caminhos
57 - Ciclos
58 - Desencontros
59 - Mary Margaret
60 - Febre
61 - Notícias
62 - Desenterrando
63 -Você é Minha Luz
64 - Acasos não são Acasos - part 1
65 - Acasos Não São Acasos part 2
66 - Visitante
67 - E o Tempo Seguia
68 Inconsequência
69 - Motivos
70 - Lutar
71 - Esperança...?
72 - Provações
73 - Confronto
74 - Destino
75 - Destino parte 2
76 - Reviravolta
77 - Transições
78 - Ansiedades
79 - Sombras do Passado part 1
80 - Sombras do Passado part 2
81 - O Preço da Vida
82 - Milagres do Paraíso
83 - Finaly part 1
84 - Finaly part 2

49 - Recatada e do Lar

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By GihCross_27



Encerrada a etapa em Volta Redonda fomos para Belo Horizonte. Ficamos no bairro da Pampulha e dessa vez em um apart hotel de qualidade. Trabalhávamos como duas loucas e nos divertíamos conhecendo a cidade. A arquitetura de lá nos impressionava. Chegamos a conhecer as famosas grutas de Maquine, Lapinha e Rei do Mato, localizadas em cidades vizinhas.
Em junho fomos para Ipatinga, e pegamos uns dias bem frios. Eu continuava morrendo de saudade do mar, embora sempre encontrássemos alguma cachoeira. Ficávamos indo e vindo entre Ipatinga e Timóteo, e foi a fase mais cansativa do trabalho. Quando esse translado era necessário nós alugávamos um carro.

Uma vez eu voltava de Timóteo sozinha e já perto do hotel vi que Regina estava andando na rua. Cheguei com o carro mais para perto do meio fio, abaixei o vidro e disse:

- Hum, mas que princesa, hein? Quer uma carona, linda? – inclinei a cabeça para vê-la melhor – Tá tarde pra ficar andando sozinha por aí.

Ela estava com um vestido de comprimento médio, casaco e botas de salto. Sorriu, continuou caminhando e sem olhar para mim respondeu:

- Não, obrigada. Eu sou uma mulher casada e nem um pouco desfrutável. – fingia estar séria.

- Casada, é? E quem é a criatura que deixa uma gata dessas sozinha numa sexta, à essa hora? Quase às sete da noite? – olhei para o relógio.

- Ela está trabalhando em uma cidade vizinha daqui. – continuou com o jogo.

- E você aí sozinha?? Ah não! Entra no carro, vai? Te dou uma carona, a gente sai pra bater um papo, comer alguma coisa e depois eu te deixo em casa ou onde você quiser. Numa boa!

Ela parou, pôs as mãos na cintura e disse:

- Você é muito confiante, viu? Além de tudo, daqui a pouco vai começar a atrapalhar o trânsito!

- Atrapalhar o trânsito? Nessa rua aqui nem tá passando carro praticamente...

- Hum! – voltou a caminhar – Segue seu rumo e me deixe, porque sou mulher muito séria para ficar de conversa fiada com gente estranha.

- Olha, eu nem conheço muito essa cidade, pra falar a verdade, e tô meio perdida. Vim de Timóteo agora. Por que você não entra, a gente bate um papo, como eu já falei, e você me ajuda a me localizar melhor na cidade?

Ela riu e respondeu:

- Você tem uma lábia tão fraca... – balançou a cabeça negativamente.

- Ah, é que eu sou nova nisso! Além do mais sou uma pessoa muito recatada e do lar, não costumo chegar assim nas mulheres. – olhei-a de cima a baixo – Só em casos muitíssimo especiais!

- Recatada?? – riu – Do lar? Sei...

- Entra, vai gatinha? Não acredito que vai se recusar a ajudar uma mulher, peão de obra, perdida na cidade. E tá tarde pra uma gata andar sozinha por aí. Vem?

Ela parou, cruzou os braços e olhou para mim seriamente.

- Tudo bem, eu vou com você. Mas sem gracinhas, ouviu?

- Claro! – sorri e me estiquei para abrir a porta do carro – Entra aí...

Ela contornou o carro e entrou. Colocou o cinto.

- Tem algum barzinho maneiro que você gosta? – olhei para ela.

- Hum... Podemos ir no Bar do Cupim que é aqui perto.

Estávamos sentadas em uma mesa e bebendo suco. Havia muita gente no bar, a maioria bebendo muito e comendo o famoso petisco de cupim, especialidade do lugar. Regina e eu continuamos o nosso joguinho.

- Quer dizer que você veio de Timóteo hoje? – bebeu um gole de suco.

- É. Teve muita ralação lá hoje, foi brabo. Mas pelo menos consegui tomar um banho antes de vir embora e cheguei aqui até cedo.

- Não está com frio? – olhou para meus braços

- Nem um pouco. – respondi sorrindo – Eu naturalmente sou muito quente.

Eu usava calça jeans, botas e uma blusa azul de algodão justa no corpo e de alças.

- Ah, é? – sorriu – Sorte da sua esposa.

- Eu tô sozinha...

- E essa aliança no dedo? – apontou para minha mão esquerda.

- Tudo bem! – sorri e passei a mão nos cabelos – Mas aqui eu tô solteira, sem dona, mas muito bem acompanhada.

- Aposto que você é do tipo bem cafajeste... – falava fazendo charme.

- Não... Apesar de tudo eu sou uma mulher bem na minha.

- Sei...

- Mas e então, o que você faz, linda? – olhava fixamente para ela.

- Eu trabalho com obras também, assim como você. – mexia o suco com o canudo enquanto me encarava sorrindo.

- E vai sempre gata assim pro trabalho?

Ela sorriu e abaixou a cabeça. Olhou para mim em seguida.

- Hoje eu saí de lá umas seis horas. Tomei um banho e saí para ir à padaria. Daí fui abordada por você.

- E vai comprar pão assim, toda gata? Nossa, o mercadinho deve parar.

- Eu gosto de me vestir bem. – respondeu sensualmente.

- Bom... Mas uma mulher como você, naturalmente elegante, é linda de qualquer maneira. Bem arrumada ou simples. – meu olhar se alternava entre seus lábios e olhos. - Me chamou a atenção sem fazer o menor esforço pra isso. – continuava flertando com ela.

- Aposto que sempre diz essas coisas para uma mulher.

- Não! Eu só falo o que realmente penso.

- E no que pensa agora? – reclinou-se sobre a mesa e me encarou fixamente.

- Em ficar a sós com você o mais rápido possível.

                    ☆♤☆

- Oh! Emmy, no... somebody can see us here...  (Oh, Emmy, não... alguém pode nos ver aqui…) – tentava se esquivar de mim sorrindo.

- Ah linda, relaxa, esse carro tem todos os vidros filmados e ninguém vai ver nada. Vem aqui, minha gostosa...

Estávamos no banco de trás do carro e eu tentava tirar sua roupa. Já estava sem blusa e calças arriadas. Ela estava sem casaco e com alguns dos botões do vestido abertos. Meti a mão dentro de sua calcinha e puxava a peça para baixo. A outra mão lutava para abrir mais botões. Minha boca se alternava entre pescoço, lábios e orelhas.

- I told you I was married... (Eu te disse que eu era casado …) – apalpava meus seios e sorria.

- Eu não sou ciumenta...

Tirei sua calcinha e meti a cabeça entre suas pernas e debaixo do vestido, enquanto que as mãos vagavam por toda parte de seu corpo nu que encontrassem. Ela abriu bem as pernas e espalmou as mãos nos vidros das laterais do carro, gemendo alto.
Levei-a à beira do orgasmo, mas interrompi várias vezes para deixá-la louca.

- Oh, Emmy, please ... let me cum my love … (Oh, Emmy, por favor ... me deixe gozar, amor …)

Sorri e comecei a beijar, lamber e morder seus seios enquanto introduzia dois dedos em sua entrada completamente molhada. Meti vagarosamente e olhei em seus olhos.
- Fuck me fast, love! Faster! (Me fode mais rápido, amor! Mais rápido!) -
Pedia entredentes, olhando-me com intensidade e movendo o quadril de encontro aos meus dedos e assim o fiz. Aumentei a velocidade e estocava com força, do jeito que ela gostava.
Não demorou muito e ela gozou, gemendo bastante e me arranhando o braço.
Continuei beijando seu corpo e fazendo cócegas. Ela sorria. Respirou fundo algumas vezes e então passou a mão em meus cabelos.

- Now, I wan’t you. (Agora, eu quero você!)

- Fique à vontade, minha gostosa.

Sentei a seu lado e ela então sentou no meu colo. Começou a me beijar avidamente, enquanto suas mãos me percorriam inteira, até que uma delas encontrou destino entre minhas pernas.

- Isso amor… assim! - mordi seu pescoço.

Ela percorreu meu corpo com beijos até chegar com sua boca em minha abertura. Deixou-me completamente louca com sua língua e dedos me excitando de todas as maneiras, me levando às estrelas.

                   ☆♤☆

Chegamos no hotel e Regina ainda estava toda vermelha. Entramos no quarto e ela correu para o banheiro para lavar o rosto.

- Mas amor, tá com vergonha até agora? – encostei no batente da porta.

- Claro! – ensaboou-se - Foi tudo tão gostoso, desde o nosso jogo até as loucuras que fizemos no carro. Tinha que aparecer aquele policial e bater no vidro... – molhou o rosto.

- Mas e daí? Deu galho nenhum e a gente já tava até vestida... – cruzei os braços

- Vestidas de qualquer maneira! – pegou a toalha - Ele percebeu que nós... Só a cara de tarado que fez... – tampou o rosto – Ai que vergonha!! E eu que nunca fui mulher de fazer essas coisas dentro de carro!

Ri e caminhei até ela. Abracei-a por trás e beijei seu rosto.

- Esquece isso. – cheirei seu pescoço – Escuta... Por que a gente não toma um banho quentinho e continua na cama o que começou dentro do carro?

- Meu Deus, Emmy, você é tarada, sabia? – olhou para mim pelo espelho e sorriu.

Virei-a de frente para mim e respondi:

- Sou completamente tarada. Por você, somente por você! – e nos beijamos carinhosamente.

            ☆☆☆♤☆☆☆

No final de agosto fomos para Vitória e finalmente me senti aliviada. Nosso hotel era perto da praia e só o fato de ver o mar já era uma grande coisa.
Voltamos para o Rio somente no final de setembro, e foi aí que constatamos o óbvio: nossas coisas estavam uma bagunça. Arthur inventou um trabalho em São Paulo e Regina foi sozinha, ficando lá por um mês. Eu fiquei no Rio resolvendo as trapalhadas que Anderson fez no Recreio. Trapalhadas que custaram seu emprego. Nessa época, Regina e eu nos víamos somente nos finais de semana.
Em novembro Júlio arrumou um trabalho em Guaratinguetá, que se emendou com outro em Pindamonhangaba. Quando voltamos para casa, era 12 de dezembro.
Nossos contatos com as amizades e vovó Granny se limitavam basicamente a e-mails e telefonemas. Marcamos de passar o natal com Paulinha, Ruth, Nara e Sandra em Cabo Frio, na casa de veraneio de Nara.
Rose estava muito bem nos negócios e feliz com o casamento, mas Murilinho a afastou bastante de nós. Seus correios, quando existiam, se limitavam a duas frases e nada mais. Lilith estava firme e forte na emissora, e havia passado um bom período na Bahia, por conta de uma novela. Ruby até que estava tendo aproveitamento no seu curso, mas continuava na farra.

Um belo dia de sábado, estávamos dormindo abraçadas quando o telefone nos desperta. Regina dormia com a cabeça no meu ombro e as pernas enroscadas nas minhas.

"Que diabo de telefone!"

Abri os olhos e vi que eram 6:30h. Ela se agarrou mais em mim.

- Amor, deixa eu atender esse telefone. – beijei seu rosto e estiquei o braço pegando o aparelho – Alô? – minha voz era sonolenta.

- Swan! Acordei você? – Júlio perguntou.

- Ah Júlio, imagina... – disse debochadamente.

"Acordada a uma hora dessas depois de ter passado a madrugada fazendo amor? Sem chance!"

- Desculpe, mas temos um problema e você vai ter que voltar pra Pinda hoje mesmo.

- O que foi? – perguntei surpresa – Na verdade nem sei em que cidade eu tô agora! – coloquei a mão na cabeça.

Ele riu e respondeu:

- Você está no Rio, menina, mas terá de voltar pra Pindamonhangaba hoje. É... Aquele empreendimento... Deu um probleminha.

- O que foi afinal?

- Parece que morreu alguém lá na obra de ontem pra hoje. Um bêbado!

- UÉ??? – perguntei chocada – Meu Deus! Lamento, mas um bêbado morre no canteiro e EU tenho que ir pra lá? Fazer o que??

- Emma,você é a responsável técnica pela obra. Tem que ir lá querendo ou não. É a lei!

- Quem morreu? – Regina acordou assustada e ficou me olhando.

- Não é nada demais, Swan. A polícia vai pegar seu depoimento e acabou-se.

- Depoimento de que? Quê que eu sei desse caso?

- Depoimento? Morte? Emmy, quem está falando com você?

- Espera um pouco. – falei com Júlio e tampei a boca do telefone – Júlio disse que um bêbado morreu na obra lá em Pinda e eu vou ter que ir pra lá depor, minha linda.

- Ah não! Passa isso! – pegou o telefone da minha mão – Júlio, bom dia, ela não irá assim perdida. Precisa de advogado e vocês têm que providenciar isso para ela. – pausou – Claro que sim, senão EU não vou deixar ela ir! 
Fazia cara de zangada. Achei engraçadinho e beijei seu rosto. Júlio disse mais algumas coisas e ela respondeu:

- Estamos perto do natal e nossas coisas estão uma bagunça, e você ainda vem com essa? Olha, ela só vai com advogado! Eu conheço uma pessoa, mas vocês pagarão pelo trabalho dela. - pausou – Espero. Tchau.- pôs o telefone no gancho.

- E aí minha, defensora, o que deu isso tudo? – beijei sua testa.

- Ele aceitou pagar o advogado e vai nos dar folga entre natal e ano novo. – pegou o telefone de novo.

- Uau! Que mulher de raça essa minha! – ri - Que vai fazer?

- Ligar para Sandra. Vou pedir para ela ir com você.

- Ai meu Deus, e mais essa! – me espreguicei e sentei na cama – Vou tomar um banho e me preparar pra voltar pra Pinda. – fui para o banheiro.

"Sandra vai adorar ser acordada em pleno sábado à uma hora dessas..."
Resolvido os problemas, conseguimos três semanas de sossego no Rio. Passamos o natal em Cabo Frio com Sandra, Nara, Paulinha e Ruth e foi muito caloroso e divertido. No dia 25 fizemos um almoço vespertino com o que sobrou da ceia e ficamos sentadas na mesa batendo papo por um longo tempo.

- Ai gente, vocês não sabem. Há dois dias nasceu meu irmãozinho mais novo. E olha que a minha mãe tem 51 anos! Foi um parto super tranquilo, segundo eu soube, e o menino é um amor! – Paulinha disse.

- Nossa, sua mãe é uma mulher saudável! Ter filho com a idade dela não é pra qualquer uma! – comentei.

- Ah, isso porque você não conheceu minha avó. Quando o filho caçula nasceu ela estava com 85 anos! – disse Ruth.

- Ai meu Deus, Ruth.. – Sandra riu – Você e suas estórias.

- Mas em relação a seu irmão, você foi vê-lo quando? – Regina perguntou.

Paulinha abaixou a cabeça entristecida e respondeu:

- Eu não fui. Meus pais não falam comigo desde que descobriram sobre minha sexualidade. Por isso morava no alojamento. – respirou fundo – Foi uma de minhas de irmãs que me disse.

- Você tem muitos irmãos? – Sandra perguntou.

- Agora 5

- Gente! Que disposição, hein? - Nara comentou rindo – Mas não fique triste meu amor, ou pelo menos não pense nisso. Eu sou rompida com a família quase toda. Só mamãe fala comigo. – sorriu – E mesmo assim sem que meu pai saiba.

- Minha família sempre foi toda porra louca. Meu pai é um pintor maluco que vive em Veneza, mamãe mora em Recife com um garotão 20 anos mais novo e meus irmãos estão por aí. Ninguém me condena ou se mete na minha vida, e quando a gente se encontra é só alegria. – disse Sandra.

- Minha família não sabe de mim. Só meu ex marido, que esconde isso a sete chaves, e minhas filhas. Elas... Bem, não temos um relacionamento tranquilo não. Mas não sei se o fato de eu ser lésbica afeta isso em alguma coisa; acho que são as coisas da adolescência. Sei lá! Em Araras com certeza ninguém sabe.

- Meus pais me renegaram também, mas não o resto da família. Pelo menos as pessoas mais interessantes não. – Regina disse – O mal que nos façam não deve merecer o nosso sacrifício, mesmo que seja difícil.

- Bem, meus pais foram mais práticos e não esperaram eu me descobrir lésbica pra me renegar; fizeram isso logo no berço! Mas quando vovó era viva, e soube de meu amor por uma morena, aceitou e respeitou. Bem ou mal sempre esteve do meu lado.

Todas ficaram em silêncio. Eu comentei isso sem problemas, porém percebi que elas ficaram com "pena" de mim.

- Vamos mudar de assunto, que esse papo de família é complicação pura! – Nara olhou para Regina e eu – Conta aí gente, vocês passaram o ano todo fazendo jus ao ditado de que pedra que rola não cria limo. Deve ter acontecido muita coisa interessante. Fala aí pra gente!

Regina e eu nos entreolhamos e rimos.

- É, teve muita história sim. – respondi e pensei em alguma coisa para contar – A primeira doidera aconteceu em Volta Redonda. Regina e eu ficamos amigas de uma das camareiras do hotel, que já era uma senhora e se chama Cleide. Ela é muito pobre, e até lavava nossa roupa por fora pra defender um troco.

- Apesar da idade ela tinha uma filha de 14 anos que estava para fazer aniversário. Então nós decidimos ajudar e providenciamos missa e festa para a menina, que se chama Carmem Lucia. Ela quis que tudo fosse no próprio dia do aniversário, que caiu em uma sexta.

- Regina cuidou de tudo por telefone, e dona Cleide acertou pessoalmente com as pessoas envolvidas. A madrinha da Carmem se chama Morena, e ficou acertado que no dia do aniversário essa mulher levaria ela de carro pra missa e pra festa. – ri – Aconteceu que no dia, Regina e eu ficamos pegadas no trabalho e chegamos na missa super atrasadas.

- Nós descemos do carro correndo e na porta da igreja havia uma senhora que quando nos viu ficou fazendo um monte de gestos lá para dentro.

- Aí nós subimos as escadas e essa coroa reapareceu e disse me olhando de cara feia: "Morena, isso é hora de trazer a menina?". E aí pegou Regina pelo braço e disse: "Vem, minha filha!". A igreja tava cheia de gente, já tocavam até uma música de entrada da debutante e Regina estava tão abestalhada que mexia a boca e não saía som.

- Ela me empurrava para a frente e ficava dizendo baixinho: "Vai, vai, menina!". E eu recuava e ela me empurrava de novo, até que fiquei paralisada, morta de vergonha e vermelha como nem sei dizer. Sem contar que nessas horas não consigo falar português! O padre me olhava e fazia sinal discretamente me chamando para o altar.

- As pessoas olhavam intrigadas e ouvi alguém comentando: "Carmem tá tão diferente! Não é possível! Até mais clara ficou!"

- Mas e aí?? – Nara ria – Você não fez nada pra ajudar ela, mulher? – me bateu no braço.

- Eu fui falar com a coroa e ela me deu uns tapas no braço, reclamando que eu tava atrapalhando a cerimônia e deixando a menina sem graça. Então puxei Regina pela mão e falei que aquela não era a aniversariante. E aí nesse exato momento chegaram Carmem, dona Cleide e Morena. A coroa então mandou parar a música e botou as três pra fora da igreja. Depois mandou que entrassem de novo e aí a coisa correu normal.

- Mas por que ela pensou que Regina era a aniversariante? Elas deveriam ser bem diferentes, não? – Paulinha perguntou rindo.

- Completamente! Carmem é gordinha, alta e mulata. E põe mulata nisso! – respondi.

- E a tal Morena? – perguntou Sandra.

- Branca como eu e da minha altura. –  respondi rindo. - É que a coroa achou que Morena não fosse o nome da mulher, mas o apelido. E achou que a minha linda tava com carinha de debutante. Mas também vocês tinham que ver! – olhei para Regina – Tava lindinha de vestido longuete vermelho...

Ela sorriu e me beijou na boca.

- E quem era essa coroa afinal?? – Nara perguntou intrigada.

- Até hoje a gente não sabe... – respondi sorrindo.

- Ai meu Deus, que coisa. – Ruth ria – Aconteceu igual comigo em Araras. No dia do meu casamento o padre...

- Ai não, Ruth. Pára. – Paulinha ralhou – Conta mais gente, o que mais aconteceu?

- Teve o fuzuê dos besouros em Timóteo. – falei rindo

- Ai não, Emmy, essa não! – tampou o rosto com as mãos e riu.

- Ai, mas é agora que eu quero saber mesmo! – Sandra disse rindo – Conta! Conta! Conta! – batia palmas.

- Pode, linda? – olhei para ela.

- Ah, conta!!! – Paulinha fez cara de choro.

- Está bem! – Regina passou as mãos nos cabelos.

- Um dia em Timóteo a gente ficou até tarde no canteiro porque o caminhão Munk que eu pedi chegou atrasadão. Já eram umas sete e pouco da noite e a gente lá. Então o motorista, que era péssimo, quebrou o galho de uma árvore com o braço do Munk. Um pedaço de um metro e meio, por aí. – tentei mostrar o tamanho com os braços

- Aí a árvore estava podre, eu acho, porque a madeira era oca, e saiu de lá de dentro uma nuvem com uns 200 besouros do tamanho dos pés dela. – apontou para mim.

- Sério??? – Nara arregalou os olhos.

- Onde se ouviu 200 leia-se uns 30, e do tamanho do meu dedo indicador. – mostrei o dedo.

- Nossa que diferença! – Paulinha riu e olhou para Regina – Você tem andado conversando muito com Ruth!

- Ei!! – Ruth protestou.

- Que seja! Eram besouros medonhos e eu fiquei sem chão. Uns soldadores estavam trabalhando e os bichos voavam como loucos por conta da luz que se forma durante a soldagem. Tinha que ouvir o zumbido deles! Era de arrepiar!

- Regina pulava e gritava como se estivesse louca. Quando ouvi os primeiros gritos me pareceu até que alguém matava um porco! – levei um tapa no braço – Ai!

- Eu fiquei desesperada!

- Os soldadores não conseguiam mais trabalhar porque os bichos vinham em cima mesmo! Davam cada rasante! E Regina muito menos conseguia trabalhar.

- E você não teve medo, Emma?

- Ah, qual é Sandra? Se liga! Favelada, acostumada com traficante, PM e tiro comendo solto no morro por todo lado vou ter medo de besouro? É ruim, hein? – respondi revoltada – O que eu fiz foi pegar um tubo de 5m que tava de bobeira lá e amarrar uma lâmpada de 200W na ponta. Chamei dois caras e a gente fincou o tubo no chão, na vertical, e aí quando acendeu a luz a besourada ficou girando na órbita da lâmpada. Regina podia ficar em paz, os caras podiam voltar a soldar e o problema tava resolvido.

- Mas creio que depois dessa, a sua moral ficou abalada nessa obra... – Ruth comentou olhando para Regina.

- Na verdade, ninguém nunca nem deu bola para o meu escândalo!

- Isso porque houve um outro pior! – acrescentei rindo – O maior machão da obra vinha com três sacos de cimento nas costas e quando viu a besourada jogou tudo longe e deu tanto grito!! E cada grito mais fino que os dela! Pra azar do homem um besouro ainda pousou e se enganchou não sei como na camisa dele e aí acabou o mundo! O cara se espanava todo e fazia uns movimentos estranhos... igual a Carla Perez dançando o tchan. – tentei imitar.

- E então só se falava NESSE mico e não no meu. O pobre ganhou até o apelido de Globeleza.

- E essa maluquinha foi parar no alto da estrutura da ponte rolante e depois não conseguia mais descer! E olha, eram quase 10m de altura! – beijei sua cabeça – Me deu trabalho pra resgatar minha gata!

- Nem sei como subi lá, mas quando vi já estava no alto! – Regina ria.

- Quando eu era criança, lá em Araras, papai fez um balanço pra gente no galho da árvore e eu fui com as primas brincar nele. O diacho não aguentou o nosso peso e quebrou. Saíram só dois besouros, mas com cada couraça que parecia de aço. Um deles até derrubou o cavalo no chão e o outro virou o carro de papai. Aí o velho me pôs de castigo achando que fosse eu a culpada.

- Meu Deus, criatura!! – Sandra ria com a mão na boca – Que besouro é esse que derruba cavalo e vira carro???

- E uma criança fazendo isso também, Deus do céu! – comentei

- Eu era bem alimentada, tá pensando o que? – Ruth mostrou o bíceps magricela.

- Você e os besouros... – Paulinha disse balançando a cabeça negativamente – Mas aí, que mais? – olhou para Regina.

- Ah! A nossa chegada em Ipatinga. Foi hilária! – olhou para mim – Lembra, amor?

- Se lembro!

- É Minas também, não é?

- É, Nara. – ri – A gente saiu da Rodoviária Novo Rio direto pra lá. Mas o ônibus era Rio – Timóteo e eu nunca tinha ido naquela cidade antes.

- Eu já, mas estava de noite e era difícil reconhecer.

- E o motorista parava nos lugares, mas não dizia nada e a gente tinha que adivinhar. Então quando já estávamos em Minas, há horas, eu comecei a perguntar: "É aqui? É aqui?"

- E o homem se limitava a balançar a cabeça negando. – imitou o motorista.

- Então lá pelas tantas eu parei de perguntar. Daí por volta de umas cinco da manhã a gente pára em uma rodoviária sem nome e o cara diz que vai ficar parado lá por 20 minutos.

- Queríamos usar o banheiro e então eu avisei a ele que nós iríamos descer. Fomos no banheiro e havia uma roleta na porta. O detalhe é que a roleta era trancada com cadeado e a servente tornou a trancá-la depois que a gente entrou.

- Aí eu perguntei: "Pra que isso se a gente já vai sair?" E ela disse que num instante abria e fechava aquele maldito cadeado.

- Então entramos nas cabines e de repente ouvi um ronco de motor e gritei apavorada: "Emmy, o ônibus está indo embora!!!!"

- E eu respondi: "Não é possível!! Não faz nem cinco minutos que estamos aqui!!"

- Mas eu saí de lá de dentro assim mesmo e cheguei perto da roleta. Vi o ônibus partindo e me desesperei. A servente se apavorou e não conseguia abrir o cadeado e nem eu conseguia pular a roleta.

- E isso porque ela viajou toda arrumadinha e de salto alto! – comentei rindo.

- Emma perdeu a paciência e tomou a chave das mãos da mulher e disse: "Deixa que eu abro esse diabo!"

- Emma perdendo a paciência?? Que coisa diferente!! – Sandra disse debochada. Fiz careta para ela.
- Eu sei que uma vez aberta a roleta saímos correndo rua afora e eu nem tinha fechado as calças direito. Corria segurando a roupa pela cintura e pensando que aquilo não podia estar acontecendo.

- E ainda começou a chover! Lembra? – olhou para mim.

- Ô!!- revirei os olhos.

- Nós corríamos e o ônibus se distanciava cada vez mais. Eu gritava, mas o motorista não ouvia.

- Aí eu disse: "Regina, vamos gritar o nome da empresa que pode dar certo!" E ela então parou na rua encheu o peito de ar e deu um berro ensurdecedor!

- Mil e um!!!!!!!!!!!!!!!!!!! – repetiu os gestos

- E o motorista parou na mesma hora!

- Não brinca?? – Paulinha perguntou.

- Foi sim, menina! Aí nós corremos até o ônibus e o motorista abriu a porta. Emma estava possessa e subiu os degraus furiosa pegando o homem pela camisa. Ele arregalou os olhos e ela disse: "Eu não falei que a gente ia descer em Ipatinga?? E ela não te disse que a gente ia ao banheiro?? Por que se mandou e deixou a gente lá?? Nossas malas estão aqui, você não sabe??"

- Ele então se desvencilhou de mim todo humildezinho e disse: "Mas, aqui é Ipatinga!"

- Ah, meu Deus e o canalha nem pra falar! Ele queria roubar as malas de vocês, é isso? – Nara perguntou intrigada.

- Sei lá! Só sei que ele abriu o maleiro do ônibus e nós pegamos o que era nosso. Voltamos pra rodoviária debaixo de chuva e empurrando aquelas malas pesadas. Sorte que Regina sugeriu da gente comprar mala com rodinha.

- Pegamos um táxi, então, e fomos para o hotel. Quando chegamos lá o recepcionista pareceu ter visto dois monstros. Senti que ele se apavorou conosco.

- Nem fez aquela pergunta clássica: "Fizeram boa viagem?"

- Mas por que? – Sandra perguntou.

- Porque nós estávamos ensopadas, sujas, descabeladas e um dos meus sapatos estava sem salto. Este se perdeu pelas ruas de Ipatinga durante minha corrida.

- E eu, naquela confusão toda, esqueci de fechar as calças e cheguei lá com as coisas abertas!

Elas ficaram rindo de nós e Ruth começou a falar:

- Ai, meninas vocês estão me fazendo passar por um verdadeiro túnel do tempo! Quando eu era adolescente e fui passar as férias em Santos, o motorista deu uma paradinha em Itanhaém e eu fui no banheiro. Tinha comido um virado a paulista que não caiu bem e aí sabe como é. Só sei que o cara me esqueceu e eu tive de sair correndo atrás do ônibus. Mas o motorista ouvia mal e não percebeu meus gritos. Quando fui alcançar o ônibus ele estava parando numa rodoviária e eu olhei pra cima e li "Bem vindos a Santos"!

- Que é isso, Ruth?? Entre Itanhaém e Santos são quase 60km!!! – Nara disse dando um tapa na perna da outra.

- Ah, naquela época eu tava sarada!

- Minha nossa... – Paulinha tapou o rosto.

- Em Belo Horizonte, Regina foi a sensação da obra. Era praticamente todo mundo apaixonado por ela. Era um tal caixa de bombom, bicho de pelúcia, flores... Tudo isso chegando no hotel quase que diariamente.

- Ah, mas na obra eles levavam o trabalho a sério! – segurou minha mão.

- É, mas fora dela me tiravam do sério! – olhei para as meninas – Sabia que um mestre de obras teve a audácia de ir fazer serenata na nossa janela? O desgraçado foi no hotel, descobriu o número do quarto e se posicionou pra cantar pra ela.

- E você, Ems? – Sandra já perguntou rindo.

- Encheu a lata de lixo de xixi e derramou no meu apaixonado! Nem sabia que ela era capaz de produzir tanto patrimônio líquido assim! – ela riu e me deu um tapinha no braço.

- E aí??? – Paulinha perguntou rindo.

- E aí que eu dei queixa na recepção do hotel, ameacei chamar a polícia e só não fui me socar com o cara lá fora porque ela não deixou. – apontei para minha morena.

- Depois disso acho que diminuiu bastante o assédio. Eles perceberam que eu tinha dona. – deu-me um selinho e sorriu – E passaram a fazer uns comentariozinhos desagradáveis, que Emmy resolveu ameaçando alguns de demissão.

- Nossa que mulher braba, sô!!! – Sandra disse me provocando.

- Vem mexer com o que é meu?

- Em Vitória apareceu um profeta na obra. Era um homem barbado que vestia uma camisola branca. Seus cabelos eram longos e ele ainda portava um cajado. Vivia por lá e cá pregando o fim do mundo e falando de um evangelho que só ele conhecia.

- Mas Regina, como esse maluco conseguia entrar lá?

- Eu não sei, Ruth. A gente fazia de tudo, mas ele parecia lagartixa. Escalava qualquer obstáculo e entrava mesmo. O pessoal da obra ficava louco com ele.

- E você, Swan? Não perdeu a paciência, não? – Nara ficou me provocando.

- Olha ela me provocando, amor! – olhei para Regina fazendo beicinho.

- Pare de implicar com ela, menina boba! – Regina fingiu estar zangada – Emma tinha pena do pobre. E eu tentava conversar com ele, mas o profeta parecia viver em outro mundo!

- Aí eu me enchi e um dia peguei um carrinho de mão cheio de tijolo e disse: "Toma aqui profeta, carrega!". E ele carregou.

- Ela ainda o colocou para ajudar a mexer massa com o cajado! – ria divertida.

- E aí? Aconteceu o que? – Paulinha perguntou rindo

- Nunca mais apareceu! – ri – Ele era doido, mas não era burro. Não queria saber de trabalho não!

- Ai meu Deus! Como você foi se casar com uma maluca dessas? – Sandra perguntou a Regina.

Ela olhou para mim e puxou-me para um beijo.

- Eu não gosto de nada bem comportado... – respondeu sensualmente.

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