10.

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       Encaro Jasmine enquanto a mesma rodopia pelo quarto usando um vestido estampado com florzinhas vermelhas. Ela está gargalhando sozinha, o cabelo esbarrando no pescoço. Kilian está fazendo a mesma coisa que eu: sorrindo enquanto a observa. Qualquer um diria que ele a ama. Está gravado neste olhar que mistura admiração e paixão. Os olhos brilham enquanto ele a segue pelo quarto. Dou um tapinha no braço dele e aponto para Jazz, como uma sugestão para que ele a acompanhe, mas ele apenas sorri e dá de ombros. Ela está feliz.

       Eu me juntei aos dois depois que Laia foi convocada por Thryne para liderar uma equipe até a Floresta e se certificar de que ninguém estava a espreita. Arin precisou ir e ajudar Donna, que eu ainda não vi mas que sei que está querendo falar comigo, com a chegada de novos suprimentos e Oscar foi com ele. Eu me ofereci para ajudar, mas eles disseram que eu deveria descansar. Descansar! Como se eu já não tivesse feito isso por quatro dias?! De qualquer jeito, dei de ombros e concordei. E foi melhor porque esbarrei em Jazz levando roupas limpas para as crianças, e ela me levou até Kilian.

       Ele me tirou do chão em um abraço e eu estava tão feliz por vê-lo. Da última vez, ele estava acabado, sangue cobrindo o rosto e ombros encurvados, há minutos de ser açoitado trinta vezes e ter as costas dilaceradas. Agora ele estava ali. Bochechas coradas e cabelo ruivo da cor do fogo. Bem. A salvo e de pé, me agradecendo por ter salvado sua vida quando não fiz grandes coisas. Ali foi o início de tudo. Foi o salto que eu precisava dar. E jamais me arrependerei.

      Jazz é incrivelmente boas com as crianças e descobri que ela reservava um pouco de seu tempo para ensina-los a ler e a escrever. Nós distribuímos as roupas limpas, enquanto ela contava uma história. Depois, viemos para minha tenda passar o resto do tempo, esperando dar a hora do jantar. Meu estômago está doido para o momento chegar.

— Tem certeza que não quer um vestido emprestado? — Jazz para de rodopiar e me encara com as bochechas rosadas.

— Não. Acho que já usei vestidos demais. — Respondo e ela balança a cabeça confirmando.

     Ela me ofereceu um de seus vestidos, mas eu recusei gentilmente. Não quero usar um vestido. Estava usando um vestido até esta manhã! Pretendo passar um longo tempo sem vestir um. Gostei bastante de usar calças, é prático e não me preocupo quando o vento bate. Além do que, não estou tentando impressionar ninguém, não é? Não é?!

— Tuuudo bem. — Ela se vira e puxa da cesta, que carregava as roupas limpas, uma blusa rose simples com um decote em coração e mangas caídas. — Pelo menos use algo diferente. É um jantar diferente.

      Eu levanto da cama e vou até ela, pegando a blusa com minhas mãos. O tecido de algodão é fofinho e não custa nada usá-la para que Jazz fique feliz. Deixo os dois ali e vou até o banheiro para trocar de blusa. Solto um suspiro de dor abafado enquanto passo a blusa por cima da minha cabeça. As vezes, esqueço do corte em meu braço — como agora. Ainda dói movimenta-lo de forma brusca e rápida, mas estou ficando melhor. Passo a blusa rosinha por minha cabeça. O tecido gruda no meu corpo, marcando minha cintura sem apertar. As mangas caem em meus braços e cobre os pontos do corte. Deixa meus ombros descobertos. É... estupidamente familiar e parecido com os vestidos que eu usava.

      Meu peito se aperta e tenho que comprimir os lábios para evitar que as lágrimas caiam. Ainda é tão recente. A sensação de que tudo é estranho, que estou sozinha e com medo não vai embora. Ainda quero correr e me esconder nos lençóis, quero que minha mãe diga que tudo vai ficar bem. Quero que Theo... Theo. O nome causa um gosto amargo em minha boca. Estou passando tempo demais com Arin. Ele está borrando e apagando devagar o nome de Theo dos meus pensamentos, mas o resgato. Lembro de como ele me envolveu e segurou firme meu corpo enquanto eu chorava desesperadamente por conta da explosão que eu mesma causei. Aquilo parecia certo. Mas Arin embalando meu corpo quando eu estava com febre também pareceu.

Espinhos negrosWhere stories live. Discover now