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      Hyacinth.    

     Escuto levemente a respiração de Arin bem próxima ao meu ouvido. Minha cabeça pesa no momento em que abro os olhos. De novo. É como um filme repetitivo. Sobreviva a um dia, acorde no outro. Só que hoje, estou pior que nos anteriores. Minha boca está seca, completamente seca e meu estômago se revira em minha barriga. Mal sinto meu corpo, apenas dor. E exaustão. Como vou prosseguir assim?

       Não estou deitada no chão. Estou deitada em Arin. Tenho ombros pequenos, então o peito de Arin é mais largo que meu corpo, e é isto que estou usando como... hum... colchão? Seus dois braços me envolvem fortemente, como se ele tivesse medo de me soltar por apenas um instante. Minhas pernas encostam na grama enlameada e estão cercadas pelas pernas de Arin. Nao posso acreditar que Arin esteja ignorando completamente o ombro dolorido.

      Pelos céus, estou deitada no peito descoberto de Arin! A realização me faz ter um sobressalto, o que movimenta o corpo de Arin e o faz afrouxar os braços ao redor da minha cintura. Eu me desequilibro e rolo para o lado, batendo meu quadril na grama e soltando um gemido de dor. Meu movimento acorda Arin. Ele acorda no susto, sentando-se de forma ereta no mesmo instante e um tanto desesperado. Sua cabeça vira de um lado para o outro, quase como se estivesse... se estivesse me procurando. Então, seu olhos param em mim, estatelada no chão, olhando para ele de forma curiosa. Ele solta um suspiro aliviado e balança a cabeça levemente enquanto sorri. Ele se deita novamente. Por um momento, esquece que seu ombro está ruim e levanta os braços para os colocar atrás da cabeça. Ele geme de dor.

— Bom dia, princesa. — Ele sussurra tranquilamente, como se não estivesse morrendo de dor. — Acha que já pode devolver minha camisa?

       Olho para seu peito descoberto por extinto. Desvia, Hyacinth, anda. Consigo desviar o olhar, mesmo levando mais tempo do que deveria, e olho para mim mesma. Ah! Estou usando a blusa de Arin por cima do vestido. Bem, eu não me lembro disso. Eu sento na grama para poder tirá-la. A noite de ontem ainda está meio nublada em minha cabeça. Entrego a camisa para Arin, que a veste no mesmo instante, fazendo uma careta de dor ao passar pelo ombro. 

— Sabe, você disse que eu era bonito ontem. — Arin solta, do nada. Engasgo com minha própria saliva. Pelos céus, Hyacinth! Solto uma risadinha nervosa para esconder minha surpresa.

— Você lembra que eu estava alucinando, não é? — Tola, tola, estúpida, estúpida! Ugh!

      Arin transforma o sorriso leve no canto dos lábios que estampava seu rosto em um biquinho triste. Eu reviro meus olhos.

— Poxa, princesa, você está partindo meu coração. — Para completar sua dramatização, ele leva a mão boa ao peito, na direção do coração. — Eu não sou bonito?

— Não. — Minto.

        Agradeço por não ser o Pinóquio neste momento, ou meu nariz teria crescido tanto que poderia nos tirar dessa floresta. É claro que Arin é bonito. Fala sério, ele tem pele morena, olhos cor de violeta, cabelos de chocolate e uma cicatriz que só deixa a beleza dele mais intrigante. Além de uma boca ridiculamente desenhada. Ele é ridículo de lindo. Não que eu repare. Por favor.

— Ouch! Você também não é grandes coisas, né! — Ele retruca, abrindo o sorriso brincalhão novamente e estreita os olhos em provocação.

— Eu já te disse hoje o quanto você é um idiota? — Resmungo de forma rabugenta. Retiro todos os elogios à sua beleza.

— Hum... hoje? Não, ainda não. — Ele responde, alargando o sorriso.

— Bem, agora disse. — Abro um sorriso cínico. Ele suspira. 

Espinhos negrosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora