13.

236 22 0
                                    

Helena Clarke

— Levante o rosto! — Cuspo sangue na terra, e sugo meus dentes, tentando conter minha raiva. O gosto metálico amargo permanece em minha boca, enquanto eu dou impulso com minhas mãos e sustento meu corpo, ficando de pé novamente. — Três dias depois e ainda é mais fácil acertar você do que um passarinho.

     Por que eu aceitei isso? Melhor, por que eu continuo vindo "treinar" três dias depois, mesmo sabendo que Kya vai me dar uma surra todas as vezes?! Eu só posso ter perdido completamente minha sanidade e me afogado em tédio — exatamente o que aconteceu.

— Separe seus pés, gire seu quadril e antecipe meu movimento! — Ela grunhe, como se eu fosse uma criança e ela já tivesse repetido mil vezes uma coisa óbvia.

      Respiro fundo, lutando para encontrar ar em meus pulmões e tentando não ficar ofegante. Controlar a respiração foi uma das coisas que Kya falou que é importante. Eu separo e fico meus pés no chão, deixando meu quadril na diagonal, apoiado em um pé mais a frente. Levanto minhas mãos apertadas em socos, protegendo meu rosto, deixando os cotovelos quase encostarem em minha cintura. Ela tenta acertar um soco primeiro, mas eu defendo com meu pulso direito e seguro sua mão, puxando seu corpo e acertando um soco em cheio em seu rosto com a mão esquerda. O movimento faz com que ela cambaleie para trás, e me dá apenas dois segundos de vantagem, antes que ela venha para cima de mim novamente. Eu jogo meu corpo para a esquerda, escapando de um chute lateral e empurro sua perna para baixo.

      Enquanto eu preciso de uma concentração completa, Kya parece estar apenas brincando. Seus movimentos são seguros e um tanto desinteressados contra mim. E eu tenho que dar tudo de mim apenas para não cair.

— Os soldados não tem tanto preparo para o combate corpo a corpo. Mas são homens fortes e vão contar com sua fragilidade para derrubar você. Não deixem que te agarrem. — Para exemplificar seu argumento, ela me puxa pelos pulsos, acerta uma rasteira em minhas pernas e me joga no chão.

      Minhas costas batem com tudo na terra.

— Você está se divertindo com isso! Não se importa em me ensinar, só quer me bater! — Eu resmungo, ficando de pé novamente.

— Pare de choramingar. Não é prazeroso bater em mim? — Ela revira os olhos. Eu abro um sorrisinho. É, é muito prazeroso acertar Kya e ver um hematoma se formar em seu rosto. O problema é que ela me acerta dez vezes, e eu uma. — Pare de ser chorona e me acerte mais vezes.

      Eu fico em posição de combate de novo. Não me importo com a quantidade de socos, tapas e chutes que Kya acerte, eu sempre levanto e recomeço. No primeiro dia, não consegui acertar um tapa em seu rosto e quando terminei, minha bochecha direita era como uma maçã inchada. Estou evoluindo com o tempo. E distraindo minha mente.

— Kya, precisam de você na Sala. — Scar aparece, quebrando mais galhos do que uma pessoa normal enquanto se aproxima. Ela lança um olhar para mim e faz uma careta.

      Kya vira para mim. O cabelo comprido ainda intacto, e o rosto apenas com uma mancha começando a roxear. Eu fiz isso. Me permito um sorrisinho convencido.

— Encerramos por hoje, bonequinha. Volte amanhã para tomar outra surra. — Ela abre um sorriso falso, e manda um beijo no ar.

      Libero o ar e jogo meu corpo no chão, assim que as duas somem entre as árvores. Estou completamente dolorida. Meus braços magros estão cansados de ficarem tensionados na posição de defesa, e nem preciso mencionar os roxos que pintam meu quadril. Há um corte no meu lábio inferior e Kya quase quebrou meu nariz, mas ela toma cuidado para não bater tão forte assim — diz ela. Começo a tirar as folhas presas nos meus cabelos de todas as vezes que caí no chão. Como isso começou? Bem, com muito tempo livre.

Espinhos negrosWhere stories live. Discover now