5.1

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Theodore Vetturius.

      Quantos dias haviam se passado? Três? Quatro? Acho que perdi as contas. Quantos dias desde que Hyacinth arrancou meu coração e o levou consigo? Eu poderia simplificar. Cinco? Seis dias, eu me decido por fim. Mas só isso? Pareciam haver anos separando o momento que a vi usando um vestido de noiva, a poucos passos de se tornar sua esposa, para este momento: sentado a mesa com meu pai, o duque e o comandante do exército, pai de Hyacinth. Eu olho para o homem de novo, sem saber o que sentir por vê-lo sentado ali, calmo e pensativo. Não estaria ele apreensivo? Sua filha pode estar correndo perigo! Pelos céus, Hyacinth já pode estar... morta. Todos a odeiam agora. Nestes seis dias, já perdi as contas dos nomes horríveis que a estão chamando, das ameaças terríveis que estão sussurrando. Mas... mas como ele poderia? Hyacinth ainda era, é, sua garota. Sua linda e tagarela garota.

— O esquadrão encontrou os dois guardas muito distantes do Palácio. Ambos estavam feridos, flechas nas coxas e um deles também tinha uma no ombro. — Um dos responsáveis pela busca anuncia.

      Hyacinth não atiraria sem motivo — é o meu primeiro pensamento. Mesmo quando costumávamos atirar flechas apenas por diversão, ela tomava um cuidado extra para não acertar nenhum esquilo sem querer. Fecho minhas mãos embaixo da mesa, e minha mente me leva diretamente para a manhã do casamento. Quando dois malditos serasianos estavam levando a melhor sobre mim. Se me pedissem para explicar como havia ficado encurralado por dois serasianos, não saberia dizer. Tantos anos de treinamento não me serviram para nada. E se não fosse por ela, se Hyacinth não tivesse atirado flechas, eu nem estaria mais aqui. Ela salvou minha vida. Como poderia esquecer disso?

— O que eles disseram? — Sua voz não parece mais sua voz. Não parece mais com ele. Hyacinth o transformou em outra pessoa e agora, não consigo me reconhecer ao olhar no espelho. Tudo que vejo é uma casca.

— Palavras não muito agradáveis, senhor. — O homem responde, mas lanço a ele um olhar incisivo que o faz abrir a boca. — Disseram que a senhorita estava louca, completamente insana. E que tinha um rebelde com ela.

       Eu o vi. Quando olhei para Hyacinth após a mesma ter salvado sua vida. Tenho a sensação que já havia visto aquele homem antes. O homem que a estava tirando dele. Ele, definitivamente, estava no topo de sua lista de ódio.

— Hyacinth não é insana. — A voz que saiu dele foi firme. — Eu vou lhe dizer apenas uma vez: se um de seus homens encostarem em um fio de cabelo dela, não vão receber a recompensa e nem continuarão a respirar.

       Meu pai lança um olhar mortal em minha direção, totalmente contrário a esta nova ideia. Para ele, Hyacinth já era uma traidora. Uma pedra em seu sapato querendo roubar sua coroa. Mas eu sei que, se meu pai está tão nervoso com a situação, Hyacinth tem chances verdadeiras de conquistar isso. E... eu não sei como me sentir. A Coroa será minha. E quero isso. Mas lutar por ela contra Hyacinth, me faz querer menos. Francamente, arranca todo seu desejo pela Coroa.

— Diga a eles fazerem o necessário para trazê-la. — A voz do Rei é a final, e mesmo odiando, sei que essa será a ordem. Esse não devia ser o momento que o comandante fica ao seu lado? É sua filha! Pro lixo que não é biológica! Ele a criou.

      É isto. Hyacinth o fez começar a ter ideias. O fez começar a acreditar que sua vida não teria que ser como lhe contaram durante todo tempo. E agora estou confuso. E de coração partido. Céus. Uma confusão.

       O comitê concordou com meu pai, o que já era esperado. O duque não estava mais entre eles. Faleceu durante o ataque ao casamento, junto com mais vinte pessoas, civis e membros da corte. A duquesa estava se mudando nesta manhã, deixando o Palácio e todas suas baboseiras para trás. Foi estranho ver Missy tão... tão pequena. Depois da bomba — que agora sei que Hyacinth havia soltado — Missy já não era mais a mesma. Após perder seu pai, ela foi de uma garota abusada e de presença, para uma sombra inconstante. Tudo estava errado. Olhar para a mesa repleta de homens arrogantes, ostentando suas medalhas, fingindo controle e ignorando completamente as mortes que aconteceram, me deixa enjoado.

Espinhos negrosWhere stories live. Discover now