33.3

195 20 1
                                    

Theodore Vetturius

— Uma só Viridia. — A voz melodiosa de Hyaci... Helena soa pelos alto falantes de toda praça pública de Serasar. Ela é doce, mas forte, corajosa e qualquer um apostaria nessa voz.

    A gravação está tocando várias vezes, em repetição sem parar. Não sei como eles conseguiram fazer isso, mas fizeram de uma forma bem feita. Os soldados do Palácio correm de um lado para o outro, tentando resolver o problema. Já vi arremessarem longe um dos alto falantes — que deveriam ser usados para pronunciamentos do Rei apenas. Imagino como Braken deve estar arrancando os cabelos neste momento, e fico grato por não estarmos dentro do Palácio agora.

— Essa é a minha garota. — Laia murmura baixinho ao meu lado.

     Eu sorrio devagar, virando meu corpo em direção a morena baixinha ao meu lado, vestida de camponesa comum: um vestido que mescla marrom e branco, e os cabelos soltos em cachos que alcançam a cintura. Não que eu esteja reparando, óbvio. Temos sido uma dupla desde que chegamos aqui — e passamos mais tempo do que gostaria. Estou louco para voltar para casa, mas a guarda está de olho em qualquer um que passe pela Floresta, temendo uma invasão por lá. Está quase impossível sair daqui sem levantar suspeitas. Estamos presos de mãos atadas.

    Eu dou um peteleco de leve no nariz de Laia, a pegando totalmente desprevenida.

— São lágrimas isso que estou vendo em seus olhos? — Pergunto, com um sorrisinho irônico em meus lábios.

— Faça isso de novo e vou faze-lo engolir sua mão. — Ela ameaça, estreitando os olhos, com a voz cortante.

     Isso não me abala nem um pouco porque é extremamente comum em nossa relação de colegas de missão, se isso existir. Céus, estou tão cansado que já joguei fora toda e qualquer dignidade que existia em mim. Adeus, orgulho de príncipe! Estou dormindo em um quarto desocupado na ala dos criados. É tão apertado que se esticar meus dois braços, o cômodo acabou. Anotei isso em uma nota mental para incluir nas novas resoluções de Hyaci... Helena, pro inferno com isso, ainda não me acostumei em chamá-la de Helena e não sei se... quero.

     Chamar Hyacinth de Helena é como apagá-la da existência, e com isso, apagar tudo que tivemos também. É como se a garota que eu amo fosse apagada e ninguém sentisse saudade dela, exceto eu. Talvez eu só não esteja pronto para seguir em frente, não esteja pronto para deixá-la ir, e estou me agarrando a uma lembrança borrada. Pelas estrelas, eu sou patético! Hyacinth ama outra pessoa, claramente, e eu ainda estou aqui me lamentando por ela.

— Você está pensando nela, não é? — Laia pergunta, empurrando meu ombro.

— Golpe baixo, até para você. — Murmuro, fechando os olhos.

     Eu gosto da pessoa que sou quando estou com Laia, por mais louco que pareça ser admitir isso. Não preciso me esforçar para ser ninguém, já que ela sempre espera o pior de mim. É como um livro totalmente em branco, uma história que conto a uma pessoa que não espera nada dela. Ela não espera nada de mim, e por isso, posso finalmente ser apenas eu.

— Você fica com uma expressão de cachorrinho abandonado quando pensa nela. — Ela comenta. Eu reviro meus olhos e ajeito a boina em minha cabeça com a mão direita, enquanto enfio a outra no bolso da calça. — Você precisa seguir em frente, sabe? Não estou dizendo só por dizer. Estou dizendo porque é o melhor para você. Largue isso, príncipezinho, da mesma forma que largou sua Coroa.

     Desvio o olhar porque não suporto encarar seus olhos caramelos agora. Não posso suportar olhar para Laia porque ela está certa, muito certa, e eu poderia simplesmente mergulhar meu rosto em minhas mãos e implorar para sumir. É muita... coisa. Sei que quando coisas assim acontecem, todos ficam com uma carga emocional imensa, mas... eu perdi e abri mão de tanta coisa. Basicamente toda minha vida ficou para trás, toda minha vida. Foi muito mais fácil largar a Coroa, do que está sendo largar Hyacinth.

Espinhos negrosWhere stories live. Discover now