20.

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— Aonde você estava com a cabeça? — Gray grunhe assim que me sento na cadeira.

     Não encolho meus ombros, nem deixo que percebam que eu estava chorando até poucos minutos atrás. Eu sabia que no momento que colocasse meus pés no acampamento, eles já estariam me esperando para uma conversa. Uma parte de mim torceu para que estivessem dormindo em paz sonhando com carneirinhos, mas obviamente não aconteceu, eles estão bem acordados. Scar não está presente, noto.

— Antes de qualquer coisa, quero dizer que a culpa é minha, e que nenhum deles merece ser responsabilizado por isso. — Digo firme.

      Oscar não está aqui, porque ficou vigiando Kile, para que o mesmo não surte quando acordar em um lugar totalmente estranho. Não que ter Oscar lá vá ajudar alguma coisa, afinal, foi ele que o apagou. Laia e Arin estão aqui junto comigo, e tenho que resistir muito para não agarrar a mão de Arin e entrelaçar na minha. Ja parecemos bobos o suficiente, usando roupas de gala enquanto eles vestem trajes normais.

— Vocês todos são responsáveis por essa loucura. Isto foi muito imprudente, falamos para que não fosse. Colocou todo nosso trabalho em risco. — Gray continua, falando de forma incisiva. Ele parece furioso.

— Concordo, mas vocês não me impediriam de ir atrás do meu irmão. Sinto muito. — Respondo, dando de ombros.

— Ela simplesmente provou mais uma vez que não está altura do que representa. É ridículo. — Thryne despeja, sua voz escorrendo como veneno.

      Fecho meus olhos com força, controlando minha vontade de voar em seu pescoço. Ataquei o Rei, o que é atacar Thryne?! Estou sem paciência nenhuma. Ele é bem mais jovem que os outros, e conhece Laia, Oscar e Arin há mais tempo. Foi líder da base de Viridia, mas não sabe se impor aqui, mostrar que nós também sabemos lutar. Ele me deixa enjoada.

— Bem, me mandem embora então. Achem outra pessoa para usar a Coroa. Não vamos mudar em nada se continuarmos apontando dedo aqui dentro. — Pontuo de forma arrogante. Estou tão cansada receber ordens.

     Gray suspira alto, enquanto Thryne revira os olhos e os outros dois apenas me analisam. De uma maneira torta, eles querem mudar as coisas, mas são homens ambiciosos e não estão muito dispostos a me darem uma voz. Vou ter que lutar por ela. Tenho total ciência de que fiz algo imprudente e estou morrendo de medo das consequências, porém não mudaria em nada. Kile está aqui comigo. E gostaria que Grace também estivesse. Talvez ele possa esclarecer as coisas que ainda estão confusas para mim.

— Precisa concordar que foi imprudente. — John fala, e confirmo com a cabeça. — E que precisamos de consequências.

— O que é isso? Somos crianças para sermos doutrinados? — Arin explode ao meu lado.

— Vocês não mandam em nós. Nós não estamos debaixo de uma ditadura aqui, certo? Somos todos livres. — Laia acrescenta.

      Cubro meu sorriso com as mãos, mesmo sabendo que eles conseguem ver minha reação. Esses dois são uma dupla imbatível para desafiar alguém, e eles tem um ponto real.

— Conte todos os detalhes do que aconteceu lá, precisamos estar preparados. — Robert suaviza a situação, e lembro de como Scar costuma sorrir para ele.

      Eu conto tudo. Desde o momento que chegamos até meu eventual encontro com o Rei e acertei a adaga em sua coxa. Como o Rei já havia sacado todos os meus planos e estava disposto a me deixar partir sem meu irmão, sua arma secreta contra mim. Só que não permiti que ele tivesse esse poder sobre mim, e me defendi, arranjando mais um inimigo, possivelmente. Omito meu momento com Arin e com Grace, porque não diz respeito a eles. Eles se entreolham quando falo do encontro com o Rei, mas demoram até dizer qualquer coisa.

Espinhos negrosWhere stories live. Discover now