8.

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       Eu apaguei em algum momento após Oscar me apoiar em um dos cavalos, ordenando para que eu não dormisse, repetindo diversas vezes, mas a sensação era que o sono me dominava por completo e eu não tinha mais forças para lutar contra. A expressão de insegurança de Arin foi a última coisa que lembro de ter visto olhando diretamente para mim. Depois disso, tudo ficou escuro.

       Lembro de sentir meu corpo sendo colocado gentilmente em uma superfície fofinha, mas eu não tinha forças para abrir meus olhos, muito menos falar, investigar onde era aquilo. Alguém dizia beba, beba e o líquido gelado entrou em contato com minha boca, refrescante como apenas água poderia ser. Pensei que estava me afogando, mas queria mesmo me afogar. Mãos espalmadas em minhas costas, a água tocando meus lábios. Escuridão e silêncio de novo. Até quando eu senti tocarem meu braço, senti a dor repuxar como se estivesse furando meu corpo. Espero que fique mais bonito que o meu. Alguém falou. Claro que vai. Outra pessoa respondeu. E tudo ficou escuro de novo.

      Vozes baixas, vozes altas, graves e agudas entre o repleto silêncio, mesmo assim tudo ainda escuro. Alguém dizendo novamente para que eu bebesse, alguém tocando meu braço. Vozes preocupadas. Eu e a escuridão. O que era real e o que era sonho? Tudo estava entrelaçado. Podia sentir a cama fofinha como a que costumava dormir em casa, lençóis pesados e quentinhos, mas ao mesmo tempo, não podia ser. Podia?

      Em algum momento, acho que escutei a voz de Arin sussurrar baixinho, a mão quente tocando minhas bochechas, talvez verificando se eu ainda estava respirando. Acho que sim? Precisava acordar, precisava acordar.

      E acordei, grogue, minha cabeça pesada e latejando. A luz machuca meus olhos quando tento abri-los, mesmo assim, forço para que se ajustem a luz. Vejo uma espécie de tecido quase voar com a brisa leve e fria que sopra lá de fora. É branco, tudo é branco. Dou uma volta com o olhar. É uma tenda? Espaçosa, é o que penso. Há um tecido mais denso um pouco mais a frente, divergindo dos demais claros e leves. Estou em uma cama respeitosamente grande, o colchão é fofinho e próximo ao chão. Há até mesmo uma mesinha redonda na lateral e uma pilha de roupas em cima.

      Tento emitir um som, chamar alguém, mas a voz fica presa em minha garganta. Minha boca densa e grudenta, como se toda minha saliva tivesse congelada ali. Estico meu pescoço para olhar meu braço. O corte agora é costurado por linhas escuras, como um vestido, e não sangra mais. Eu toco os pontos com minha mão. Hum. Donna fez isso? Toco meu rosto e sinto a camada de suor misturada a lágrimas ainda ali. Ugh. Eu preciso de um banho.

      A tenda é aberta e tenho o reflexo de me encolher, arregalando meus olhos, juntando forças para atacar se preciso, uma piada. Uma mulher, com olhos bondosos, abre um sorriso para mim. Os cabelos são vermelhos vivos, provavelmente tingidos, e ela tem uma cicatriz na bochecha esquerda. Está carregando toalhas e uma garrafinha de água. Eu abro a boca para pedir água, mas o pedido fica entalado na garganta. Onde estou? Acho que a mulher percebe minha confusão, minhas sobrancelhas franzidas e a careta de poucos amigos em meu rosto.

— Vou chamar Thryne. — Ela diz. Eu balanço minha cabeça de forma negativa.

       Não. Não é o espertinho líder que quero ver agora. Só tem uma pessoa que quero ver.

— Arin. — Minha voz é esquisita e diferente até para meus próprios ouvidos. É frágil como um fio e baixinha. Mas a mulher me escuta.

— Tudo bem. — Ela disfarça uma careta. — Bem vinda de volta. Está em casa agora.

      Forço meus lábios a pintarem um sorriso curto. Não me sinto em casa. Me sinto confusa e pesada. A mulher me deixa sozinha novamente. Eu descubro meu corpo, jogando o lençol para o lado e encontro meu vestido de noiva do mesmo jeito que o deixei. Bem, está sujo e numa cor mais próxima ao cinza do que branco, mas sobreviveu. Ninguém precisará usá-lo mais de qualquer jeito.

Espinhos negrosWhere stories live. Discover now