6.

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Hyacinth Ptolius
Helena Clarke

       Tropeço em meus próprios pés e sinto minhas mãos amortecerem o impacto do meu corpo indo de encontro ao chão. Tudo que enxergo é uma imagem borrada de verde e marrom das árvores, e a silhueta de Arin que fica cada vez mais próxima. Sinto seu toque em meus ombros e acho que ele está dizendo alguma coisa, mas sua voz está parecendo a de Kile quando ele afundava na água e tentava se comunicar comigo. Estou com muita dor. É excruciante, do tipo que arde por todo seu corpo e te faz querer se contorcer, uma dor que repuxa minhas pernas e faz hematomas roxos surgirem nelas.

       Eu estava indo bem. Não, seja realista, Hyacinth, voce nao estava. Nós acordamos, Arin comentou qualquer coisa sobre uma possibilidade de chuva e então fizemos nossa rotina de apagar a fogueira e seguir em frente. Depois de trinta minutos andando, eu sabia que não ia conseguir avançar muito mais. Como poderia exigir isso de mim? Não tenho condicionamento físico para andar sem parar por mais de quinze horas por cinco dias, comendo e bebendo pouquíssima água. Então, quando comecei a cambalear nos primeiros trinta minutos, eu sabia que não aguentaria muito mais. Mesmo assim, continuei. Arrastando meus pés, doloridos e machucados, com feridas sangrando. As tiras da sandália cortaram meus tornozelos, nem os sapatos aguentaram. Aguentei por mais cinco horas. Então, meu corpo colapsou. Neste momento.

      Estou mandando minhas pernas levantarem, estou mandando meu corpo se erguer, mas ele não me obedece. Continuo com joelhos e mãos mergulhados na lama, encarando o que acho ser Arin, que continua dizendo coisas que não entendo. Até que sinto suas mãos puxarem minha cintura, meu corpo o obedece prontamente, mole como geleia. Ele segura meu corpo como seguraria um bebê, me embalando em seus braços, apoiando meu corpo com seu peito, minha cabeça repousando em seu ombro, seus braços me apertam, tentando fazer meu corpo parar de tremer. Quero ter forças para dizer que tudo bem, podemos continuar, mas não posso. Não com minhas próprias pernas.

       Ficamos em silêncio. Eu me concentrando em conseguir respirar e não entrar em total colapso emocional por ter colapsado fisicamente. E enquanto estou fazendo isso, uma borboleta pousa devagar nos dedos de Arin, perto do meu rosto. Suas asas são grandes e amarelas brilhosas. E ela fica ali, confortável com Arin e comigo. E nós ficamos ali, apenas observando o incrível. Longos minutos se passam até que ela bata as longas asas e nos deixe. Antes de ser essa magnífica e livre borboleta, ela era uma lagarta, presa a uma árvore qualquer, mal podendo se movimentar. Hyacinth Ptolius era a lagarta. Mas não consigo sair do meu casulo e me transformar em Helena Clarke.

— Você está bem. — Não uma pergunta, não uma dúvida, Arin afirma com a voz baixinha próxima aí meu ouvido.

— Não consigo mais andar, Arin. Nao... consigo. — Confesso, mesmo que já esteja claro. E nunca fui tão verdadeira.

— Eu sei. — Ele sopra. E ficamos em silêncio novamente. Se até Arin está aceitando o fato de que não conseguirei dar mais três passos, como posso me iludir?

— Talvez se... talvez se descansarmos por hoje. — É apenas um meio de encontrar esperança. Acreditar numa tola perspectiva que ficar parada durante um dia, vai me dar força e energia para o outro.

— Não. Vou carregar você nas minhas costas. Uma tempestade está vindo e tenho quase certeza que estamos sendo seguidos. — Engulo em seco. Arin acha que estamos seguindo.

      Não. Arin tem quase certeza. Pelos céus. Isso quer dizer que estamos sendo seguidos, e que ele percebeu isso. E eu estou aqui, nos tornando presas fáceis, ridiculamente fáceis. Viro meu rosto para o seu pela primeira vez desde que estamos ridiculamente próximos. Gostaria de fazer uma piada agora.

Espinhos negrosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora