28.1

199 22 3
                                    

Theodore Vetturius

— Eu odeio você. — Reviro meus olhos a ponto de querer arranca-los dos meus olhos e enfia-los nos meus ouvidos para não escutar mais sua voz.

— Você já disse isso umas cem vezes em duas horas. Eu... já... entendi, inferno. — Resmungo de forma veroz.

     Laia esfrega as mãos no rosto e abaixa a cabeça, bufando. Ela não está nem um pouco feliz, mas adivinhe: eu também não! E em nenhum momento mandei que essa garota me seguisse, nem tentasse salvar a minha pele. Sério, eu não pedi para que ela estivesse aqui. Ao mesmo tempo, a parte racional e empática em mim, sabe e reconhece que ela estar dentro dessa cela tendo que olhar para meu rosto é culpa minha e apenas minha. E de Hyacinth, claro.

     Eu encontrei Laia ainda na Floresta, enquanto eu apenas espreitava os arredores do Palacio. Ela deixou bem claro que não estava nem um pouco feliz de ter que bancar a babá, mas não teve tempo de dizer em voz alta. Formos cercados como patinhos inofensivos e nem todos sobrevivemos. Tenho que confessar que essa garota tem uma vontade incrível de sobreviver. Ela praticamente acabou com os soldados que estavam nos atacando, mas não teve chance contra a segunda leva. É por isso que estamos aqui, por duas horas, e eu tenho um hematoma imenso no meu olho e ela um olhar mortal toda vez que acabamos olhando um para o outro.

— Isso é ridículo! — Ela resmunga, a voz saindo abafada pelas mãos. — Ah, sou eu, Theodore Vetturius, príncipe... — Ela levanta a cabeça apenas para me atacar. Seu olhar é feroz, os olhos castanhos queimando como chamas. Sua tentativa de falar imitando minha voz é ridícula. — E daí se você é um príncipe. Você é um príncipe das cinzas agora, um maldito nada.

      Tento controlar minha careta porque não quero que ela perceba que me afetou. Eu já estou me afogando em culpa aqui, e ela jogando tudo isso em mim não está tornando as coisas melhores. Foi força do hábito dizer meu nome e meu título, depois de viver uma vida inteira vendo posições se abrandarem quando revelo quem sou, se tornou força do hábito. O guarda não pareceu muito impressionado, o meu olho roxo que o diga, mas serviu para que nos deixasse viver, pelo menos.

— E o que você acha que é? Uma rabugenta que gosta de bater nas pessoas? Oh, espere... uma idiota rebelde! — É a minha vez de deixar que o veneno escorra por minha boca. 

     Não sei se ela se importa com o que digo, sua expressão continua a mesma raivosa de antes. Ela está concentrada demais em me odiar para sentir pena de si mesma. Admirável.

— Não ligo para o que você pensa, babaca. — Ela balbucia. Seus lábios são cheios e bem desenhados e ela provavelmente tem um sorriso bonito. Bem, se ela souber sorrir.

— E eu muito menos para o que você pensa. — Retruco.

— Ótimo! — Ela exclama com um sorriso irônico, fazendo os cachos do cabelo balançarem. — Vamos morrer por isso! Por sua culpa e sua cabeça estúpida!

     Abafo um grunhido cobrindo minha boca com as mãos. Não é possível! Ela só está aqui para testar minha paciência, talvez meu castigo seja justamente ter que ficar neste ambiente apertado ouvindo Laia reclamar. Só pode ser!

— Eu não pedi para que fosse minha babá! — Vocifero. Não pedi! Eu não mereço ser seu alvo quando não pedi para que me seguisse, não pedi para ninguém!

Espinhos negrosWhere stories live. Discover now