Theodore Vetturius
— Eu odeio você. — Reviro meus olhos a ponto de querer arranca-los dos meus olhos e enfia-los nos meus ouvidos para não escutar mais sua voz.
— Você já disse isso umas cem vezes em duas horas. Eu... já... entendi, inferno. — Resmungo de forma veroz.
Laia esfrega as mãos no rosto e abaixa a cabeça, bufando. Ela não está nem um pouco feliz, mas adivinhe: eu também não! E em nenhum momento mandei que essa garota me seguisse, nem tentasse salvar a minha pele. Sério, eu não pedi para que ela estivesse aqui. Ao mesmo tempo, a parte racional e empática em mim, sabe e reconhece que ela estar dentro dessa cela tendo que olhar para meu rosto é culpa minha e apenas minha. E de Hyacinth, claro.
Eu encontrei Laia ainda na Floresta, enquanto eu apenas espreitava os arredores do Palacio. Ela deixou bem claro que não estava nem um pouco feliz de ter que bancar a babá, mas não teve tempo de dizer em voz alta. Formos cercados como patinhos inofensivos e nem todos sobrevivemos. Tenho que confessar que essa garota tem uma vontade incrível de sobreviver. Ela praticamente acabou com os soldados que estavam nos atacando, mas não teve chance contra a segunda leva. É por isso que estamos aqui, por duas horas, e eu tenho um hematoma imenso no meu olho e ela um olhar mortal toda vez que acabamos olhando um para o outro.
— Isso é ridículo! — Ela resmunga, a voz saindo abafada pelas mãos. — Ah, sou eu, Theodore Vetturius, príncipe... — Ela levanta a cabeça apenas para me atacar. Seu olhar é feroz, os olhos castanhos queimando como chamas. Sua tentativa de falar imitando minha voz é ridícula. — E daí se você é um príncipe. Você é um príncipe das cinzas agora, um maldito nada.
Tento controlar minha careta porque não quero que ela perceba que me afetou. Eu já estou me afogando em culpa aqui, e ela jogando tudo isso em mim não está tornando as coisas melhores. Foi força do hábito dizer meu nome e meu título, depois de viver uma vida inteira vendo posições se abrandarem quando revelo quem sou, se tornou força do hábito. O guarda não pareceu muito impressionado, o meu olho roxo que o diga, mas serviu para que nos deixasse viver, pelo menos.
— E o que você acha que é? Uma rabugenta que gosta de bater nas pessoas? Oh, espere... uma idiota rebelde! — É a minha vez de deixar que o veneno escorra por minha boca.
Não sei se ela se importa com o que digo, sua expressão continua a mesma raivosa de antes. Ela está concentrada demais em me odiar para sentir pena de si mesma. Admirável.
— Não ligo para o que você pensa, babaca. — Ela balbucia. Seus lábios são cheios e bem desenhados e ela provavelmente tem um sorriso bonito. Bem, se ela souber sorrir.
— E eu muito menos para o que você pensa. — Retruco.
— Ótimo! — Ela exclama com um sorriso irônico, fazendo os cachos do cabelo balançarem. — Vamos morrer por isso! Por sua culpa e sua cabeça estúpida!
Abafo um grunhido cobrindo minha boca com as mãos. Não é possível! Ela só está aqui para testar minha paciência, talvez meu castigo seja justamente ter que ficar neste ambiente apertado ouvindo Laia reclamar. Só pode ser!
— Eu não pedi para que fosse minha babá! — Vocifero. Não pedi! Eu não mereço ser seu alvo quando não pedi para que me seguisse, não pedi para ninguém!
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Espinhos negros
General FictionHyacinth fugiu do Palácio no dia do Casamento. Deixou para trás tudo que havia acreditado durante toda vida. Deixou seu coração. Deixou Hyacinth Ptolius naquele lugar. Agora ela era Helena Clarke, herdeira do Trono de Viridia, e iria lutar por ele...