12.2

225 28 8
                                    

Theodore Vetturius

      Depois que observei Arin fazer sua dramática saída a cavalo após praticamente afirmar que não é nenhum herói, voltei ao Palácio. Eu e Atlas precisávamos discutir sobre os poréns que haviam surgido depois de minha conversa com o rebelde. E foi isso que fizemos, forçando nossa mente a descobrir um lugar seguro distante daqui que manteria Lucy segura sem levantar suspeitas e indicar nós dois como culpados. Atlas parecia bem disposto a achar uma solução, e lembrou de Martha, nossa antiga babá, que mora entre Viridia e Serasar, numa casa de veraneio bonita e que costuma adotar jovens para ajudá-la com sua fazenda, depois que se aposentou.

       Atlas era um gênio — desarrumado, mas um gênio. Quando eu levantei apenas uma suposição se ele não estava nutrindo algum sentimento por Lucy, ele apenas inventou uma desculpa para me expulsar de seu quarto e disse que me encontraria no jantar. Foi exatamente o que fizemos. Jantamos com as famílias da corte remanescentes e com os lordes de confiança de meu pai, todos cochichando entre si o jantar inteiro. Eu apenas comi, nervoso demais para dizer qualquer coisa. Se meu pai apenas suspeitar... ele vai considerar isso uma traição.

      A noite veio e me esforcei ao máximo para fechar meus olhos e ter uma boa noite de sono — o que não aconteceu. Fiquei pensando por horas em Hyacinth e imaginando como ela estava, o que ela sentia, qualquer coisa, qualquer pista. Embalado nos pensamentos idiotas sobre ela, eu adormeci.

      Atlas e eu combinamos que não teríamos muito contato no dia para que ninguém suspeitasse de nossa forma de agir diferente, então passei a manhã inteira em meu quarto, tentando pintar qualquer coisa — sem sucesso. Pedi que meu almoço fosse servido em meu quarto, enquanto eu me preparava para não perder a cabeça e voar no pescoço de Arin e tentava não pensar demais em como Atlas faria para levar Lucy até o local, sem nenhuma ligação conosco. Não sei como sobrevivi até este momento, parado com as roupas mais simples que encontrei em meu armário para não chamar atenção, esperando que um dos três chegue.

     Encaro o beco estreito no qual me encontro. O chão é lameado devido a um filete de água que escorre por ali, provavelmente proveniente de um cano estourado. É possível observar a vida da cidade por ele, sem que ninguém me note. Vejo crianças correndo mais a frente, e pelo menos duas pessoas pedindo esmola no centro. Por que meu pai deixou as coisas ficarem assim? Ele sente tanto ódio e vergonha de seu próprio pai por ter perdido um quarto do território de Viridia para um nobre traidor, e nem percebe que já perdeu o próprio povo. Eu me pergunto se ele se importa com essas pessoas. Ah! Que pergunta mais idiota. É claro que não. Ele estará feliz enquanto a Coroa estiver em sua cabeça, e só.

      Atlas chega seguido de Lucy. Seus olhos verdes estão bem abertos e qualquer um consegue enxergar o medo que passa por eles. Está usando um vestido simples comprido, e o cabelo está solto. Ela carrega apenas uma pequena mala, e aperta sua alça com força.

— Não deixe que descubram que meus pais ainda estão vivos. — Ela pede a Atlas, e o mesmo confirma com a cabeça.

— Eles não precisam nem mesmo sair da própria casa. Já cuidei dos documentos. — Ele argumenta com a voz segura e baixa.

      Por tudo que é bom no mundo, Atlas cortou os cabelos, voltando ao seu corte normal — os fios um pouco mais longos que os meus, o suficiente para criar um certo volume no topo da cabeça. Ele também está usando roupas normais como eu, mas pelo menos está arrumado.

— Você está com a carta que escrevemos e assinamos? — Pergunto a Lucy, e a mesma confirma com a cabeça. Ela comprime os lábios antes de falar para mim:

Espinhos negrosWhere stories live. Discover now