27. É Natural Colocar As Chaves Entre As Juntas Quando Há Garotos Por Perto.

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   Já saímos daquela cafeteria há um tempo. Estou indo para casa sozinha agora. Como já era de se esperar, Christian insistiu e insistiu para vir comigo, mas disse que tenho pernas e não sou mais nenhuma criança que precisa que alguém sempre fique em sua cola.

    O calor passa a me dominar por inteiro, e por esse motivo, decido amarrar minha blusa na cintura.

    E rua está completamente vazia e, por um momento, a sensação de estar correndo perigo percorre todo meu corpo. Colo as chaves entre os dedos. Isso é quase que natural.

     Desde pequena minha mãe me ensinou a fazer isso quando tivessem garotos por perto e me sentisse insegura ou apenas quando estivesse com medo. Segundo ela isso faria eu me sentir mais segura e ainda por cima, se qualquer um tentasse fazer algo comigo, eu teria como me defender.

    Isso é triste, bem triste na verdade. Pensar que está em constante perigo e precisar de algo para se sentir mais segura, e tudo isso porque é menina e quando se é uma menina, as chances de qualquer estranho te parar no meio da rua e tentar algo com você, são bem maiores do que quando se é um menino.

    E como se eu soubesse que algo fosse acontecer, sinto alguém tocar em meu ombro.

   — Posso sabe o que Bruna Garlick está fazendo sozinha? — É Ben.

   — Nada que seja da sua conta. — Tiro seu braço de meu ombro e tento rir para disfarçar meu medo.

   — Nunca te vi de shorts, Garlick. O que está acontecendo? — pergunta com a voz rouca, provavelmente tentando parecer sexy, mas não sinto nada além de nojo.

   — Estou com calor — murmuro, agora sem nem ao menos conseguir rir para aliviar a tensão.

   — Sabe, devia usar mais vezes. — Sito que se aproxima de meu ouvido, o que me faz para de andar. Não estou em condições para fazer mais um movimento sequer — Você fica muito mais gostosa assim — sussurra ainda com aquela voz rouca, nojenta.

    — Não deixei você falar assim comigo.

    — E, outra coisa — Ben passa do meu lado para frente, ignorando completamente a minha fala anterior. — Olhe só essas curvas! — E se aproxima — Essa boca. — E se aproxima — Esse cabelo. — E se aproxima — Essas pernas. — E se aproxima — Essa cintura. — E se aproxima.

     Benjamin coloca sua mãos em minha em minhas cinturas e me puxa com força para si. Me sinto tão assustada que não consigo fazer nada além de soltar um barulho abafado, semelhante a um "oh" ou um "ah". Talvez um mistura dos dois. Gostaria muito de reagir, gostaria mesmo, mas é quase impossível.

     Apenas imagine: você está na sua, apenas querendo voltar para casa em paz, e de repente, alguém que você vê pouquíssimas vezes, ou nem vê, te para no meio da rua, faz comentários sobre seu corpo, toca em você e sabe lá Deus o que ele irá fazer depois. No meu lugar, você reagiria? Você conseguiria fazer isso?

     Sinto sua boca encostar levemente em meu pescoço e depois em minha orelha.

     — Benjamin, me solte agora, senão eu...

     — Senão o que, Garlick? O que você pode fazer? É só uma garota.

    — Me solte agora! — repito um pouco mais alto.

    — Sabe, Bruna, eu poderia te levar para cama fácil, fácil. Agora que sei como é seu corpo de verdade, acho que não há nada que me impeça.

    O medo é dominado pela raiva. De alguma forma, eu consigo reagir e empurrá-lo para trás.

    Ben me olha com dureza.

    Tento sair, mas ele, como o embuste que é, me prende em seu braço e diz como um sussurro:

    — Você precisa aprender a aceitar melhor os elogios.

   Eu poderia apenas sair correndo agora, mas como irei saber se ele não virá atrás de mim depois? Dou o mais forte dos chutes em suas partes íntimas, o que é suficiente para fazê-lo cair no chão e se contorcer de dor. Provavelmente ficará traumatizado e não fará isso outra vez nem tão cedo

     — Que tal aprender a respeitar as mulheres primeiro, hum?.

    Ele concorda com a cabeça, ainda com aquele careta de dor. É claro que não vou perder a oportunidade de zoar um pouco:

     — Ah, está doendo? — finjo pena — Você provavelmente deve estar fingindo, afinal, eu sou só uma garota, o que eu poderia fazer? — E saio.

    Eu poderia querer me vingar, poderia tratá-lo com ainda mais agressividade. Mas não quero vingança e nem quis machucá-lo ainda mais: minha energia é muito preciosa para gastar com esse tipo de gente.

     Mas isso não significa que não esteja mal; eu estou com raiva, com medo, triste por viver em um mundo assim, estressada... Tudo ao mesmo tempo.

    Ao chegar em casa vou direto para o quarto do Mateo. Abro a porta bruscamente e entro em passos duros. Pego uma lata de refrigerante em seu frigobar e sento-me na cama, querendo assistir qualquer episódio de Friends e esquecer completamente das cenas de minutos atrás, mesmo sabendo que isso não será possível.

     — Onde está sua paciência, Bruna? — Mateo pergunta e só então lembro que ele existe.

    — Comprou uma passagem pro México e decidiu nunca mais voltar. — Tomo um gole de refrigerante enquanto ligo a TV.

    Eu poderia estar em meu quarto agora, mas o quarto do Mateo tem algum poder que me faz esquecer de quase tudo. Não prestar atenção em nada. Tanto que só agora percebo que Adam não está aqui. Olho para todos os lados a sua procura, achando o fato de não estar em nossa casa um pouco estranho. E ótimo. Eu preciso do Mateo agora, e só dele, mas não quero contar o que aconteceu, mesmo sabendo que uma hora ou outra, isso irá sair de minha boca

    A voz inexistente. Ela volta.

   Porém não é a mesma voz de sembre: é a do Ben.

   "O que você pode fazer? É só uma garota"

   "Sabe, Bruna, eu poderia te levar para cama fácil, fácil. Agora que sei como é seu corpo de verdade, acho que não há nada que me impeça."

     1, 2, 3, 4...

     Respira, Bruna.

     5, 6, 7, 8...

     Respira, Bruna. Só respira.

     Sinto meu rosto molhar. Qualquer um que olhe para mim, de longe, poderia pensar que estou com raiva por conta do maxilar travado — e não estaria errado. Agora se olhar para mim de perto, você vai pensar que estou com raiva, mas que dentro de mim existe uma mistura de tristeza, agonia, medo, estresse... e a raiva é apenas um bônus.

     — Bruna? — Mateo chama com delicadeza ao perceber minha lágrimas — o que aconteceu? Por que está assim?

     Sabia que uma hora ou outra teria que contar.

    — Acabei de ser assediada por um idiota. O idiota mais idiota de todos os idiotas existentes na face da Terra.

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Capítulo inspirado na música Boys Will Be Boys.

Capítulo inspirado na música Boys Will Be Boys

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