20. Sem Sono.

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     — Cantoras com "M". Você tem dez segundos — Christian diz rápido e firme.

    Estou deitada em sua cama, fitando o teto e ele, em um colchão. Eu disse que poderia muito bem dormir no chão, mas estamos falando de Christian Wye e ele pode ser muito insiste quando quer. E quando não quer também.

    — Humm... Miley Cyrus... Err... Madonna... Mariah Carey... Melanie Martinez...

    — Acabou seu tempo! — exclama e, pelo seu tom, percebo que é com felicidade.

   Desgraçado.

   Reclamo baixo.

   — Grupos musicais com "A". Cinco segundos — desta vez, eu sou quem diz, como se fosse a minha vingança. E talvez seja, mesmo.

   — Você é má — resmunga.

   — quatro, três...

   — É... — se apressa aí dizer e bate os dedos um no outro, para ajudar à pensar — Arctic Monkeys humm... American Authors...

   — Seu tempo acabou — Olho para ele, com um bico, fingindo pena.

   O escuto resmungar alguns palavrões com a frustração, o que me faz rir.

   — Ainda sem sono? — pergunta levantando seu corpo e assim, se sentando.
 
   Já estamos nesse jogo idiota há meia hora, para sequer tentar dormir, mas nenhum dos dois consegue sentir o mínimo de sono, sendo que já são quase quatro da manhã.

  — Sim. E você? — Faço o mesmo.

  — Também.

  Bufamos ao mesmo tempo.

   — Sabe de alguma coisa que dê sono? — Ergo uma sobrancelha ao perguntar.

    — Sim. — Sorri — Algo chamado chá.

   Faço uma careta em reprovação. Eu não detesto chá, só não é a minha bebida favorita.

    Tá, tudo bem, talvez eu não suporte chá.

    — Faça essa cara depois do provar o meu chá — gaba-se, me fazendo revirar os olhos e acompanhá-lo até a cozinha.

    De fato, está muito frio; Christian acaba me emprestando um de seus moletons que, sem nenhuma surpresa, fica enorme e bastante confortável.

    Tentamos fazer o mínimo de barulho possível, enquanto passamos pelos corredores e tentamos chegar até a cozinha, até porque já são quatro da manhã e não queremos ninguém acordando agora. Muito mesmo depois.

    Ao chegar lá, sento no balcão, encostado as costas na parede e abraçando minhas próprias pernas. Observo Christian preparar a minha sentença de morte calmamente enquanto conversamos sobre coisas sem sentido algum. Com certeza, chá não deve ser a sentença de morte do Christian, ele provavelmente deve gostar. Só estou aceitando tomar isso porque 1) está frio e sei perfeitamente bem que chá pode fazer isso passar e, 2) não consigo pregar os olhos e faço de tudo para poder dormir por no mínimo algumas horas, mesmo que sejam poucas.

    — Pronto — diz ao me estregar uma xícara e logo após sentar-se no balcão também, porém suas pernas estão para fora dele, diferente de mim.

   O cômodo está mal iluminado e não ousamos acender as luzes. Falamos baixo, quase como sussurros, tomando o máximo de cuidado possível. Mesmo que seja óbvio que, de uma forma ou outra, irão me ver pela manhã.

    Decido tomar um pouco do chá e, surpreendentemente, o gosto não é tão ruim. Me agrada, até.

   — Tem certeza de que isso é chá? — pergunto em um tom divertido. Realmente e ironicamente, eu gostei do sabor.

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