28. Arma Radioativa

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    Mateo estava com raiva.

    Mateo ainda está com raiva.

    Foi dormir com raiva, acordou com raiva, respira com raiva, come com raiva, fala com raiva... Ele faz tudo com raiva. E foi essa raiva, quase que inútil dele, que praticamente me obrigou a contar tudo para meus pais, quando eu não queria fazer isso, pelo menos não por agora.

     Eles estão me tratando como se eu estivesse a ponto de morrer, com todo cuidado e delicadeza do mundo. Isso irrita um pouco.

     Agora, faltando poucos minutos para ir à escola, minha mãe está me dando milhares e milhares de instruções, sendo que existem algumas que eu nem ao menos concordo, mas, segundo ela, são necessárias para a minha segurança.

    — Toma. Leve isso! — diz me entregando um moletom enorme.

    Eu já estou mais do que acostumada com o uso de moletons, mas hoje está muito quente! É praticamente impossível usar isso.

    — Mãe, eu não acho que seja nescessário. Por que eu tenho que me cobrir da cabeça aos pés só para não escutar nenhum comentário sobre meu corpo e eles não podem ter o mínimo de respeito?! Isso é injusto! — reclamo, cruzando os braços como uma criança birrenta.

   — É, mas infelizmente não é assim que o mundo funciona — Respira fundo antes de continuar: — Mas... já que não quer vestir isso...

    Ela vasculha um dos armários parecendo procurar por algo. Eu imagino que ela vá tirar algum tipo de arma radioativa de lá ou qualquer outra coisa que fosse forte o suficiente para causar grandes lesões no ser sem cérebro que sequer tentasse tocar em mim. Mas não, ela não tira nenhuma armar radioativa; ela tira um spray de pimenta! E, sinceramente, eu gosto muito mais da ideia da arma radioativa.

     — Isso é muito clichê! — reclamo, tirando o spray de sua mão e o analisando com as sobrancelhas fransidas, como se fosse algo completamente estranho.

    — É melhor do que ser assediada outra vez.

    Suspiro me rendendo. Apesar de achar isso uma ideia ridícula, ela tem razão, então passo minha mochila para frente na intenção de guardar o spray.

    Mas, mesmo assim, ainda quero a minha arma radioativa.

    — Ah — lembra erguendo um dedo — Se qualquer coisa semelhante ao o que aconteceu ontem, vier à acontecer novamente, ligue para qualquer um de nós o mais rápido possível!

    Assinto e tento sair, mas sou interrompida:

    — Está com as chaves?

   Concordo quase que de imediato e tento atravessar a porta novamente, mas não tenho sucesso.

    — Espera! — Sua voz me faz parar — Mateo! — Chama e em poucos segundos, meu irmão está diante de nós — Você leva a Bruna.

   — Por que não posso ir sozinha?

   — Por quê? Bruna, não acredito que está me perguntando isso!

   — Mas é sério! Eu sempre fui sozinha e nunca aconteceu nada. Os riscos não aumentaram por causa de ontem, eles sempre foram os mesmos!

   — Mesmo assim. Mateo é quem vai te levar hoje.

   — Mas...

   — Mas nada! Tchau!

...

     Eu estou tentando me concentrar, juro que estou, mas isso não significa que estou conseguindo.

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