25. Estou virando um vampiro?

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     Bato a caneta em meu caderno freneticamente, olhando para nenhum lugar em especifico, debaixo das arquibancadas. Tudo isso por causa da escrita.

     Não estou tentando escrever algo relacionado ao meu livro, poemas, ou sei lá. Só estou tentando escrever, nem que seja uma frase, eu só preciso saber que ainda consigo fazer isso, que está tudo bem e não "perdi" essa capacidade de criar, de transformar meus pensamentos em palavras.

     Se for realmente o cansaço, eu estou completamente ferrada. Minha mente não descansa por um segundo sequer, por mais que eu insista e insista, nada adianta.

     — Ei! — Christian branda, segurando em minhas mãos, o que me faz parar e encarar seus olhos — Calma — pede com a voz doce e macia.

     Pelo que parece, seu pedido não adianta  muita coisa: assim que solta minhas mãos, volto a encarar aquele grande nada a minha frente e a bater a caneta no caderno.

     Aquela mesma voz inexistente que sembre insiste em voltar toda vez que aquela pontinha de desespero cresce dentro mim, soa em minha cabeça. Ela diz: "Você precisa escrever, precisa terminar." E quando não diz isso, o que dia é: "Que tipo de escritora você é se escreve quatro capítulos em um dia e duas palavras em outro?! Bruna, você está regredindo!"

      Isso é estressante.

     — Bruna — chama, claramente preocupado — O que está acontecendo?

     Simplesmente o olho e balaço a cabeça com os lábios formando um sorriso triste, como se dissesse que não é nada demais.

     É um fato inegável que Christian tem algum tipo de soro da verdade que faz com que eu cuspa tudo que se passa em minha cabeça em segundos. Mas dessa vez, minha cabeça está tão cheia, estou tão bagunçada que não consigo dizer uma palavra sequer.

      Ao em vez de insistir mais um pouco antes de desistir, como costuma fazer, e como eu pensei que ele fosse fazer, Christian decidiu que iria ficar calado, me envolver em seus braços e tirar com delicadeza o caderno de minhas mãos.

     — Por que não tenta relaxar um pouco, hum? — sussurra antes de colocar um pequeno beijo no topo de minha cabeça.

    — Como se fosse fácil. — Solto um leve riso sarcástico.

    — Só... tenta. Eu sei que às vezes as coisas saem do nosso controle e viramos uma completa bagunça, mas tudo isso é fruto da falta de descanso.

    Suspiro me rendendo ao calor que seu corpo me proporciona e tento apenas esquecer.

     É estranho: mesmo agora sabendo que Christian é teoricamente meu — e, caramba, como é ótimo dizer isso —, sinto meu coração bater tão rápido quando estou perto dele que receio até que Christian possa escutar. Mas é bom.

     — Como foi em Orange? — decido perguntar após um tempo.

     — Foi... Foi um pouco... problemático, eu diria.

    — E por quê? — ao perguntar, pego em sua mão e passo a brincar com seus dedos.

    Christian solta uma leve risada, parecendo lembrar do que aconteceu.

    — Quando passamos o final de semana na casa de meus avós, eles não pararam de brigar nem por um segundo! Foi engraçado, mas bem estressante também. E... — morre com a frase, parecendo desistir de dizer o que estava pensando.

    Eu sei o que ele estava pensando.

    E pela primeira vez, senti algo me corroer por dentro com aquilo. Ciúmes é algo que não deveria existir.

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