23. Orange.

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.Christian.

     — Christian! — Helene reclama na porta do meu quarto — Estamos atrasados! Dá pra ir logo?!

     — Abaixa essa bola aí, Helene. Ainda não estou pronto — digo olhando meu reflexo no espelho, tentando achar a melhor forma de deixar meu cabelo.

    Escuto-a bufar e, conhecendo Helene, sei que está revirando os olhos.

    — Você tem dez segundos — diz com tédio.

    — Ah, por favor! — É minha vez de revirar os olhos.

    — dez, nove, oito...

    — Se puder ficar quieta, eu agradeço. — Agora coloco uma blusa fina, sobre meu corpo.

   — Sete, seis...

   — Helene! — Brando virando para ela.

   — Cinco, quatro, três, dois...

   — Tá, tá, já acabei! Satisfeita?! — digo passando pela porta.

   — Não. — Para à minha frente, por um curto período de tempo, sorri falsamente e desce as escadas com rapidez.

     Apesar de fazer apenas três meses que não moro mais em Orange, me sinto um pouco estranho por estar voltando para lá, mesmo que sejam apenas dois dias, Orange me traz lembranças, boas, ruins... mas traz lembranças.

     Não está sendo tão horrível passar esses dias com Georgia. Apesar de ter a perdoado, minha mente insiste em lembrar que ela mentiu; preferiu se colocar como má, apenas para que não soubesse a verdade. Eu sinceramente não gosto disso.

...

     Como já é de se esperar, aquela pequena parte de Orange continua igual.

     A lanchonete onde trabalhava, minha antiga escola, a praça onde Elle fazia apresentações com sua pequena banda e consequentemente conseguia arrecadar um pouco de dinheiro.

     É como se estivesse vivendo aqui outra vez e, de verdade, prefiro mil vezes a vida que tenho agora.

    Meus pais estavam conversando com os novos proprietário da casa: Um casal de mulheres que acabara de adotar uma criança e precisam de uma casa maior. Já eu e Helene estamos colocando algumas caixas, onde estão as coisas que nossa mãe ainda não conseguiu levar para casa, dentro do carro.

    — Sente falta daqui? — pergunta olhando em volta, como se estivesse facinada com a paisagem.

   — Nem tanta. Prefiro agora, e você? — Olho em volta também, tenho que apertar um pouco os olhos por conta da luz forte que vem do Sol.

   — Também. É estranho voltar aqui depois de um ano. Para você nem deve fazer tanta diferença, já que só se passaram algum meses.

    Apenas assinto pegando uma das caixas que estavam no chão e a colocando dentro do porta-malas.

   Nossa antiga casa fica à frente da praça, daquela praça, onde Elle costuma cantar e tocar.

    Sei que o maior dos motivos do nosso término foi minha mãe, mas devo confessar que, mesmo que eu a amasse, não me sentia confortável com aquilo: vivíamos brigando, sem motivo algum... não era legal.

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