33. Comparação

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     — E aí? — pergunto para Srta. McKenzie, um pouco receosa, após ela dizer que terminou de ler meu livro.

    — Sinceramente, acho que existem muitas coisas que podem melhorar, mas com algumas correções, acho que terá grandes chances de eles aceitarem sua obra. — Suspiro aliviada por não estar algo tão horrível assim.

    Ela diz que podemos começar as correções agora, se eu quiser, já que estamos no horário do Clube de Literatura e os outros poucos integrantes não estão fazendo nada de especial. Eu obviamente concordo e no instante seguinte, ela já está me dando milhares de dicas e fazendo algumas correções.

    — Aqui — Srta. McKenzie mostra com aquela setinha um pequeno parágrafo, indicando que há um erro ali — Está escrito "É incrível como eles continuam insistindo. Parecia que não queriam de jeito nenhum entender meu lado". Até "É incrível como eles continuam insistindo" está escrito no presente, mas o restante, no passado. Você precisa definir um único tempo verbal para que tenha coerência.

      Apenas assinto tentando pegar o máximo de informações possíveis, antes de ela perguntar em qual tempo quero que fique e, após pensar um pouco, decido que será no passado.

     Em uma hora, conseguimos editar três capítulos e realmente tem muita diferença! A forma como está agora é dez vezes melhor do que a anterior, acho que minhas chances de ser publicada aumentaram em cinco porcento.

     — O que acha agora? — Ela pergunta após corrigir algumas partes do quarto capítulo.

     Esse é um dos mais importante, onde Angel finalmente foge de casa e conhece Cole.

     As correções agora não são tantas quanto no primeiro capítulo, agora apenas passamos todas as partes que estão no presente para o passado e substituímos algumas palavras que nem eu, nem ela achamos tão boas assim.

     — Melhorou bastante — sou sincera ao dizer, mesmo não achando tão bom assim.

     É um fato que meus dons para a atuação, simplesmente NÃO EXISTEM! E é claro que Srta. McKenzie percebe que, apesar de eu achar que melhorou, ainda não gosto muito do texto.
    
     — Sabe o porquê de não gostar da sua escrita? — pergunta de repente e eu não respondo, apenas espero que continue — parque está se comparando com autores famosos.

      Talvez isso seja verdade. Quando lembro da escrita da Júlia Quinn, Jane Austen, Celeste Ng, Stephen King ou qualquer outro autor e reparo na minha escrito, fico decepcionada. Como eles conseguem usar as palavras de uma forma tão incrível e por que transformar meus pensamentos em palavras parece ser algo tão fácil e difícil ao mesmo tempo?

     — Se continuar se comparando — continua —, jamais irá gostar do que você escreve. Você não nenhuma J.K. Rowling ou um John Green. — Incrível motivação, Srta. Mackenzie. Incrível motivação... — Mas você é você e é óbvio que sua escrita será diferente do que a qualquer outro escritor. Não se compare com alguém que já escreveu dezenas de obras quando você mal terminou a primeira. Isso é injusto!

      Ela tem razão, mas continuo não gostando muito. Eu amo a história, os personagens, a forma como ela foi desenvolvida... Mas eu não consigo encarar minha escrita como algo minimamente descente.

    — Vamos fazer assim — Torna a dizer com calma — vamos parar com a revisão hoje. Na próxima semana, continuamos e você pode ler os capítulos que corrigimos hoje. Você está cansada, talvez seja por isso que não acha seu texto tão bom. Talvez o ache melhor depois de um tempo longe da escrita.

     Eu apensa concordo porque é verdade. Eu não aguento mais ver tantas palavras sendo apagadas e reescritas.

     Ao fim da reunião do clube, vou direto para casa o mais rápido que posso, por estar exausta e apenas querer maratonar Friends  ou simplesmente dormir — mesmo sabendo que isso não será possível, já que tenho uma Emma muito barulhenta em casa, que não sabe calar a boca por um único segundo.

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