9. Ele Ocupa Muito Espaço.

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      — Você deve ser Bruna Garlick — A terapeuta diz assim que entro em sua sala.

   Ela é negra, cabelo provavelmente alisado, mas lindo, aparenta ter no máximo uns vinte e cinco anos.

     — Isso — É a única coisa que consigo dizer.

    — Izis Cabott, mas quero que me chame apenas de Izis.

   Assenti, e dei alguns paços à frente.

   A sala tem dois sofás: um cinza levemente curvado e um azul claro um pouco menor. Também tem uma poltrona roxa, onde Izis está. Há várias estantes com livros, várias almofadas espalhadas de um jeito organizado pela sala, algumas coisa para ansiedade... Nada demais, bem parecida com uma sala de estar.

     — Pode se sentar — Ela diz sorridente.

    Sento-me no azul claro, ficando mais fácil de ver os detalhes da sala. Meus olhos param no sofá cinza, levemente azulado, e as cenas de ontem voltam em minha, por algum motivo, elas ficam presas ali.

     — Está tudo bem? — Ela pergunta, tirando-me de meus desvaneios e me fazendo perceber que fiquei no mínimo uns trinta segundos olhando para o sofá. Na verdade não. Não via nada, além de meu interior. É como se estivesse olhando por uma janela e o que via não era nada mais, nada menos, do que uma enorme tempestade.

     Balanço a cabeça positivamente com um sorriso sem mostrar os dentes no rosto. Pego a almofada que estava ao meu lado e a pressiono contra meu peito. A ideia de expor meus sentimentos em voz alta me assusta.

    — O que acha de começamos falando sobre você? Conte como é, o que gosta de fazer, quem e como são seus amigos, família...

     Sem que ela perceba, pressiono a almofada com ainda mais força e respiro fundo. Eu não sei se quero falar sobre mim.

    — Eu gosto muito de escrever, muito mesmo — digo não muito alto. Solto uma risada leve, tenho que descontar o nervosismo em algum lugar, né? — gosto muito das músicas da Camila Cabello e Friends, eu amo Friends.

    — Parece que tem bom gosto — Solta um riso — prossiga.

    Ver que temos pelo menos uma coisa em comum, faz eu me sentir mais confortável. Diminuo a pressão que coloco entre a almofada e meu peito.

    — Dizem que sou fria. E eu realmente sou, mas não o tempo todo, pelo menos não quando estou sozinha ou com o...

  Christian. Era isso que iria dizer, mas não consigo dizer em seu nome, sem voltar no que aconteceu ontem e me perder completamente. Outra vez.

    — Com o...?

    — Com ninguém.

   Ela assente. Sabe que eu estou, sim, pensando em alguém. Sabe que ninguém é, sim, alguém.

    — O que acha de falarmos sobre seus amigos agora? Não parece confortável ao falar sobre você.

    Meu amigos. Isso envolve Christian.

    — Tenho três amigos no total: Hillary, Jhonatan e...

    — E...?

   — Christian — Falo e, na mesma hora, aquela cena volta, mas fecho meus olhos com força tentando esquecer.

   — Esse Christian? É a pessoa que iria falar agora pouco, não? A única pessoa com quem não é fria?

    — Isso — minha voz sai baixa.

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