Capítulo 84

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Capítulo 84

As duas semanas de treinamento, apesar de cansativas, foram também empolgantes. Eu estava ansioso para começar meu mais novo desafio: pilotar o A320.

Quando contei a Liam, por mensagem de texto, que estaria voando um Airbus, ele riu da ironia do destino, já que ele – um apaixonado pela Airbus – estava voando o Boeing 757 na American Airlines, enquanto eu – um apaixonado pela Boeing – voaria o A320.

Jessie jantou comigo na noite anterior ao meu primeiro dia como piloto em exercício e fez questão de me parabenizar:

— Meus parabéns, capitão, amanhã você começa. Está ansioso?

— Na verdade não sou mais capitão. Aqui sou só o Primeiro Oficial. Mas obrigado. E, sim, estou muito ansioso.

— Primeiro Oficial?

— É um nome chique para copiloto.

Ela riu.

— Vai voar para onde amanhã?

— Por enquanto só sei que tenho um voo para Harrisburg. Depois disso, vai depender de onde a companhia irá me mandar. Sou um piloto reserva.

Durante os primeiros meses, os novos pilotos da United Airlines trabalham em escala de Reserva, algo que eu nem sabia que existia até ter entrado para uma linha aérea. Mas basicamente o que significa é que nem sempre sabemos quais serão nossos próximos voos. Recebemos uma escala com alguns voos designados para aquele mês, para atingir as horas mínimas de serviço, mas a maioria dos dias se resume a estar de plantão, pronto para ser chamado em um voo a qualquer momento.

Como piloto de reserva, eu estava incumbido de cobrir quaisquer voos que não fossem atribuídos a outro piloto naquele mês, ou uma viagem que o piloto originalmente agendado não pudesse mais fazer por várias razões – por exemplo, treinamento anual, doença súbita, ou atrasos / cancelamentos em voos anteriores.  Pilotos de reserva, como eu, ajudam uma companhia aérea a voltar a programar a operação após condições climáticas severas ou outras grandes interrupções no serviço.

Para alguns pilotos era horrível a ideia de não saber exatamente para onde iriam em determinado dia. Mas para mim era como no trabalho anterior que tinha com Pickford. Já estava acostumado.

Finalmente chegou o dia de voar. Eu deveria sair de Newark às 8h30 da manhã para ir a Harrisburg, Pensilvania. Comecei a me aprontar cerca de três horas antes da partida, para chegar ao aeroporto a tempo de me preparar para o meu voo. Cheguei ao terminal com bastante tempo, mas o avião estava um pouco atrasado.

Conheci minha equipe de trabalho para aquele dia; eu voaria ao lado do experiente comandante e instrutor capitão Flannagan, um senhor aparentemente simpático. Nós nos apresentamos e conversamos com o restante da tripulação, fazendo um briefing sobre o próximo voo.

Quando o avião chegou e os passageiros desembarcaram, recebemos um breve resumo do avião e do clima na rota dado pela tripulação que havia acabado de chegar, então sentamos e começamos os preparativos para nosso voo.

Como primeiro oficial, eu tinha a tarefa de revisar os registros de manutenção, os documentos da aeronave e os equipamentos de segurança, garantir que o exterior do avião estivesse em condições seguras, e revisar a papelada do voo. Checamos o tempo para a nossa rota, e parecia bom o tempo todo, com apenas algumas pancadas de chuva à medida que nos aproximássemos do nosso destino.

O capitão e eu terminamos nossas tarefas na mesma hora em que os últimos passageiros estavam embarcando e as malas restantes estavam sendo carregadas no compartimento de carga.

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now