Capítulo 40

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Capítulo 40

À medida que os dias iam passando, os preparativos para o casamento se intensificavam. Eu já quase não via minha mãe ou Pickford. Mas estava sempre me encontrando com Rebecca em sua casa para os ensaios.

No decorrer dos dias da semana, porém, minha rotina era outra. Havia finalmente me tornado instrutor de voo por instrumentos na Embry-Riddle, e era difícil conciliar este emprego com o que eu já tinha como tutor de Jenna. Mesmo assim, continuei a vê-la nos dias em que isso me era possível.

Certo dia, depois dos estudos, estava prestes a ir embora da casa, quando pensei em quebrar minha promessa a Jen, ignorar o conselho dado por Becca e contar à Jolene sobre o tal Zack. Mas mudei de ideia quando encontrei Jolene chorosa na varanda.

— Está tudo bem, Jo?

— Ah, oi Sam. Eu não te vi chegar — ela enxugou as lágrimas rapidamente com o dorso da mão.

— O que houve?

— Ah, não é nada. Acho que estou tendo uma crise de meia idade — minimizou.

— O que está acontecendo? — insisti.

Levou alguns segundos para que ela começasse a falar:

— Honestamente? Acho que perdi o controle sobre minha vida. — Jolene retirou do bolso um único cigarro ligeiramente amassado e o acendeu usando um isqueiro aparentemente novo. Depois de ter dado um trago, ela ofereceu o cigarro para mim. — Você quer?

— Não, obrigado. Eu não fumo. E você também não deveria! Aliás, desde quando você fuma? Se me lembro bem, você criticava sua mãe por isso.

— Eu também não fumo — ela disse. Mas logo depois deu mais uma longa tragada e soltou a fumaça pelas narinas. — Pelo menos não mais. Isso é só uma crise.

— Jo, o que está havendo? Você pode falar comigo.

— Quer saber o que é que há? — depois de mais um último trago, ela jogou o cigarro ainda quase inteiro no chão e pisou para que apagasse. — Minha mãe morreu. Minhas filhas mais velhas foram embora para longe. Minha filha mais nova quase não conversa mais comigo, além de estar virando uma rebelde sem causa. E, para piorar as coisas, meu marido encontrou sua mais nova paixão: o pôquer. Eu passo a maior parte do tempo sozinha nesta casa e me sinto solitária. Quero minha família de volta. É isso que está havendo.

Só então parei para pensar e percebi que de fato quase não via mais James pela casa. Minha única reação foi abraçar Jolene naquele momento. Ela me abraçou de volta.

— Você precisa conversar com Jen — falei enquanto ainda estávamos abraçados.

— É. Eu sei. Só não sei como.

— Você é mãe dela. Vai arranjar um jeito.

— Ela não me ouve mais, Sam. Não sei o que está acontecendo. Juliet e Jessica sempre foram tão boas! Nenhuma delas nunca me deu tanto trabalho. Mas Jenna anda impossível! Se mamãe estivesse aqui, ela saberia como dar um jeito nisso!

— É, Amelia era uma influenciadora nata — concordei.

— Ela era um furacão, isso sim! — Jolene riu e depois suspirou. — Sinto falta dela. Ela foi uma mãe melhor do que eu jamais serei.

— Eu sei que sente falta dela. — Segurei sua mão. — Mas também sei que você é uma ótima mãe! Você criou três garotas lindas, gentis, inteligentes e adoráveis! Uma mãe ruim não conseguiria tal feito.

— Isso é verdade. — Ela se abaixou, pegou o cigarro do chão e o atirou no lixo. — Como dizia minha mãe: este foi o último.

Nós dois sorrimos, mas o sorriso de Jolene, apesar de sincero, parecia pesaroso.

— Espero que você e Jen se resolvam logo — afirmei, desejando muito que aquilo realmente acontecesse.

Preferi não contar tudo a ela. Sabia que eventualmente ela iria conversar com Jen e que elas se entenderiam como mãe e filha. Decidi não interferir mais na privacidade delas, com medo de piorar a situação.

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now