Capítulo 34

36 8 0
                                    

Capítulo 34

Ao passar pela porta, vi que Pickford e Rebecca estavam ali, observando tudo o que acontecia lá dentro. Os dois pareciam não acreditar no que haviam acabado de presenciar. Passei por eles olhando diretamente para o chão, e saí caminhando enfurecido. Subi até o quarto onde estavam minhas coisas, peguei tudo, coloquei a mochila nas costas e abandonei a mansão.

Enquanto estava andando do lado de fora, procurando a saída da gigantesca propriedade, ouvi passos apressados atrás de mim. Me virei para pedir que me deixasse em paz, mas, para minha surpresa, não era minha mãe, nem mesmo Meggie. Era Rebecca.

— Sam! — gritou, ofegante. — Sam, espere! Não vá embora!

— O que você quer?

— Me desculpa. Eu não queria bisbilhotar, mas não pude evitar de ouvir. Olha, eu sei que mal nos conhecemos, e eu posso não saber muito sobre você ou sobre sua família, mas, acredite, eu sei muito sobre brigas com os pais.

— Muito obrigado. Mas, com todo respeito, eu não quero seus conselhos.

Já estava me virando novamente quando ela gritou ainda a distância:

— Se você for embora agora, e alguma coisa acontecer com você lá fora, sua mãe nunca vai te perdoar. Ou se perdoar. E nem você a si mesmo. Não faça isso, não saia por aquele portão.

Eu parei para pensar um pouco sobre aquelas palavras. Claro que havia uma certa verdade nelas. Era algo a se ponderar. Mas eu estava tomado pela raiva e só queria ir embora.

— Eu tenho que ir embora.

— E para onde você vai?

— Para casa.

— Com que carro?

— Eu pego um ônibus.

— É noite de natal. Você não vai conseguir chegar a lugar nenhum. Não tem que fazer isso. — Ela chegou mais perto. — Olha só, se você quiser fugir deles, tudo bem. Eu tenho o esconderijo perfeito. Ninguém precisa saber que está aqui. E aí, quando você se sentir melhor, pode conversar com sua mãe e se acertar.

— Por que se importa?

— Porque agora isso afeta a minha família também. — Ela abaixou os olhos, parecendo triste. — E eu não quero que você cometa os mesmos erros que eu.

Eu fiquei curioso para entender o que Rebecca queria dizer com aquilo tudo. E também era fato que eu provavelmente não conseguiria chegar a lugar algum sem um carro, na noite de natal. Por isso, concordei em ficar no tal "esconderijo" dela.

Tratava-se de um dos chalés a beira-mar, que ficava relativamente longe da mansão principal, apesar de ser no mesmo terreno. Era um lugar bem aconchegante e limpo. Havia três quartos. Rebecca estava em um e me deixou escolher outro. Fiquei com o que tinha a porta de frente para o dela.

O chalé era muito menor do que a mansão principal ou a casa de hóspedes, mas ainda assim era grande. Eu poderia ficar ali por quanto tempo quisesse. Para todos os efeitos, eu havia partido.

Mais tarde naquela mesma noite, Rebecca e eu estávamos sentados na pequena sala de estar do chalé, tomando chá de hortelã que ela mesma havia feito, quando decidi perguntar:

— O que você entende sobre brigas com os pais?

— O quê?

— Você disse que entendia desse assunto, e que não queria que eu cometesse os mesmos erros. Estou curioso. Quais erros você cometeu?

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now