Capítulo 64

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Capítulo 64

Demorou um pouco para que Rebecca voltasse. Ela chegou buzinando na frente da casa, como se fosse uma entregadora de pizza.

— Preciso de ajuda — gritou ao descer do carro.

Liam e eu fomos ao socorro dela, preocupados.

— Onde você se meteu?

— Primeiro, trabalho. E depois fui buscar minhas coisas. E também Anne-Sophie Pic. Anda, me ajudem a carregar o aquaterrário dela para dentro.

O viveiro estava cheio. Tinha água suficiente para a pequena tartaruga nadar lá dentro, mas também tinha terra o bastante para ela conseguir sair de dentro d'água se quisesse.

— Você tinha que trazer isso cheio? — Liam reclamou enquanto carregávamos o pesado tanque de vidro para o quarto de Rebecca.

— Trabalho? Espera, desde quando você trabalha? E por que não me atendeu? — perguntei, depois de já termos terminado de levar suas coisas para dentro da casa.

— Eu estava ocupada. A propósito, sim, arranjei um emprego. Naquele restaurante pequeno, perto daqui. O de Port Orange.

— É isso aí, mandou bem! — Liam a parabenizou, erguendo a mão para que ambos fizessem um "high-five".

— Espera aí — falei —, não é aquele que disse que você era qualificada demais para a vaga?

— E daí? — Rebecca respondeu, indiferente. — Eu posso ser uma auxiliar de cozinha extraordinária.

— Mas Becca, com seu currículo, você consegue coisa melhor.

— Eu tenho que começar de algum lugar, não tenho? Pois vou galgar meu caminho até o topo. E não preciso da ajuda do meu pai para isso.

— Você começa quando? — Liam perguntou.

— Comecei ontem. E já trabalhei muito hoje. E tenho que trabalhar amanhã. E estou exausta. Então boa noite, meninos. Tem guisado na geladeira.

Rebecca se trancou em seu quarto e não falou mais conosco naquela noite.

A partir de então, toda nossa rotina mudou. Rebecca passava muito tempo fora, trabalhando. Liam começou a fazer crossfit e assim passava boa parte do seu tempo livre fora de casa também. Eu voltei a dar aulas para Jen, agora sem dias fixos. Eu a via sempre que podia, quando não tinha voos agendados para aquele dia. Foi a forma que encontrei de me manter perto dela, e da família de Jessie. Além disso, eu não queria passar todo meu tempo sozinho naquela casa vazia em Spruce Creek.

Também visitava minha família em Manalapan, pelo menos uma vez por semana, para matar a saudade de Meggie e de minha mãe. Becca ás vezes ia comigo, quando estava de bem com seu pai. Outras vezes preferia só ficar em casa com Liam mesmo.

Por causa de seu novo trabalho, Rebecca e eu passamos a nos ver quase que só durante as noites. Liam muitas vezes convidava Angelica para ir até lá, e nós jogávamos jogos de cartas ou de tabuleiro. Eu e Becca fazíamos um ótimo time, principalmente porque ela era muito boa com jogos e extremamente competitiva. Eu só não gostava quando mudavam os times e íamos meninos contra meninas, porque aí eu e Liam éramos quase sempre derrotados, provando que eu e Becca não éramos um time tão bom assim, ela é que era excepcional.

Às vezes, quando não estávamos jogando, assistíamos tevê a noite, até alguém pegar no sono. Rebecca gostava de ver programas de culinária nos quais eu e Liam também acabamos nos viciando. Acompanhávamos todos.

Uma noite, não pude assistir ao nosso programa favorito, porque fui atender a uma ligação de Jessie. Ela só queria me informar que iria passar o recesso de primavera com seus amigos nos Hamptons.

— Você devia vir — ela convidou —, vai ser muito divertido.

— É, parece divertido mesmo. Mas não posso. Tenho que trabalhar. Divirta-se.

Não é que eu não queria ir, mas realmente não podia. Eu já não fazia mais distinção dos feriados e recessos escolares, porque não estudava mais. E no meu trabalho eu tinha de estar a disposição de Pickford, não importando que dia da semana ou do mês fosse.

— Mas eu vou aí no verão. Aí vamos poder nos ver o quanto quisermos — Jessie prometeu. Como se aquilo fosse servir de consolo do fato que eu já não a via há quase um ano.

Estive perto de ir ver Jessie em no meio do recesso de primavera, quando tinha voado com Pickford para Massachusetts. Não era muito longe dos Hamptons. Mas também não era perto o suficiente para visitá-la em um único dia que passamos lá. Por isso desisti da ideia.

O mês de abril chegou e, com isso, completava-se oficialmente um ano desde a última vez que eu e Jessie havíamos nos visto, na festa de aniversário de Jen. Achei que nos veríamos de novo ao menos naquele dia, mas não houve celebração naquele ano. Jen não quis fazer uma festa de "Sweet Sixteen". Em vez disso, preferiu ganhar uma viagem com seus pais ao teatro Bolshoi, na Rússia, que eles fariam no verão.

Assim os dias se passavam, no peculiar ritmo de nossa rotina incomum e imprevisível.

Uma noite, Rebecca e eu estávamos jogados no sofá da sala, assistindo a um reality show canadense de reformas de casas, quando meu telefone tocou. Era Jen. Eu me preocupei. Já passava da meia noite, o que será que ela poderia querer comigo tão tarde assim?

— Jen? Está tudo bem? — já atendi perguntando.

— Sam — a voz dela soava trêmula —, preciso de ajuda. Preciso muito da sua ajuda!

SOB O MESMO CÉUHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin