Capítulo 66

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Capítulo 66

Jen havia finalmente controlado seu choro quando chegamos em casa. Eu já tinha conseguido estancar meu sangramento, e Rebecca parecia estar a mais tranquila dentre todos nós.

— Pode passar a noite no meu quarto — ofereci para Jen. — Eu durmo na sala.

— Ou ela pode ficar no meu quarto comigo — Becca também ofereceu.

— Mas o meu quarto é melhor. Ela vai poder ter mais privacidade. E um banheiro só para ela.

— Parece bom — Jen concordou. — Eu preciso mesmo de um banho.

Ela entrou em meu quarto e trancou a porta. Eu me sentei no sofá, ainda tentando assimilar tudo o que tinha acabado de ocorrer. Becca veio da cozinha com um saco de ervilhas congeladas e se sentou ao meu lado.

— Aqui, coloca isso na testa — ela me entregou o pacote gelado.

— Obrigado.

Rebecca parecia querer dizer algo, mas abriu e fechou a boca algumas vezes, em  hesitação, até finalmente ter coragem de falar:

— Sam. Jen fez sexo com aquele cara.

— O quê? Ela te disse isso? — perguntei, surpreso.

— Não. Mas está na cara. Por que mais ela iria te ligar no meio da noite, em desespero, querendo sair de perto dele? E você viu como ela não parava de chorar?

— Mas ela disse que...

— Eu ouvi o que ela disse. Mas encare os fatos. Eu tenho quase certeza de que eles transaram.

— Vou lá falar com ela — eu tentei me levantar, mas Becca me segurou pelo ombro.

— Não! Agora não. Deixe ela descansar. Ela precisa de um pouco de espaço neste momento. Deve estar confusa e se sentindo péssima. Uma "primeira vez" horrível já é traumático demais. Falo por experiência própria. A última coisa que ela precisa agora é de um sermão.

— Mas eu não entendo. Por que ela mentiria sobre isso para mim?

— Bom, ela com certeza não quer falar sobre isso agora. Mas já confiou em você o suficiente para te chamar no meio da noite para tirá-la dessa enrascada. Ouvi você reclamar por meses dizendo que queria que Jen voltasse a ser sua amiga. Não estrague tudo dessa vez. Dê apoio a ela. Esteja lá como o amigo que ela precisa nesse momento, não como um juíz.

— Tudo bem — concordei. — A propósito, obrigado por ter ido comigo. Não sei o que teria sido de nós se você não estivesse lá. Você é incrível!

— Sou mesmo — ela sorriu. E eu ri com a resposta dela.

Houve um silêncio confortável entre nós, enquanto nós dois nos entreolhávamos. Eu suspirei. Ela falou:

— Está com sono?

— Nenhum. E você?

— Também não. Vou preparar alguma coisa para comermos. Que tal uns nachos?

— Mas você nem gosta de comida mexicana.

— Não muito — ela disse. — Mas você gosta. E eu gosto de você o suficiente para fazer esse sacrifício.

Eu sorri, involuntariamente.

— Então eu vou querer, sim.

— Vem me ajudar.

Fomos os dois para a cozinha, no meio da madrugada, preparar nachos. Pouco depois, Jen se juntou a nós. Estava com os cabelos molhados e de pijamas. Disse que não conseguia dormir. Eu preferi não interrogá-la sobre o assunto, seguindo os conselhos de Becca. Então ficamos os três comendo e conversando sobre qualquer outra coisa, em frente à tevê.

Nossa algazarra deve ter acordado Liam, que apareceu sem camisa, totalmente descabelado e bocejando.

— O que estão fazendo?

— Lanche da madrugada — Rebecca respondeu. — Você quer?

— Não estou com fome — Liam recusou.

— Claro que não está. Mas as pessoas não fazem lanche da madrugada porque estão com fome, Liam, fazem porque se sentem vazias por dentro — Becca brincou. Todos rimos. — Agora, você vai querer uns nachos ou não?

Liam acabou cedendo e se juntou a nós. Ficamos os quatro espremidos no mesmo sofá, dividindo a mesma bandeja de nachos quentes com molho de cheddar e pimenta jalapeño, madrugada adentro.

Jen pegou no sono ao meu lado. Quando Liam e Rebecca se levantaram para ir para seus respectivos quartos, eu pensei em carregar Jen para minha cama e deitá-la lá. Mas quando a toquei, ela se retraiu inteira e abriu os olhos.

— Só vou te levar para a cama — sussurrei.

— Eu posso ir sozinha — ela retrucou. Então se levantou, encolhida, e foi cambaleando pelo corredor, tateando em direção ao quarto.

Eu dormi ali mesmo, no sofá.

No dia seguinte, Jen tomou café da manhã com a gente, antes de eu levá-la para sua casa. Ela estava mais calada do que o de costume, e nós trocamos poucas palavras até ela ir embora.

Nas semanas que se seguiram, Jen continuava assim, de poucas palavras. Eu queria conversar com ela sobre tudo o que tinha acontecido, queria que ela confiasse em mim o suficiente para me dizer caso tivesse feito alguma coisa, mas ela se recusava a falar sobre o assunto. Tudo que disse foi que ela e Zack tinham terminado e que eu não precisava me preocupar mais.

Nas poucas vezes em que vi Jen durante as semanas seguintes ao acontecimento, pensei que ela só estivesse triste com o término de seu namoro. Havia tido seu coração partido por seu "primeiro amor", se é que podíamos chamar assim. Mas já haviam se passado semanas e ela estava cada vez mais melancólica. Comecei a me preocupar.

Numa tarde, quando cheguei à casa dela, Jen estava em seu quarto, deitada na cama, em posição fetal, com lágrimas nos olhos.

— Jen, o que está havendo? — perguntei, tentando ser o mais amoroso possível.

— Sam, eu fiz uma besteira — ela enfim confessou.

— O que foi, Jen? Você sabe que pode falar comigo, não sabe? — Sentei-me na beirada da cama e afaguei seus cabelos dourados.

— Eu não sei como te dizer isso. Mas preciso que faça mais uma coisa por mim. — Ela fungou. Continuava chorando baixinho, sem me olhar diretamente nos olhos.

— Qualquer coisa — respondi, de prontidão.

— Preciso que vá até a farmácia e... e compre um teste de gravidez para mim.

SOB O MESMO CÉUHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin