Capítulo 46

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Capítulo 46

Pontualmente às 10 da manhã, encontrei Jessie na frente do apartamento de sua irmã. Ela estava linda, usando um suéter de tricô azul-claro, com um sobretudo preto por cima. Ainda fazia muito frio em Nova York naquele fim de fevereiro.

Eu não tinha planejado nada. Apenas queria passar algum tempo com Jessie, estar perto dela e curtir sua companhia. Por isso, foi ela quem nos guiou por onde quis.

Para começar, fomos até Hell's Kitchen para experimentar (segundo ela) o melhor donut da cidade, na Underwest Donuts.

Underwest era, sem dúvida, a mais estranha das lojas de donuts da cidade. Ela ficava em uma antiga sala de espera de uma instalação de lavagem de carros impressionantemente grande, na West Side Highway, do outro lado da rua do porta-aviões Intrepid. O espaço estreito possuía janelas do chão ao teto, que davam para o lava-jato, onde os veículos deslizavam por correntes e gigantescos esfregões encharcados.

A despeito da curiosa aparência, devo confessar que os donuts da Underwest são, de fato, os melhores que já comi! Experimentamos ao todo 8 das 11 opções disponíveis. Meu favorito foi, de longe, o Maple Waffle. Caramba, aquele donut era fenomenal! A fina camada de cobertura penetrava a densa massa, levando a uma corona de sabor que explodia na boca. Havia pequenos pedaços de nozes no topo e um pedaço de biscoito de waffle, que não podia competir com o donut, então guardei para mais tarde.

Depois do café da manhã nada saudável, Jessie disse que iria me levar para conhecer seu lugar favorito na cidade. Fiquei curioso para saber do que se tratava, já que ela era uma pessoa indecisa e não tinha muitos "favoritos".

Ela fez mistério. Eu fiquei tentando imaginar onde seria. Uma praia? Naquele frio era, no mínimo, improvável. Talvez um parque? Ela tinha me levado ao Central Park em nossa primeira visita a Nova York juntos, e aquele também era o lugar favorito de Juliet, então havia uma possibilidade.

Mas, para minha surpresa, nós estávamos em meio a altos edifícios em Midtown East, no coração de Manhattan, quando Jessie falou com a voz carregada de entusiasmo:

— Chegamos!

— É aqui?

Eu olhei ao meu redor e fiquei ainda mais confuso. Não dava para ver nada que pudesse vagamente se assemelhar a um lugar onde eu imaginaria que Jessie gostaria de passar algum tempo. Não havia nada de especial naqueles prédios a primeira vista. Mas isso foi só até passarmos pelas pesadas portas do edifício Ford Foundation e sermos transportados para um lugar completamente diferente da selva de concreto que ficou do lado de fora.

Lá dentro estava o Ford Foundation Atrium. Um foyer de vidro de 12 andares, que abrigava um jardim tropical cheio de árvores imponentes, samambaias penduradas, gardênias e fronteiras herbáceas prodigiosas. Vinhas suspensas pendiam das vigas do recinto, que circundavam um lago contemplativo e uma fonte de água adjacente cercada por uma vegetação luxuriante.

Eu fiquei sem palavras tão logo coloquei os pés ali dentro. Aquilo era simplesmente inacreditável! Um jardim botânico dentro de um edifício de escritórios, escondido em um quarteirão comum entre a 1ª e a 2ª avenida em Manhattan; aquele lugar fascinante certamente passava despercebido por entre a arquitetura tipicamente vertiginosa de Nova York.

Jessie e eu nos sentamos lado a lado e passamos um tempo considerável em uma espécie de contemplação silenciosa, sentindo o cheiro fresco de gardênias e ouvindo o suave som da água escoando.

— Esse lugar não é incrível? — Jessie finalmente perguntou com um suspiro. A cabeça dela estava aninhada em meu ombro, nossos braços juntos, as mãos dadas e os dedos entrelaçados.

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now