Capítulo 58

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Capítulo 58

De volta à Flórida, só tivemos uma única semana de descanso antes do início das aulas, em setembro. Aquele seria nosso último período na faculdade, e eu podia ver que até mesmo Liam estava quase tão apreensivo quanto eu com relação ao futuro.

— Preparado para o último período? — Perguntei, enquanto caminhávamos pelo corredor em direção à porta da sala de aula de Fraseologia Aeronáutica III.

— Não. Na verdade não — Liam respondeu, sempre sincero. — E você?

— Com certeza não.

— Bom, então vamos nessa!

Esse era nosso ânimo para enfrentar o semestre final.

Sobre minha situação com Jen, eu ainda estava tentando ser cuidadoso. Sabia que ela não tinha me perdoado completamente, mas ela ainda tinha que estudar comigo duas vezes por semana, e era nesses momentos que eu tentava reconquistar sua amizade e, especialmente, sua confiança.

Não demorou muito para que ela voltasse a se abrir comigo, afinal Jen era uma garota muito expressiva, e nós éramos bastante próximos. Era fácil dizer quando ela estava feliz ou triste, satisfeita ou aborrecida, alegre ou apreensiva.

Ela tentava não falar muito comigo sobre seu namorado, mas às vezes não conseguia evitar de dizer coisas como "Zack me deu um presente", ou "briguei com Zack", ou "vou sair com Zack essa noite". E eu a ouvia de bom grado, porque era bom saber que Jen estava voltando a me confidenciar coisas, era boa a sensação de que nós éramos amigos de verdade outra vez.

À medida que minha reaproximação com Jen vinha sendo bem sucedida, eu me sentia cada vez mais distante de Jessie. Isso me chateava bastante. Nós ainda nos falávamos quase todos os dias, por mensagens, mas já não era a mesma coisa. Pensei que a veria no dia de ação de graças, como no ano anterior, mas desta vez não foi assim. Sua família toda foi para Nova York, comemorar junto da família de Marcus. Com isso, já havia se passado meses desde a última vez que a vira, e não havia sequer previsões de quando a veria de novo.

De qualquer forma, nunca um semestre de outono passou tão inacreditavelmente rápido. O tempo voou e, antes que tivéssemos nos dado conta, o derradeiro período de faculdade chegou ao fim. Aquele ciclo estava se encerrando. Eu olhava para trás, para tudo o que tinha ocorrido naqueles últimos quatro anos e meio, e não conseguia acreditar em como tudo tinha se passado como um sonho. Ainda que alguns momentos pareceram se arrastar, passar em câmera lenta, outros passaram tão depressa que era difícil até mesmo recordar. Não havia, até então, um período de minha vida que tivesse sido mais intenso ou significativo do que aquele. A faculdade realmente havia mudado quem eu era. Felizmente, creio eu, para melhor.

O dia de nossa formatura foi um dia histórico, não somente para nós, mas para toda a universidade, já que contou com a maior turma de formandos de todos os tempos no campus de Daytona Beach da Embry-Riddle. Foi uma belíssima cerimônia no dia 17 de dezembro no Ocean Center, na qual 540 estudantes de 49 países receberam diplomas, incluindo o maior grupo de doutorados já concedidos em uma graduação. A turma de formatura do outono de 2018 incluiu 432 alunos em bacharelado, 93 em mestrado e 15 em doutorado. Também tivemos 21 alunos que receberam comissões militares — sete oficiais da reserva da Força Aérea, seis oficiais da reserva da Marinha / Corpo de Fuzileiros Navais e oito oficiais da reserva do exército.

Após a procissão e apresentação das cores, o reitor Lon D. Moeller abriu a cerimônia recebendo estudantes, professores, funcionários, amigos e familiares no Ocean Center, na avenida Atlantic, número 101.

O Presidente P. Barry Butler, em seu discurso de abertura, nos relembrou que, há 115 anos, em 1903, os irmãos Wright pilotaram uma aeronave para inaugurar a era do voo. Invocando a importância do trabalho em equipe, Butler disse que, por causa dessa conquista, o mecânico dos Wrights, Charlie Taylor, se tornou o primeiro engenheiro aeronáutico da história, e a irmã dos Wrights, Katharine, foi a pioneira nos negócios da aviação. Butler também falou da NASA comemorando o 50º aniversário do programa Apollo, e que quando Neil Armstrong pisou na lua durante a missão Apollo 11, ele honrou os irmãos Wright e o legado de sua equipe, carregando consigo um pedaço de tecido da asa do avião dos Wright.

O membro do Conselho de Administração da Embry-Riddle e general aposentado Ronald Keys fez o segundo discurso e falou sobre a necessidade de preparação, paixão e perspectiva ao longo da vida. Ele lembrou aos graduandos que agora pertenciam a uma das comunidades mais respeitadas, conectadas e confiáveis ​​do mundo — os alunos da Embry-Riddle — e que seus colegas estariam lá para pedir apoio, ajudá-los a se preparar, compartilhar sua paixão e ajudá-los a manter a perspectiva.

O orador da turma de formandos foi ninguém menos que nosso querido Liam River Rashford que, além de capitão do time, era o representante da turma, um líder nato. Liam, assim como eu, estava recebendo seu Bacharelado em Ciências Aeronáuticas e ele também proferiu um discurso inspirador, é claro, como o bom orador que sempre foi, e concluiu suas observações dizendo aos colegas para se lembrarem de que "para alguns, o céu é o limite, mas para nós, é apenas o começo".

O dia de nossa formatura foi, sem dúvida alguma, um dos dias mais marcantes de toda a minha vida. A única coisa que poderia tê-lo feito ainda melhor, seria se Jessie estivesse lá. Mas ela não estava. Jen estava, assim como seus pais, James e Jolene. Todos se deram ao trabalho de estar ali naquela segunda feira, somente para me prestigiar. Toda minha família também estava lá. Minha mãe, com lágrimas nos olhos, minha irmãzinha Meggie e também Becca, a irmã que a vida me trouxera de presente, assim como seu pai, Pickford, que também compareceu à cerimônia. A mãe e o padrasto de Liam também foram, cruzaram o país, saindo da Califórnia para estar ali com ele. Angelica também estava lá e chorou com o discurso de Liam. E foi assim que eu soube que eles haviam reatado (de novo).

Não me lembro de outras ocasiões em minha vida nas quais eu tivesse sentido um misto de emoções tão inexplicavelmente grande. Eu sentia uma alegria esfuziante, mas também uma certa tensão, ainda assim sentia alívio, um sentimento de dever cumprido, mas também uma apreensão enorme quanto ao futuro, sobre como seriam as coisas a partir dali.

Eu nunca fui de chorar. Muito menos chorar na frente das pessoas. Mas naquele momento, tantas emoções conflitantes habitando juntas dentro de mim, só poderiam se traduzir como lágrimas. E eu me permiti debulhar-me nelas. Tive uma catarse, breve, porém impactante.

Rebecca foi quem me deu o abraço mais longo ao final da cerimônia.

— Meus parabéns — ela disse —, você agora é um homem formado. Como se sente?

— Perdido — respondi com a única palavra que consegui encontrar para me descrever naquele momento, com toda a sinceridade de meu coração.

— Bem vindo ao clube, meu irmão, bem vindo ao clube... — ela deu dois tapinhas em meu ombro. — C'est la vie.

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now