Capítulo 76

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Capítulo 76

Meggie estava dormindo quando chegamos. Não era mais horário de visitas, mas Pickford deu um jeitinho de entrarmos. É incrível o que se pode fazer quando se tem uma quantidade absurda de dinheiro e um certo poder de persuasão na fala.

Entrei no quarto onde ela estava internada e a vi ali, deitada, a cânula de oxigênio em seu nariz, o acesso intravenoso com a típica vermelhidão de inflamação em volta, o oxímetro preso em seu dedo que media sua saturação... Eu já a havia visto nesta situação tantas e tantas vezes, e sempre me abalava.

Minha mãe estava sentada na poltrona verde ao lado da cama de Meggie, com os óculos baixos demais sobre o nariz, fazendo palavras cruzadas. Nada daquilo era novidade. Era uma rotina com a qual já estávamos habituados. Ainda assim, partia meu coração todas as vezes.

Não quisemos acordá-la. Ela parecia tranquila. Ficamos no corredor, do lado de fora da porta do quarto de Meggie. Pickford me chamou num canto. Eu me aproximei.

— Olha, eu não queria te pedir isso... Mas é que sua mãe já está exausta, eu queria levá-la para descansar um pouco em casa. Será que você poderia...

Antes que ele terminasse sua pergunta, eu já respondi:

— Claro, podem ir. Eu passo a noite aqui com Meggie. Não se preocupem.

— Obrigado, filho.

Eu queria ter corrigido quando ele me chamou assim. Mas ele sabia que eu não era seu filho, tanto quanto eu sabia que ele não era meu pai. Então simplesmente deixei passar.

— Faça minha mãe descansar, por favor.

— Eu vou tentar — ele sorriu —, mas você conhece Irina... É difícil convencê-la.

— É verdade.

Era verdade mesmo.

Todos foram embora, passar a noite na Gemini. Becca com certa relutância, mas depois de insistirem um pouco, ela cansou de resistir e acabou cedendo. Deixou um bom pedaço do cheesecake para que eu não dormisse com fome.

Passei a noite naquela desconfortável poltrona de couro falso, vendo as enfermeiras entrarem com uma frequência perturbadora para medir os sinais vitais de Meggie, ou trocar sua bolsa de soro, ou lhe dar alguma dose de medicação.

Era bem cedo pela manhã quando minha mãe voltou. Meggie estava usando seu colete vibratório e cuspindo catarro em uma pequena bacia de plástico deixada por uma das enfermeiras. Pickford também entrou no quarto segundos depois, e me perguntou se eu queria ir embora.

— Vou deixar Becca em sua casa no caminho para a sede. Se você quiser, pode vir conosco.

— Você vai precisar de mim para algum voo amanhã ou depois? — questionei.

— Não. Por ora, não.

— Então prefiro ficar aqui. Posso revezar com minha mãe, assim nenhum de nós fica cansado demais.

— Tudo bem, você é quem sabe — ele permitiu.

Então eu e minha mãe combinamos horários para nos revezamos como acompanhantes de Meggie no hospital. Quando um estava lá, o outro podia ir para a Gemini, para descansar.

Os dias e noites pareciam se arrastar. Eu ficava me perguntando como Meggie conseguia lidar tão bem com aquilo.

O aniversário dela chegou e, em vez de estarmos celebrando com uma festa como ela merecia, estávamos ali naquele hospital. Alguns amigos vieram visitá-la e deixaram balões e cartões de aniversário e alguns de "fique boa logo".

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now