Capítulo 14

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Capítulo 14

Ouvi barulhos vindos da cozinha, levantei-me e caminhei sorrateiramente até lá. Me deparei com Jessie atordoada, lutando contra os respingos de gordura vindos de uma frigideira fumegante de onde não parava de sair uma densa fumaça negra.

— O que está fazendo? — perguntei em meio ao som de frituras estalando.

— Café da manhã. — Ela cutucou a frigideira com uma espátula. — Na verdade estou tentando fritar esses ovos.

— Hmmm, ovos mexidos? Que delícia!

— Era para ser omelete — falou desapontada. — Eu sou mesmo uma péssima cozinheira! Você fez o jantar para mim e eu só queria retribuir com um bom café da manhã, mas não levo jeito para isso.

— Bem... Você incinerou esses pobres ovos, isso é verdade. Mas acho que ainda dá para comer — tentei amenizar.

— Você acha?

Ela retirou a frigideira do fogo e apontou-a para mim. Os ovos, além de estarem em pedaços, estavam absolutamente queimados.

— Ou podemos comer alguma coisa no caminho para a universidade — sugeri. — O que me diz?

— Tudo bem — Jessie disse, resignada.

Saímos da casa e andamos até o estacionamento do hospital. Entramos em seu carro e ela me levou até uma lanchonete ao lado do campus, onde gostávamos de comer. De lá nos despedimos; ela voltou para sua casa e eu fui caminhando para dentro da universidade.

Ainda era bem cedo e eu tive tempo suficiente para procurar e encontrar meu amigo Liam, antes que chegasse o horário de início da primeira aula. Quando me viu ele pareceu não acreditar.

— Meu irmão, você está vivo?! Mas o que foi que aconteceu contigo? Eu já estava preocupado!

— Relaxa, eu estou bem.

Liam me abraçou repentinamente, o que era bastante estranho. Nós não éramos bem do tipo que abraça. Mas naquele momento ele não se conteve.

— Senti sua falta, parceiro!

Não tivemos muito tempo para pôr o papo em dia. As aulas estavam prestes a começar, então nos encaminhamos para a sala enquanto ele me atualizava em tudo o que eu havia perdido na primeira semana de aulas.

Naquele dia nós conversamos mais do que estudamos. Liam me contou tudo sobre suas férias de verão em San Diego, sobre como tinha levado sua namorada, Angelica, para conhecer sua família. Eu contei a ele brevemente a respeito de minha hospitalização, sem dar muitos detalhes. No final da tarde, após o término do período de aulas, estávamos caminhando pelo corredor e ele começou a falar:

— Foi bom você ter voltado agora. Os treinos de rúgbi começam na semana que vem e...

— Ah, cara, sobre isso... Não tenho certeza se ainda vou poder voltar a jogar.

— Puxa! Eu sinto muito!

— Tudo bem. Talvez seja melhor assim — respirei fundo.

Sem saber como lidar com aquela situação, Liam procurou mudar de assunto.

— Olha, o dormitório vai estar um pouquinho bagunçado, mas é que...

— Ah, não se preocupe. Não estou indo para o dormitório. Tenho sessões de fisioterapia todas as tardes e vou dormir com Jessie na minha nova casa, por enquanto. Só até ela ir para Nova York, então eu volto para cá de vez.

— Dormir com ela, é?

Ele me lançou aquele olhar capcioso e eu dei-lhe um soco no ombro.

— Não nesse sentido, seu pervertido! Bem que eu gostaria. Mas ainda não.

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now