Prólogo

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PRÓLOGO

Dizem que quando você tem uma dor contínua durante muito tempo,
você deixa de senti-la. É como se o seu cérebro se acostumasse com aquele incômodo e deixasse de enviar estímulos de dor para aquela determinada região.

Bem, se é que isso é verdade, nunca pareceu funcionar para mim. Eu sentia dores. Todo o tempo. Não havia um segundo em que ela diminuísse, não havia tréguas ou alívio. Apenas dor. Uma dor tão debilitante que sugava todo o meu ânimo e bom humor.

Eu estava deitado no carpete da sala de estar da casa de Jessie, sem camisa, usando apenas a minha então inseparável amiga cinta lombar e uma bermuda folgada. Fazia muito calor em toda a Florida naquela úmida tarde da última sexta-feira das minhas férias de verão. O silêncio tomava conta da casa, até que ouvi meu celular tocar. Era uma mensagem de minha mãe; um vídeo.

No ícone do vídeo, só era possível ver o rosto de Meggie, filmado bem de perto. Ela ainda estava no hospital, se recuperando daquela terrível infecção que quase a havia matado. A essa altura, ela já tinha sido libertada de mais da metade dos aparelhos que a mantinham viva até então. Já não havia mais um tubo perfurando sua traqueia e por isso ela podia falar, mesmo que com alguma dificuldade.

Era um vídeo curto. Meggie só dizia uma única frase:

— Eu passei no meu teste de deglutição e agora eu já posso comer.

Ela parecia estar extremamente contente, o que me deixou feliz também.

Pode parecer algo banal, mas para alguém que passou semanas com uma sonda alimentar enfiada em seu nariz, sem poder comer ou beber absolutamente nada, o simples fato de poder mastigar e engolir algo novamente já era uma enorme conquista!

Levei o celular para junto de meu peito, como se a abraçasse. Aquela era, de fato, a primeira boa notícia que eu recebera nos últimos dias. Na verdade, alguns dos mais recentes acontecimentos estavam me deixando sobremaneira chateado!

O primeiro deles é que aquela maldita dor se recusava a sair de mim, não importava o que eu fizesse. Eu parecia estar criando algum tipo de resistência aos medicamentos, o que fazia com que eu tivesse de tomar dois ou três comprimidos de uma só vez, para aliviar a imobilizante dor em minha coluna.

Em segundo lugar, as férias já estavam terminando e eu teria que voltar para a faculdade, mesmo estando em demasiada dor.

Para piorar tudo, Meggie ainda estava no hospital e não tinha nenhuma previsão de alta. Mamãe permanecia com ela; e eu ficava a maior parte do tempo deitado naquele carpete na sala de Jessie. Eu preferia me deitar no chão do que na cama, já que assim minha coluna ficaria muito mais reta e, consequentemente, menos dolorida.

As más notícias não paravam por aí. Mamãe agora tinha um namorado. Sim. Minha. Querida. Mãe. Tinha. Um. Namorado.
Não é inacreditável? Em quase dez anos desde que o papai havia morrido, ela jamais havia estado com outro homem; mas, de repente, com apenas algumas semanas em Daytona Beach, ela conheceu esse sujeito estranho, com quem vinha passando muito tempo. Um tal de Zane Pickford. Afinal de contas, que diabos de nome é Zane? Eu nunca vi um homem se chamar assim.

Para finalizar a sequência de péssimas notícias, minha mãe havia decidido vender nossa casa no Alasca. Não é que eu pretendesse voltar a morar em Fairbanks em algum momento, mas eu também não gostava nada da ideia de perder os poucos laços que ainda me restavam com aquela cidade. Afinal de contas, era a casa onde eu havia crescido. Eu amava aquele lugar, mais do que qualquer outro no mundo, e não estava disposto a abrir mão dele.

Então lá estava eu. Deitado no chão, prostrado, com dores e em um pequeno conflito interior, quando Jessie apareceu, saltitante, para me dar mais uma notícia ruim. Não que fosse ruim para ela, mas era realmente terrível para mim!

— SAMMY! EU PASSEI! EU PASSEI!

Ela veio correndo, com um envelope nas mãos, e eu parei para pensar a que
será que ela estava se referindo.

— EU FUI APROVADA! — ela continuava a gritar.

— No que exatamente?

— Na faculdade, Sammy! Eu passei na faculdade!

— Nossa, que ótimo! Eu não sabia que você já tinha se aplicado.

— Eu não te contei? — ela coçou a cabeça. — Ah, sim! Foi quando estávamos separados — seu rosto corou imediatamente após dizer aquilo.

Em geral, Jessie e eu vínhamos conversando muito nos últimos dias, até porque não havia muitas outras coisas para se fazer. Mas algo do qual raramente falávamos era sobre o período em que tínhamos estado separados. Então eu não fazia ideia de que ela estava esperando uma carta de aceitação.

— Que ótimo, Jessie! Parabéns! E para qual universidade você entrou?

O seu rosto, que já estava ruborizado, ficou ainda mais vermelho, quase como se literalmente queimasse por dentro.

— New York University.

— Você vai para Nova York? — resmunguei, resfolegado.

— SIM! Não é incrível?!

***

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now