Capítulo 25

38 7 0
                                    

Capítulo 25

Jessie com certeza não iria ficar feliz em saber que eu não poderia passar o Dia de Ação de Graças com ela. E eu também não estava nada feliz por ter de passar um dia (que era para  ser tão especial) tendo que aturar o namorado de minha mãe.

Quando Jessie atendeu o telefone, já sabia que eu não tinha boas notícias.

— O que houve? Você não vem?

— Desculpa. Minha mãe convidou o namorado idiota dela para vir aqui, e agora não podemos sair.

— Diga a ela que pode trazer ele também. Marissa está fazendo comida suficiente para um batalhão!

— Sinto muito, Jessie, mas não vai dar.

Eu pude ouvi-la bufar do outro lado da linha.

— Será que podemos ao menos nos encontrar de noite? Depois do jantar — falei, tentando me redimir.

— Se você puder vir aqui — retrucou, com um tom de voz indiferente.

Concordei, e desligamos o telefone bem na hora em que a campainha tocou.

— Deve ser o Zane — minha mãe gritou da cozinha.

— Eu atendo! — Megan saiu correndo em direção à porta.

Pickford entrou, segurando uma garrafa de vinho. Abaixou-se para abraçar Meggie, que pulou em seu pescoço e ele a carregou no colo com a mão que tinha livre.

— Oi, garotinha! Você está cada dia mais linda!

Minha mãe saiu da cozinha, ajeitando seu avental.

— Cheguei cedo? — ele perguntou, dirigindo-se a ela.

— Não. Chegou bem na hora — ela o cumprimentou com um beijo. Meggie fez cara de nojinho.

Em seguida ele olhou em minha direção, mantendo o sorriso no rosto.

— Olá, senhor Hart.

— Senhor Pickford — fiz um rápido gesto cordial com a cabeça.

Os três foram para a cozinha. Eu sabia que minha mãe ainda precisaria de ajuda para terminar tudo, mas não estava muito animado com a perspectiva de passar mais tempo na presença de Pickford, além disso, ela já tinha muitas mãos para ajudá-la agora. Então subi para o meu quarto e fui tomar um banho.

Desci somente na hora do jantar. A mesa estava posta, e era farta! Peru recheado, purê de batatas, caçarola... O cheiro estava delicioso!

Sentei-me à mesa, de frente para Megan. Mamãe sentou-se em uma das pontas e Pickford na outra. Minha mãe havia retirado a toalha de mesa com o tema de halloween, para colocar uma especialmente para o dia de ação de graças. Apesar disso, todo o restante da casa ainda permanecia enfeitado desde o halloween.

Por alguns minutos durante o jantar, tudo o que se podia ouvir era o som dos talheres e de pessoas mastigando. Pickford tentou puxar conversa comigo duas ou três vezes, mas desistiu ao ver que eu não rendia assunto. Decidiu partir para Megan.

— Então, pequena, como vai a escola?

— Legal! Eu já entrei para a banda marcial. Fiz uma amiga, a Evelyn. Ela toca fanfarra. Os pais dela deixam ela vir aqui depois da aula uma vez por semana.

Fiquei surpreso porque nem eu sabia daquilo. Mas não esbocei reação.

— E você também está aprendendo um novo instrumento, não é, Meggie? — Mamãe acrescentou, orgulhosa.

— Flauta transversal — Megan disse, cheia de si.

— Isso é ótimo! Depois eu quero te ouvir tocar. Eu ainda não tive esse privilégio — Pickford falou.

— Posso tocar mais tarde. Você vai passar a noite aqui?

Todos olhamos para Pickford ao mesmo tempo, aguardando sua resposta, com expectativas diferentes, é claro.

— Não posso — ele franziu os lábios. — Tenho que estar em Singapura amanhã, para uma reunião de negócios.

— Singapura? Onde fica isso? — Meggie perguntou, confusa.

— Entre a Malásia e a Indonésia — ele explicou, deixando-a ainda mais confusa. — Fica na Ásia, no mesmo continente onde estão a China e o Japão.

— Ah... — Megan ficou pensativa.

— Vou passar a semana inteira lá — Pickford continuou. — Sua mãe é quem vai ficar responsável pelos negócios aqui até eu voltar.

— É mesmo, mãe? — falei, entrando repentinamente na conversa.

Mamãe engoliu seco o pedaço de caçarola que mastigava.

— Bem, é meu trabalho, como a secretária...

— Você não é secretária — Pickford a interrompeu. — É minha assistente pessoal.

— E eu que achava que minha mãe fosse só uma simples professora — alfinetei.

— Acho que a sobremesa ficou pronta. — Mamãe se levantou num salto e foi para a cozinha.

— Eu te ajudo a pegar — Pickford a seguiu.

Megan fez uma careta para mim do outro lado da mesa.

— Não pode pelo menos tentar ser legal com o cara? Ele está se esforçando — ela sussurrou.

Eu apenas devolvi a careta, fazendo igual.

Da mesa, ainda podíamos ouvir mamãe e Pickford conversando na cozinha.

— Me desculpe pelo comportamento dele — minha mãe disse. — Só está sendo superprotetor.

— Tudo bem, Irina. Eu já trato com clientes difíceis há anos. Acho que vou conseguir lidar com o garoto.

Revirei os olhos ao ouvi-lo dizer aquilo.

Eles voltaram para a sala de jantar e colocaram a torta de abóbora e nozes na mesa. O cheiro estava incrível! Mas eu já tinha perdido o apetite.

— Mãe, você se importa se eu pular a sobremesa? — falei.

— O quê? Por quê?

— É que já estou satisfeito. E prometi a Jessie que iria vê-la depois do jantar.

Mesmo contrariada, mamãe concordou em me deixar sair. Eu me levantei e fui em direção a porta. Ouvi uma cadeira se arrastar e passos virem atrás de mim, mas não olhei para trás. Quando entrei no carro, Pickford bateu a mão no vidro da janela.

Baixei o vidro só até a metade e ele se inclinou para perto da janela, fazendo um esforço para falar comigo.

— Ouça, garoto...

— Senhor Hart — eu o corrigi.

— OK, como quiser, senhor Hart. Escute, sua atitude não me é incômoda, mas, infelizmente está chateando sua mãe. Então será que você poderia pegar leve, por ela?

— Quem você pensa que é para vir aqui me dar sermão?

— Eu só estou perguntando se, por acaso, há alguma coisa, qualquer coisa, que eu possa fazer para amenizar essa situação que você tem criado entre nós?

— Tem sim. Você poderia sumir e deixar minha família em paz — disparei.

Ele sorriu cinicamente.

— Bem, isso não vai acontecer, rapaz. Eu não vou a lugar algum, então é melhor ir se acostumando à minha presença.

— Isso é o que vamos ver.

Acelerei o carro repentinamente e ele largou depressa a janela.

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now