Capítulo 8

41 6 0
                                    

Capítulo 8


Voltei andando para a casa de Jessie. Quando cheguei, minha coluna irradiava de dor. Antes de falar com qualquer pessoa, tomei meus comprimidos e me deitei para descansar um pouco.

Depois de me recompor, levantei-me e fui procurar por Jessie. Era domingo de manhã, mas a impressão que se tinha era de que não havia ninguém mais na casa. Estava tudo em completo silêncio. As portas estavam todas fechadas, tudo estava impecavelmente arrumado. O único barulho audível era o som de meus próprios passos no chão.

Cheguei até a porta do quarto de Jessie e bati, mesmo acreditando que não haveria ninguém ali. Para minha surpresa, ela respondeu lá de dentro.

— Pode entrar!

Então eu caminhei para dentro e me deparei com Jessie deitada em sua cama, em posição fetal.

— Pensei que não tivesse ninguém em casa — falei.

— E eu não sabia que você já tinha voltado — ela respondeu.

— Acabei de chegar.

— Como é que está a Meggie?

— Melhorando. Onde estão todos os outros?

— Sei lá. Eu ainda não saí do quarto hoje. — Jessie bocejou.

— Preguiçosa!

Por alguns instantes eu a contemplei ali, deitada. Seus cabelos ruivos estavam espalhados por cima do travesseiro, como labaredas de fogo, contrastando com a fronha azul-bebê. Apesar do calor, Jessie estava coberta até os ombros com um lençol fino, da mesma cor da fronha de seu travesseiro.

— Deita aqui comigo — convidou.

Ela ergueu um pouco o lençol que a cobria, revelando que vestia apenas suas roupas íntimas. As peças combinavam em tons de lilás. Seus ombros eram cobertos por sardas, assim como boa parte de seu corpo. Por alguma razão, eu achava aquilo absurdamente atraente!

Deitei-me ao seu lado e ela me abraçou pela cintura. Nossos rostos estavam tão próximos que nossos narizes quase se tocavam; era possível sentir sua respiração. Olhávamos diretamente dentro dos olhos um do outro.

— Você faz alguma ideia do quanto é linda? — eu suspirava.

— Você nunca me deixa esquecer — Jessie abriu seu lindo sorriso, exibindo os dentes ligeiramente desalinhados, que a deixavam ainda mais estonteantemente bonita!

Pensei em beijá-la, mas me contive. Afinal, ela estava seminua ao meu lado em sua cama e, até onde eu sabia, nós estávamos sozinhos na casa. Começar a beijá-la naquela situação provavelmente acabaria em algo que não queríamos. Ou melhor, não devíamos.

Decidi mudar de assunto. Contei a Jessie tudo o que eu havia descoberto sobre o novo namorado de minha mãe. Ela pareceu chocada.

— Então quer dizer que ele é rico e não quis se exibir com isso? Talvez não seja uma pessoa ruim, Sammy. Você tem que dar uma chance ao cara. Se ele está fazendo sua mãe feliz, não é isso que importa?

— Mas e se ele só estiver se aproveitando dela?

— Bom, ela já é grandinha, poderia descobrir isso por si mesma.

— Eu não confio nele!

— Acho que você só está com ciúmes. O que é perfeitamente normal. Mas tente se colocar no lugar de sua mãe. Ninguém gosta de ficar sozinho!

Nisso eu não podia discordar de Jessie. Era fato que meu pai já tinha morrido há muitos anos. E durante todo esse tempo minha mãe havia se dedicado inteiramente a cuidar de mim e Meggie.

— É... ninguém gosta de ficar sozinho — concordei.

Houve um breve momento de silêncio no qual Jessie pareceu estar pensativa. Logo depois, ela respirou fundo e disse:

— Eu não quero ficar sozinha, Sammy. Estou com muito medo de ficar sozinha!

— Do que você está falando? Eu estou bem aqui contigo. Não vou te deixar sozinha.

— Quando eu for... — ela titubeou por um instante. — Eu não sei se consigo fazer isso.

— Fazer o que?

— Tudo! Essa coisa de faculdade, mudança. Não sei se realmente é isso que eu quero. Ainda nem escolhi que curso fazer.

— Ei, relaxa! Você vai ter bastante tempo para pensar nisso. Vai ficar tudo bem. E não vai ficar sozinha. Vai fazer novos amigos. Você vai ver!

— E se tudo mudar? Não quero que minha vida mude. Estou feliz com ela exatamente do jeito que está agora — ela me abraçou ainda mais apertado.

— É claro que vai mudar! Assim é a vida. As coisas mudam. Mas nós nos adaptamos. É o que fazemos. Você consegue!

— Acho que não consigo. — Seus olhos se encheram de lágrimas.

— Lembra das palavras que eu te contei que meu pai sempre dizia? "Não há nada que você não possa fazer, a menos que você não queira.". Eu sei que você consegue! É só você querer.

Coloquei minha mão sobre seu rosto e vi uma lágrima escorrer, molhando seu travesseiro.

— E se eu não conseguir? E se eu não fizer nenhum amigo? Sammy, eu não quero ir!

— Jessie, você é a pessoa mais amável que eu conheço! Os outros vão fazer fila para ser seus amigos. Olha, eu sei bem o que você está passando agora. Sua cabeça está com um turbilhão de dúvidas e emoções. Eu passei por tudo isso há exatamente três anos, quando me mudei sozinho para esta cidade. Também tive minhas dúvidas e inseguranças. Mas vir para cá foi, com certeza, a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Foi aqui que eu realizei muitos de meus sonhos. Conheci meus melhores amigos... Foi aqui que conheci você.

— É, mas eu já te conheci aqui. Não tem mais ninguém que eu queira conhecer em Nova York!

— Sabe, Jessie, ir para a faculdade é uma experiência que muda a vida. É uma oportunidade que nem todos têm; um privilégio! Especialmente em uma universidade renomada como a de Nova York. Você não vai se arrepender disso. Mas provavelmente iria se arrepender se não fosse. Então vá! E faça as coisas darem certo! Você é dona do seu próprio destino. E eu sei que você pode fazer isso!

— OK.

— Tudo bem?

— Sim.

— Então me dê um sorriso!

Jessie deu um breve sorriso forçado.

— Assim não! Um sorriso de verdade — exigi.

Ela se esforçou na tentativa de esboçar um sorriso, mas ainda parecia melancólica. Então, com a ponta dos dedos cutuquei sua cintura, fazendo-a se encolher em um movimento brusco.

— Ah, não! Não me faça cócegas!

Sorri maliciosamente e repeti o gesto. Ela começou a rir involuntariamente.

— Para — suplicou — por favor, para!

Eu continuava a fazer cócegas em sua pele desnuda e ela tentava desesperadamente me impedir. Levantou-se abruptamente, lançando o lençol no chão. Se atirou para cima de mim e tentou bravamente segurar meus braços.

Ela agora estava sentada em minha barriga, um joelho de cada lado do meu corpo, me deixando exatamente entre suas coxas. E foi justamente nesse embaraçoso momento que alguém abriu a porta do quarto.

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now