Capítulo 4

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Eu não tive reação. Não sabia o que dizer naquele momento. Era como se as palavras de Jessie me cortassem como uma navalha afiada. Levei minhas mãos ao rosto e abaixei a cabeça. Então ela continuou:

— O nome dele é Cody. Foi no meu baile de formatura. Era para você estar lá, e não ele! Mas você não estava. Ele me convidou, eu aceitei. Nós fomos eleitos rei e rainha do baile. Todos pressionaram para que houvesse um beijo. Eu não queria! Mas, mesmo assim, fiz. Nós nos beijamos na frente de todas aquelas pessoas e eu me senti horrível! Era como se nada daquilo estivesse certo. Eu só queria sair dali! Era para ter sido uma das melhores noites da minha vida. Mas acabou sendo uma das piores! — Lágrimas voltaram a encher seus olhos enquanto ela me contava cada detalhe. — Eu sei que não tenho o direito de sentir ciúmes do que você fez, mas eu sinto assim mesmo. E acho que você vai se sentir assim também. Então eu não queria falar sobre isso. Porque não quero brigar com você.

— É, você tem razão. Eu sinto ciúmes — engoli seco. Estendi minha mão e segurei a dela. — É como eu te disse: se pudesse voltar no tempo eu mudaria tudo isso. Mas não posso. Nem você pode. Também não podemos ir ao futuro. Tudo que temos é o agora. E, neste momento, esta é a situação. Acho que ambos temos coisas que teremos que superar, caso queiramos continuar juntos. A pergunta é: nós queremos ficar juntos? — Olhei diretamente nos olhos dela. Ela me encarou de volta. — Jessie, você quer mesmo continuar comigo?

Jessie levou apenas poucos segundos para responder; alguns dos segundos mais longos da minha vida! Então, depois do que me pareceu ser uma eternidade, ela respirou fundo e, olhando nos meus olhos, disse:

— Mas é claro que eu quero! E você? Também quer continuar comigo?

— É tudo o que eu mais quero!

Nos abraçamos em silêncio e assim permanecemos por um bom tempo. Apoiei meu queixo no alto de sua cabeça e inalei o maravilhoso cheiro que exalava de seus cabelos. Ela pressionava seu rosto junto ao meu peito e respirava vagarosamente, como se repousasse de um cansaço profundo, um cansaço emocional. Ambos havíamos tirado um enorme peso das costas depois de termos, finalmente, conversado sobre aquele assunto e, voluntariamente, decidido permanecer juntos.

Após alguns instantes envoltos naquele terno abraço, começamos a nos beijar. Um beijo caloroso! Nos beijamos intensamente. Jessie me conduziu lentamente para dentro do quarto, sem deixar que nossos lábios parassem de se tocar. Nós nos sentamos em sua cama e continuamos com a afetuosa troca de carícias. Ela me puxava para cada vez mais perto e eu reclinava meu corpo sobre o dela, até que já estivéssemos deitados um por cima do outro. Foi quando paramos.

Eu sabia que Jessie era virgem e que pretendia continuar assim até que estivesse legitimamente casada. Eu respeitava isso. Ainda que o desejo mais ardente de cada fibra do meu corpo fosse fazer amor com ela, ali mesmo, naquele exato momento, eu me contive.

Gentilmente afastei meu rosto do dela e me sentei novamente na cama, deixando-a deitada graciosamente ao meu lado. Ela permaneceu inerte por um tempo. Sua respiração estava pesada, ofegante. Esboçou um singelo sorriso no canto de seus lábios e então se levantou também, como se entendesse o recado que eu tentava passar mesmo sem palavras. Depois recostou sua cabeça em meu ombro e continuou calada, como se não soubesse o que dizer.

— Então... — tentei puxar conversa, quebrando o constrangedor silêncio que pairava após aquele febril momento. — Você foi rainha do seu baile de formatura? Legal! Como foi isso?

— É... Foi a única coisa realmente legal naquela noite — Jessie suspirou, cabisbaixa. — Eu até estava animada. Usei um vestido azul, e no meu corsage tinha a rosa que você me deu. Cody me buscou de limusine junto com mais dois casais de amigos. Tudo parecia estar indo bem, até o momento da coroação. Depois daquilo ele só queria me beijar o tempo todo. Eu tentei fugir dele durante o baile inteiro. Depois tivemos uma festa pós-baile na casa da Melanie. Todos foram para lá e pareciam estar se divertindo. Mas tudo o que eu conseguia fazer era olhar para aquela bendita rosa e me lembrar de você. Quando Cody tentou me levar para um quarto, eu abandonei a festa e voltei para casa sozinha. Não foi uma noite muito agradável.

Ouvir Jessie contar em detalhes como havia beijado outro cara me fez sentir um nó na garganta. Não era exatamente aquela resposta que eu estava esperando ao fazer a pergunta. De qualquer forma, tentei ignorar os sentimentos ruins para não piorar de novo as coisas.

— Me desculpa ter estragado tudo. Eu sei que você queria que eu tivesse estado lá contigo — eu disse.

— Tudo bem.

Outra vez o silêncio constrangedor tomou conta do quarto.

— Mas e aí... Seus pais já chegaram?

Eu sabia que James e Jolene ainda não haviam voltado para casa. Mas queria desesperadamente mudar de assunto.

— Não. Minha mãe ligou. A cirurgia acabou se prolongando muito mais do que o esperado. Tiveram que cancelar o jantar de comemoração.

— Sinto muito — cocei a cabeça. — Mas podíamos sair pra jantar. Só nós dois. Podemos comemorar seu grande dia. O que acha?

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Na verdade não estou com fome. Acho que já vou dormir.

— Tudo bem. Eu também estou com sono. Esse remédio que estou tomando me deixa meio grogue.

— OK.

— OK. Boa noite, Jessie.

Me despedi dela com um beijo no rosto, para não correr o risco de que voltássemos a nos agarrar em sua cama. Logo depois, saí do quarto dela e fui dormir, no quarto do andar de baixo.

SOB O MESMO CÉUWhere stories live. Discover now