Tudo (parte 2)

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Nossas mãos ainda derramavam gotinhas de sangue, mas não mais que isso. Akane segurava o cálice com nosso sangue e jogava várias coisas nele, e eu não fazia ideia do que eram, mas senti cheiro de cravos e canela. Ela parou de mexer a mistura e se aproximou de nós, arrancando um fio do meu cabelo e jogando na poção, que fumegou como se fosse explodir, mas apenas brilhou e voltou ao normal. Depois ela voltou e se aproximou de Aimi com uma kunai.

"Certo... Você já cortou o cabelo dela outras vezes, vai saber o que fazer. É... É só não deixar feio...", ela disse a si mesma, mas Aimi permaneceu sem reagir. Eu não sabia bem o que era, mas tanta coisa já havia sido tirada dela que o cabelo pouco importava. Ela levantou a cabeça de Aimi e segurou com a mão livre, segurando todo o cabelo dela com uma mão só e cortando de uma vez, e quando terminou, sorriu. "Céus, ela ficou a sua cara!", disse e olhou para mim.

Ela levantou e jogou todo o cabelo de Aimi dentro do cálice, e era impossível que coubesse, mas magicamente coube, fumegou, brilhou e voltou ao normal. Aimi respirou fundo uma vez e eu achei que fosse dizer algo, mas não disse, era apenas um suspiro.

"Certo, Kurenai. Você deve dar a eles de beber desse treco, enquanto recita o encantamento. Eu vou recitar o encantamento de aceleração da gestação e fazer o parto, e isso vai exigir um grande poder de mim, mais do que eu posso imaginar ou calcular. Kakashi, Aimi, vocês ficarão surdos por alguns instantes".

"O que...", antes que eu concluísse minha fala, ouvi um som alto como uma explosão bem perto do meu ouvido no momento em que Akane estalou os dedos, e tanto eu quanto Aimi reagimos. Eu ouvia um forte apito em meu ouvido e sabia que era um encantamento, mas aquilo incomodava bastante.

Então era aquilo que Akane estava escondendo de Aimi. Aimi sentira que havia algo a mais sobre esse ritual e estava certa – Akane não sobreviveria. Se Aimi não estivesse grávida, talvez pudesse continuar viva, mas este não era o caso.

Tudo girava a minha volta e eu apenas via os lábios de Kurenai se mexendo quando ela aproximou de mim o cálice. Antes eu esperava que fosse ter nojo de beber aquela poção, mas bebi com vontade e rapidez.


"Nossa, que nojo cara", Hanae estremeceu.

"Aquilo foi bem ruim", eu falei e ri.

"Eu nem me lembro, estava bem longe da Terra nessa hora", Aimi balançou a cabeça rindo também. "Mas deve ter sido bem nojento".

"Nojentão".

"Ok, ok. Continue!".


Tinha um gosto doce, porém amargo. Era enjoativo e o cheiro me deixou tonto. Era como de flores, perfume, incenso e talvez seiva de plantas. Era bem ruim. Aimi bebeu com a ajuda de Kurenai, pois além da nossa surdez momentânea, eu não creio que ela soubesse muito bem o que estava acontecendo. Ela também não reagiu ao gosto extremamente enjoativo, e eu realmente comecei a me preocupar, mas era tarde.

Aimi já estava despida da cintura para baixo, e eu sabia por que eu consegui levantar o olhar e ver que Akane mexia os lábios rapidamente e mexia suas mãos tão depressa quanto falava. Uma hora ela secou o suor da testa com as costas da mão e eu pude ver sua mão suja de sangue. Quando levantei o olhar mais um pouco e o direcionei para Aimi foi que eu pude ver o tamanho de sua barriga – era como se nove meses tivessem passado em nove minutos.

Mas eu não conseguia olhar mais. Deitei e comecei a sentir meu corpo adormecer, e foi só quando respirei fundo e comecei a ouvir, como se estivesse bem longe, o choro de uma criança, foi que eu fechei os olhos, e quando abri de novo estava num outro plano, o qual eu não conhecia, e Aimi estava comigo, suja, ensanguentada e com o cabelo cinza.

Half a SoulWhere stories live. Discover now