Metade

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Aimi POV

"Sei que você está entristecida, todos estamos, mas você tem de vir conosco agora", disse a conselheira da Aldeia da Folha.

Eu me sentia impotente naquele momento. Eu lembro que aquele fora o dia em que eu mais matara pessoas até aquele ponto da história, e eu ainda estava cansada, mas a morte do Sandaime Hokage, do vovô Sarutobi, havia quebrado minhas pernas. Só que eu mesma, já naquela idade, havia colocado em minha cabeça que aquilo não era coisa de shinobi.

"É um momento difícil, porém, é indispensável que você venha", o conselheiro falou num tom grave. "Vamos, Kinjo está esperando você".

Fui obrigada a sair de casa após aquele comunicado. Fazia quase três meses que eu não via Ayumu, e, mais do que tudo, eu queria vê-lo, falar com ele sobre o que havia acontecido e tudo mais. Porém, acima de tudo, a pequena Aimi daquela época desejava saber do que se tratava esse encontro, afinal eu fora convocada pelos Conselheiros em pessoa.

Eu lembro bem da minha caminhada até o escritório dos Conselheiros. Não queria, por nada, ir ao escritório do Hokage. Naquele instante eu só queria abraçar o tio Ayumu e chorar, mas, como todos sabem: um shinobi não chora. Não em público, pelo menos. Aquele dia estava triste demais para ser verdade, e eu só queria visitar Konohamaru e chorar com ele, mas lá estava eu, indo ver uma das pessoas que eu mais gostava, para saber algo que parecia ser bem sério.

Além da morte do Hokage, aquele dia mudaria a minha vida, e eu nem sabia.

Chegamos e assim que eu passei pela porta e vi tio Ayumu do outro lado da sala, corri de encontro a ele, e nos abraçamos bem forte. Eu não estava chorando, nem perto disso, por mais forte que fosse a vontade, mas precisava daquele abraço.

"Como você está, filha?", ele perguntou com aquela voz grave que daria medo em qualquer outro, mas que soava como conforto para mim. "Se quiser chorar, essa é a hora", ele sussurrou para que os conselheiros não ouvissem e eu dei uma leve risada.

"Senti sua falta, tio", falei. Ele adorava quando eu o chamava assim.

"Kami-sama, você fica linda com dezoito anos!", ele riu e bagunçou meus cabelos. "Ou seriam dezessete anos?".

Os Conselheiros pigarrearam de uma maneira bem tosca e cínica, lembro-me de ter ficado bem irritada com aquilo. Fomos aos estofados que estavam dispostos numa parte daquela grande sala – eu sozinha num sofá pequeno e os três de frente para mim num sofá maior. Eu sentia a tensão nos olhos dos velhotes, era como se eles também estivessem interessados, na verdade, pareciam apreensivos e curiosos, e foi aí que eu concluí que eles não sabiam de nada, assim como eu. Este era o motivo da inquietação e urgência.

"Certo... Bom... Como começar...", Ayumu parecia apreensivo também, mas de outra maneira, já que, seja o que fosse a informação que ele estava prestes a nos dar, sobrara só para ele.

"É algo sobre o Sandaime?", perguntei.

"Não, porém ele estava envolvido... É... É sobre você Aimi".

Os Conselheiros se inquietaram ainda mais. Eles sabiam que havia 'algo de errado' comigo, mas o Hokage nunca havia contado a eles, por crer que não era necessário, ou na verdade, por não ter tido tempo.

"Ele planejava lhe contar isso em breve, filha, mas... Você sabe né", Ayumu disse e juntou as mãos. "Veja bem... Eu irei respeitar o desejo de seu pai, pois fiz uma promessa no passado. Não lhe contarei tudo o que sei, mas o suficiente".

"Eu só... Posso saber qual é a desse mistério todo?", perguntei. "Eu não sei quem é meu pai, tenho um irmão vivo que não conheço e 'perdi' minha mãe, além do fato de que não sei nada sobre minha família. Eu só queria saber por que eu não posso saber tudo sobre mim mesma".

Half a SoulWhere stories live. Discover now