— Me chamo Theodotus, sou um General de Roma.

   Surpreendeu-se pela patente máxima. Esperava que ele fosse um tribuno ou até mesmo um Legatus. O General continuou falando.

   — Octavio me falou sobre você. Pesquisei e descobri que era um promissor Centurião que caiu em desgraça. O que me chamou a atenção foi o motivo. Você matou mesmo aquele legionário por causa de uma gaulesa?

   — Matei, a gaulesa era uma criança prestes a ser estuprada. — tinha feito aquilo sob influência de Marte, mas não se arrependia. Esperava que o General ficasse irritado, mas ele apenas riu em resposta.

   — Tive vontade de fazer isso diversas vezes, nunca tive coragem.

   Marcus estava achando estranho o rumo daquela conversa, e resolveu instigar um pouco o homem.

   — E, por que não fez, não é adepto da deusa da guerra justa? — Marcus olhou para a estatua e o homem também o fez.

   — Sim, eu sou. Mas nem sempre precisamos seguir os impulsos que os deuses jogam sobre o nosso corpo. Temos liberdade para escolher o que fazer por nós mesmos.

   Marcus ficou pensativo e Theodotus continuou com divertimento.

   — E matar um subordinado não é a melhor maneira de conseguir obediência e união.

   — Muitos discordariam de você.

   — É verdade. Veja, gostaria de lhe dizer que, atualmente, em minha legião eu não tolero estupros.

   — Por que diz isso pra mim?

   — Porque gostaria que você servisse como Centurião de um grupo especial. Vejo que aceitou a Minerva. Pelo modo que luta, é obvio que possui o dom da deusa. Isso é raro. Preciso de pessoas como você.

   — Prefiro lutar como gladiador na arena, do que nas campanhas perversas de Roma.

   — Por isso você é ideal para essa legião. Nós não oprimimos nenhum povo, nem tomamos terras de ninguém. Servimos a Roma, mas nosso maior compromisso é com a deusa Minerva. Conhecida entre os gregos como a deusa Athena.

   — Qual é o nome dessa legião?

   — Somos a legião de ouro.

   — Nunca ouvi falar.

   —Trabalhamos discretamente. Existe uma guerra em andamento meu caro. Os deuses usam a gente como marionetes. Existem homens se valendo de legados como o seu e se tornando cruéis e gananciosos. Sem contar dos homens que se transformaram em monstros.

   — Esta falando dos legados pagão?

   — Sim, de um modo que faria o Degolador parecer inofensivo. Ajude-nos a proteger os mais fracos. Quem sabe um dia conseguimos até mesmo mudar a mentalidade de Roma juntos.

   Marcus sentia que ele estava falando a verdade. As palavras pareciam atestadas pela Minerva.

   A figura dela lhe representava uma balança. Uma deusa da guerra e da sabedoria. Significava usar a força de forma justa e para propósitos nobres. Era justamente o que Theoodotus estava lhe oferecendo.

   — Posso lhe dar a resposta dentro de alguns dias? — disse o Marcus.

   — Claro. Nossa legião partirá em uma semana.

   Marcus despediu-se do General e retornou a Escola de Gladiadores. Decidiu enviar uma mensagem a Camila, avisando sobre sua intenção de ir embora.

   Caso ela não viesse encontra-lo em dois dias, partiria com Theodotus.

===

   A noite estava quente e Marcus deixou a porta da sua cela aberta. Pensou em olhar de aposento em aposento e escolher o melhor local para dormir.

   Mas não se deu ao trabalho. De um modo ou de outro, ficaria pouco tempo ali.

   Então, a Camila surgiu repentinamente em sua soleira, no meio da noite. Como costumava fazer nas primeiras vezes que ficaram juntos.

   Ele levantou-se e os dois se olharam em silêncio por um tempo. Então, ela o abraçou e ele retribuiu. Não tinha noção o quanto sentia a falta dela.

   Ficaram enlaçados por um momento e então sentaram na cama, sobre o manto de pelos. Camila olhou para ele.

   — Então, você pretende partir?

   Marcus assentiu.

   — Não faz mais sentido ficar aqui.

   Ela baixou a cabeça, como se estivesse considerando o que dizer, depois olhou novamente em seu rosto e o beijou na boca.

   — Você me perdoa? — murmurou o Marcus.

   Camila suspirou.

   — O que você fez foi errado. Mas, eu sei que você queria apenas me proteger. Eu entendo — ela acariciou o rosto dele, com uma voz embargada. – Eu te amo.

   — Eu também te amo. — ele segurou o rosto dela com as duas mãos e a beijou novamente.

   O cheiro. O contato de seus lábios. O toque da sua pele. Não havia nesse mundo nada que ele apreciasse mais. Não havia nada que ele não deixaria para trás para ficar com ela.

   — Não podemos ficar juntos. — disse ela, com uma voz triste.

  — Por que não?

   — Temos que honrar os dons que os deuses nos deram. Se voltarmos um para o outro, seremos egoístas.

   — Não podemos ajudar as pessoas juntos?

   Camila desviou o olhar para as chamas da vela.

   — Começarei um treinamento com Abeônia amanhã, para aprimorar os meus dons. Um tipo de estudo que requer toda a minha atenção — Marcus baixou a cabeça e ela acariciou o cabelo rasteiro dele — Tenho certeza que os deuses vão colocar algo grande em seu caminho também.

   Não queria contar a ela sobre o seu encontro com o Theodotus. Seria como confirmar sua teoria. Mas já a conhecia o suficiente, esse olhos determinados não voltariam atrás.

   Então, contou tudo sobre a proposta que recebera.

   — Saber que você irá se arriscar de novo não me deixa feliz. Mas, eu estava certa. Existe algo grande que precisamos realizar. Isso não quer dizer que nunca ficaremos juntos.

   — Se eu sair em missão com a legião de ouro, eu posso ficar anos fora.

   — E eu estarei aqui, te esperando...— então, Camila lhe deu um beijo e se levantou.

   — Fique comigo essa noite.

   — Isso apenas deixaria as coisas mais difíceis...


A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now