— Portus, mantenha a posição! — ordenou friamente o filho do Edil.

   — Maldito! — Camila o empurrou e correu, logo foi agarrada pelos braços férreos do General — Calma menina, Marcus saberá o que fazer.

   A luta recomeçou, quatro piratas correram pra cima do patrocinado da Camila. Ele esquivava e atacava com velocidade, mas parecia um animal acuado.

   Evitava um, dois, três golpes em sequência e ainda arrumava fôlego para devolver algum ataque. Todavia, ninguém fora acertado, o coração da Camila doía de tão acelerado.

   Quando um inimigo direcionava um ataque, ela arfava e fechava os olhos. Em sua mente, imaginava o Marcus no meio desses cadáveres mutilados. A ideia lhe dava pânico e começava a debater-se. O sentimento de impotência era opressor.

   E então, os movimentos do Marcus tornaram-se brutais e precisos.

   A lamina passou por um pescoço espirrando sangue, um talho numa barriga, outra garganta cortada, uma espada cravada na perna e puxada pra cima. Assim caiu o quarto, esviscerado como um arenque por um peixeiro.

   — Ele parece estar possuído pelo deus dos mortos! — falou o Tiberius.

   — Quando se está no inferno, apenas Hades mostra a saída — disse o General.

   Os pulmões ardiam de cansaço. Marcus balançou a cabeça para tirar o excesso de sangue que escorria para os olhos, não adiantava passar o braço, estava ainda mais ensopado.

   Olhou para trás e notou que o barco de resgate se aproximava. Precisava resistir só mais um pouco.

   Um grupo de homens se acumulava a frente. Eles pareciam não se importar nem um pouco com a horda de piratas mortos no convés do cruzeiro.

   Não pareciam nem mesmo fazer parte do mesmo bando. Encaravam com uma postura confiante, como se a vitória já estivesse garantida, mesmo depois de verem o que ele acabou de fazer com os seus comparsas.

   Deu alguns passos para trás, precisava da ajuda dos outros patrocinados agora. E queria também estar perto da proa quando o resgate chegasse para conseguir fugir com os demais.

   E então, uma pessoa chegou, e ele soube que não existia mais futuro para ele.

   — Veja só, como o mundo dá voltas. — uma mulher de pele morena passou esbarrando no meio dos comparsas.

   — Sônia?

   — Bom saber que o traidor ainda lembra o meu nome.

   A Sônia, mulher de Heracles, estava com o aspecto de uma guerreira selvagem. Havia músculos em seus braços femininos. Cabelos negros balançavam ao vento e seus olhos ainda mantinham o mesmo furor de antes.

   — Esse é o romano que se passou por escravo? — falou um brutamontes com uma espada gigante.

   — Esse mesmo! — respondeu a Sonia.

   — Deixe-os ir e vingue-se de mim — gritou Marcus.

   — Esta se valorizando demais, traidor. Não vim aqui por você. Meu alvo é aquele velho General maldito ali atrás e a filha do lanista. Agora ela não escapa.

   — Não vou deixar vocês chegarem perto.

   — Mate ele! — ordenou Sônia, o grandão da espada avançou.

   O brutamonte deu três passos largos e balançou aquele pedaço de aço gigante que rosnava ao vento. Marcus esquivou. Antes que pudesse atacar veio outro ataque. O homem manuseava aquela aberração como um graveto. Dessa vez o ataque lateral passou rente ao seu corpo.

   Sua alma quase saiu do corpo. Essa arma não era a do tipo que dava pra sair com vida depois de ser acertado.

   — Juntem-se a ele! — gritou o General e os outros três gladiadores acataram a ordem, mesmo ele não sendo o mestre deles.

   — Vamos, o barco chegou! — disse o Tiberius, enquanto arrastava a Camila. Ouviu o estrondo de uma tábua sendo arremessada pelos marinheiros do barco a vela. Ela sabia que se o Marcus não subisse a bordo, nunca mais o veria. Começou a gritar e debater-se.

   — Para! Para! Ele vai morrer!

   A frente, com a chegada do resgate, os bandidos se agitaram e o grupo de patrocinados tiveram que lidar com uma onda nervosa de ataque.

   Algo ocorreu a Camila. Havia sim algo que ela podia fazer. Uma ordem através do seu talismã o compeliria mesmo contra a vontade.

   — Marcus, eu ordeno! Fuja comigo, agora! — a joia brilhou e a ordem foi dada.

   — Menina idiota, vai matar todos nós. Ele é apenas um escravo — vociferou o General.

   Então, ela viu Marcus parar por um instante. Os músculos das costas retesaram, seu pescoço ficou tão tenso que as veias ficaram altas.

   Depois, o corpo relaxou, como se tomasse de volta o controle. Virou, olhou diretamente pra ela e esboçou um sorriso suave. Camila ouviu um estalo em seu próprio corpo. O talismã rachou.

   Ele tornou a se lançar na batalha. Superando o poder místico da submissão.

   — Não! Não! — Camila gritou a ponto de perder a voz. Tiberius caiu com ela dentro do barco de resgate. Ouviu as quedas surdas dos outros nobres, se jogando de qualquer jeito.

   O cântico de um sacerdote ressoou atrás, o legado de Poseidon envolveu a embarcação lhe conferindo velocidade. O cruzeiro foi ficando distante e pequeno na medida em que seu coração se enchia num mar de angustia.


A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now