Camila o abraçou forte. Há muito tempo não passava um tempo com o pai. Sempre tiveram uma relação bem próxima.

   Ouviu diversas vezes coisas desagradáveis sobre filhas unicas, que representavam certo desgosto para os pais. A única semente que germinou e não serviu para levar o nome da família adiante, eles diziam.

   Nunca sentira isso com o Lucios. Sempre fora tratada como um tesouro raro.

   — Olha só. Informarei o General sobre a sua recusa. Você é linda, inteligente e é a minha herdeira. Eles que se esforcem para lhe conquistar. Quero passar o dia com você hoje, quero que você entre na loja mais cara de Napoles e compre a joia e o vestido que quiser.

   — Obrigada, pai.

   O fato da sua mãe não ter contado o que houve, não significava que ela não contaria no futuro. Mas, queria apenas aproveitar o dia, sem pensar em mais nada.

   Comer besteiras, comprar vestidos, comprar joias. Como fazia na adolescencia nos passeios com o pai. Apenas não sabia se merecia dessa vez.

   O sol mal tinha aberto os olhos e Marcus já estava na areia realizando aquecimento com os outros gladiadores.

   — Gladiadores! — o grito do Petrôneo retumbou por toda área de treino — Quero vinte voltas na arena, quem molengar vai fazer mais vinte carregando toras nas costas.

   Marcus aproximou-se do treinador, que o encarou levando as mãos ao chicote. Já estava se acostumando com o jeito agressivo dele.

   — Doctore! — disse o Marcus, e Petroneo franziu o cenho – Gostaria de uma palavra.

   — Diga estrang...— o rosto dele se contorceu com a compreensão – Maldito, você sabe falar!

   — Sou romano — Marcus se encolheu já esperando uma chicotada — Escondi isso com medo de ser julgado!

   — Julgado? — quis saber o Petrôneo, com o chicote em mãos.

   — Servi a mãe Roma por quase 10 anos como um legionário. Como um Centurião. Tive um papel importante para derrubar o Spartacus e sua revolta de gladiadores. Temo pela minha vida, caso descubram quem eu sou — hesitou brevemente — quem eu fui.

   Petroneo arregalou os olhos, e, por um momento, Marcus achou que levaria uma surra, logo em seguida, seu semblante relaxou

   — Sua sorte é que a sua domina é a senhorita Camila — o Doctore pigarreou — Ninguém lembra do Spartacus e todos os tolos que o seguiram foram crucificados. Não quero saber o que você fez para estar nessa situação, à única coisa que você precisa se preocupar é levar o treino a sério. Se acha que foi injustiçado, canalize sua raiva na arena, compre sua liberdade e tenha uma segunda chance na vida.

   Marcus assentiu. Aquelas palavras faziam sentido. De fato conquistaria a liberdade e teria sua vida de volta. Apesar de não dessa forma.

   — Considere hoje como um recomeço e a sua última chance de mostrar o seu valor para essa nobre casa.

   — Obrigado, doctore!

   Os exercícios físicos estenderam-se por toda a manhã. Mesmo tendo treinamento militar, teve dificuldade de acompanhar o ritmo frenético dos gladiadores.

   Faltando pouco para a pausa do almoço, começou uma agitação. Um dos gladiadores gritou olhando para a sacada de celas.

   — Olha o Flamma. Um dia ainda vou ter essa vida!

   Marcus olhou para onde a atenção dele estava voltada, e o Flamma estava encostado no parapeito com cara de sono, virando um garrafão de vinho.

A Domina e o Centurião - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora