— Quem quer dar uma surra no novato?

   Miroc, o samnita do vestiário, levantou com um sorriso banguela.

   — Vá pegar suas armas. — ordenou Doctore.

   Doctore olhou para o Marcus e apontou para o baú. O Centurião foi ate lá para escolher o seu estilo.

   Os legionários lutavam com três armas. Escudo, gládio e lança. Precisava escolher duas. Estava tendenciado a escolher o escudo e o gládio.

   Na apresentação do Flamma, viu o estrago que duas armas podiam fazer. Pegou duas lanças curtas sem ponta. Miroc escolheu um gládio e um escudo redondo.

   — Vamos, não temos o dia todo! — ordenou o Doctore — Comecem a lutar.

   Marcus rosnou. Queria lutar. Precisava lutar. Existia um vazio que pedia para ser preenchido. Disparou para cima do sanmita dando vazão a uma raiva que ele não entendia a origem. Miroc ergueu o braço direito sobre o ombro e largou um golpe com força, encontrou uma lança do Marcus, a outra perfurou o ar e encontrou a costela do sanmita. Uma cutilada dolorida

   Miroc fez uma careta e Marcus não o deixou respirar. Continuou distribuindo ataques sequenciais e selvagens. O sanmita evitou alguns com o escudo e acabou tomando uma pesada paulada no seu maxilar, cuspindo sangue e dentes, ficando com mais janelas na boca.

   A sensação de tirar sangue do oponente, de algum modo, o acalmou, as mãos voltaram a ficar firmes. Era como se o prazer da batalha se transformasse num vício.

   — Desgraçado! — xingou o Miroc, cuspindo sangue.

   Avançou novamente com outro golpe, completamente colérico, semelhante ao dia do vestiário.

   Marcus esquivou de uma espadada de fúria e arremeteu a lança na testa dele, acertou em cheio, a cabeça do sanmita chegou a ir para trás. Não tinha ponta, logo não furou, mas o deixou zonzeado, atacando a esmo o vento, enquanto um galo crescia como um chifre.

   — Já basta — interrompeu o lanista — Você luta bem, estrangeiro!

   Lucios caminhou para perto do Marcus.

   — Mesmo que não consiga me entender, eu vou me apresentar. Me chamo Lucios. — aumentando o tom de voz ao mencionar o próprio nome, o ressentimento ficou evidente.

   Um guarda se aproximou e tomou as armas do Marcus.

   — Lanista da casa Titanus e pai da Camila — repetindo a ênfase no nome da filha.

   — A Camila! — gritou — Poderia ter morrido ontem!

   — Lembra da Camila? Aquela que ficará com o rosto marcado pelo resto da vida! — vociferou o Lucios — Porque você, um lixo imundo fez corpo mole para defende-la!

   Marcus foi segurado abruptamente por dois guardas e o Lanista puxou uma adaga que cintilava ao sol e colocou a ponta a centímetros do seu olho direito.

   — Você apenas está vivo, porque fez a coisa certa no final. Então, acho que te devo um obrigado. — com essas palavras, Lucios arrastou abruptamente a lamina no rosto do Centurião.

   Sangue espirrou na areia.

===

   Camila acordou, e demorou a abrir os olhos. Passou a mão lentamente na bochecha. Doía sempre que movia algum músculo facial.

   Era difícil acreditar no que havia acontecido. Mas o pai a assustara mais do que o fato em si. Nunca o tinha visto tão nervoso. Teve quase que implorar para ele não submeter os guardas ao chicote.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now