Coração quebrado

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[...] se apegar ao que se ligava ela eram seu único consolo. [...]

Sam ao entrar no apartamento chamou pelo amigo, mas não teve resposta. Com a ajuda das muletas ele subiu a escada ate chegar ao quarto, e o que viu deixou seu coração mais apertado do que nunca. John estava sentado no chão de costas para cama, tinha um vestido azul sobre o ombro e olhava algo em seu celular, seu olhar era triste, quase sem vida. Sam bateu na porta aberta:
- John?
Ele ergueu a cabeça para olhar o amigo, mas seus olhos logo umedeceram e voltaram para a tela do celular. Sam se aproximou e sentou na beirada da cama ao lado dele, viu que o que ele estava vendo no telefone era fotos da Natasha ou deles juntos. Tocou seu ombro:
- Eu não posso imaginar a dor que está sentindo, mas posso afirmar que isso vai passar
- Quando?
- Logo. Natasha vai acordar e tudo isso vai acabar
- E se não acordar?
- Ela vai, mas você não pode ficar assim.
- Como quer que eu fique? Ela está em coma em uma cama de hospital sem saber quando vai acordar.
- Sim, eu sei disso, todos nós sabemos, mas você precisa sair dessa. Tem uma vida fora daqui, assuntos que precisam de você, e ficar chorando dia e noite não vai ajudar em nada.
- Eu não tenho forças para nada, mal consigo sair da cama de manhã para ir ate o hospital – Apertou seus olhos e as lágrimas tornaram a cair – Aquela não é a minha Natasha. Olha só... – Ele mostrou uma foto dela sorrindo e com os olhos brilhando – Essa é a minha Natasha, a mulher da minha vida, por quem me apaixonei perdidamente.
- John ela continua aqui, mas está fraca demais para nos dizer isso. Você precisa se levantar. Eu sei que agora parece que tudo está perdido, e não há nada que possa ser feito, mas você precisa ter esperança, precisa voltar à ativa, faça isso por você e pela Natasha, ela odiaria ver você desse jeito. Pense nela.
- Não há um só segundo em que não penso nela, um só segundo. Eu tenho medo de fechar os olhos porque sei que vou sonhar com ela, com coisas impossíveis, coisas que seriam parte da minha vida se nada disso tivesse acontecido – Ele soluçou – Mas também esses sonhos são meu único conforto, porque é onde posso encontra-la e ver como ela era antes.
- Eu entendo meu amigo, eu juro que entendo, mas eu peço que não se entregue. Nada ainda está perdido. Natasha continua viva, e precisa mais do que nunca de você, e por mais que tudo agora pareça sem sentido você precisa acreditar que isso uma hora ou outra vai acabar. Não desista John. Todos nós estamos aqui torcendo por ela, ao seu lado, mas também sabemos que você é o único com força o suficiente para traze-la de volta.
- É tudo o que eu mais quero, traze-la de volta – Ele largou seu celular e pegou o vestido de seu ombro para esconder seu rosto – Ela é tudo o que eu tenho, e se ela se for não há mais por quem lutar.
- Não diga isso. Como não tem? E a sua mãe? Seus avós? Toda a sua família.
- Não me refiro a eles, mas a ela, a Natasha... Meu Deus, Natasha é o amor da minha vida – Ele ficou de pé e respondeu com o tom de voz alterado – Ela é exatamente aquele pedaço que faltava na minha vida, eu vivi tudo isso apenas para chegar até ela, todo meu mundo começou a girar, a ficar perfeito depois que a vi, ela não tem só metade, mas sim todo o meu coração, se me pedisse para largar tudo e viver em um buraco qualquer, eu faria exatamente isso. Se ela quisesse a lua e o sol eu pegaria, se me pedisse para pular de uma ponte eu pularia, porque ela é a mulher que eu amo, a que foi feita só para mim, eu sou capaz de enfrentar o mundo apenas para vê-la sorrir, porque eu a amo tanto, mas tanto que meu próprio corpo se recusa a obedecer minhas ordens sem ela por perto... E é isso o que dói, saber que Natasha tem tanto poder sobre mim e que eu dependo da sua vida para continuar vivendo.
Sam começou a lagrimar sentindo aquela essência de dor sair do amigo e entrar em seu corpo. John estava tão abalado e triste que transmitia esses sentimentos para qualquer um ao seu lado. John agarrava o vestido com força sem tirar de perto do seu rosto, pois era ali que ele encontrava um pouco de paz. Ele era um homem desesperado, e quase sem esperanças, a cada dia que passava sentia que estava perdendo seu grande amor, e saber que não podia fazer nada para impedir o deixava amedrontado:
- John eu nunca vou sair do seu lado, eu sei que está difícil, mas você precisa manter a calma, com raiva e nervosismo não vamos ajudar em nada. Isso é só uma fase, entendeu? Só uma fase. Logo tudo vai acabar e você precisa estar inteiro... Você ama tanto a Natasha, então pense nela e o que falaria se visse você desse jeito. Lembra-se do aniversário de morte do seu pai? Mesmo depois de ter escutado tudo aquilo e você praticamente a ter expulsado daqui, ela ficou. Ela se manteve centrada e calma, porque sabia que somente assim conseguiria falar com você e convence-lo de que estava errado sobre tudo o que pensava. Faça isso agora John. – Ficou de pé e deu alguns passos segurando o amigo pelos ombros – Não estou pedindo para tocar sua vida em frente e esquecer tudo isso, de forma alguma, mas sim para que tome as rédeas e veja que além da Natasha há outras pessoas que dependem de você.
- Eu não estou com cabeça para trabalho...
- Mas vai ser bom para distrair um pouco. Não quero vê-lo enfurnado nesse quarto dia e noite e depois no quarto do hospital. Comece a fazer as mesmas coisas de antes, ocupe um pouco sua cabeça, se a Natasha souber que você está deixando todos de mão por causa dela, imagine o quão brava irá ficar – Ele sorriu de canto.
O comentário arrancou uma leve risadinha de John:
- Muito brava – Abaixou a cabeça ainda com o sorrisinho no rosto.
- Exato.
- Eu só quero que esse pesadelo acabe – Ergueu a cabeça e respirou fundo.
- Vai acabar meu amigo
- Eu preciso muito dela
- Eu sei, eu sei – Sam o puxou para um abraço e não resistiu às lágrimas. Os dois caíram sentados no chão – Isso vai passar, vai ver.
- Está doendo muito – Esfregou o peito – E quase insuportável essa dor.
- Respire fundo. Vamos continuar torcendo pela recuperação dela. – Deu umas batidinhas em sua costa – Eu estou aqui com você.

Logo pela manhã Olivia apareceu no quarto de John. Ele estava deitado de bruços na cama, e apesar de estar dormindo não parecia nem um pouco relaxado. Ela deu a volta na cama sentando do outro lado, e observou com atenção o modo como ele se agarrava ao travesseiro, era quase como se estivesse abraçando alguém. Não precisou pensar muito para saber a quem pertencia aquele travesseiro. Tocou seu ombro:
- John? – Empurrou a mecha do cabelo dele em seu rosto para trás da sua orelha. Seu cabelo estava comprido e a barba por fazer. Ele nunca havia se descuidado tanto da sua aparência antes. – Querido?
Ele gemeu e agarrou com mais força o travesseiro, ao sentir o toque em seu rosto abriu os olhos lentamente. Quando notou metade daquele corpo ao seu lado, levantou a cabeça e enrijeceu a testa:
- Vovó? O que faz aqui?
- Vim ver você – Sorriu amorosamente. – Como está se sentindo?
- Hunf! Cansado – Esfregou os olhos com uma das mãos e sentou na cama.
- Eu imagino – O estudou por alguns segundos, a aparência dele entregava seu estado de espírito – Sam me contou sobre a conversa que tiveram ontem.
- Hmm! E imagino que tenha vindo me incentivar a voltar a trabalhar.
- Talvez, mas não só por isso – Ela recostou sua costa na cabeceira da cama – Eu queria ver você, durante toda a semana eu não consegui falar com você , e sei o quanto deve estar precisando do colo da sua avó.
- Vó... – Seu olhar murchou.
- Eu conheço você John, sei o que está sentindo, e também sei como cuidar disso, você ficou assim quando seu pai morreu, e eu estava lá do seu lado – Tocou o rosto dele – Mas agora a situação é diferente, ao contrario do Mark, Natasha continua viva.
- Mas em coma.
- Mas ainda sim, viva. E isso é tudo o que importa, se ela continua respirando então ainda há esperança. Ouça meu bem, se sentir desesperado e angustiado é normal, mas fazer disso seus únicos sentimentos é completamente errado. E isso machuca, não só a você, mas também todos ao seu redor.
- Eu não consigo me levantar, não consigo pensar em mais nada, eu ainda não aceitei a condição dela.
- Eu não o culpo, eu entendo bem o que está dizendo.
- Todo dia eu vou para o hospital fico ao seu lado conversando, contando coisas do dia a dia, falando sobre nossos amigos, sobre à casa do monte que estou construindo para nós dois, e o estranho disso tudo é que apesar dela está daquele jeito, eu consigo sorrir, só por estar ao seu lado... Eu vou cheio de esperança, esperando encontra-la acordada e bem, ou que fizesse algum sinal de que estava melhorando, eu não sei... – Passou as duas mãos por entre os cabelos.
- Eu sei disso querido – Abriu os braços, e John se aninhou neles sem questionar, apoiou sua cabeça perto do ombro dela. – Querido você não pode continuar assim, entenda que isso nos preocupa, você sempre foi um homem inteligente que sabe o que fazer em todos os momentos, mas agora você perdeu o controle, está se deixando levar pela sua dor e a preocupação, e isso não ajuda em nada. Você acha que é o único que está se sentindo mal? Não meu amor, todos nós estamos sofrendo.
- Não tanto quanto eu
- Eu não duvido, mas de qualquer modo você tem que fazer um esforço e voltar a sua vida normal. E toda essa angustia, o desespero e a aflição estão passando para todos nós, e eu detesto ver você assim – Passou sua mão sobre o cabelo dele – Olha meu querido, você tem o espírito forte e nesse momento você precisa se apoiar nisso. Não perca as esperanças, o sonho de que ela vai acordar deve te manter de pé todos os dias.
- Isso é tudo o que eu quero vó... – Respirou fundo já com a voz embargada – Que ela acorde... Que ela acorde – Começou a chorar. Olivia o abraçou mais forte esfregando sua costa – Eu preciso tanto dela.
- E ela precisa de você, do seu amor. A sua força é maior do que qualquer dificuldade.
- Eu não sinto essa força – Fungou. – Com ela também levaram a minha vida.
- Chora, chora meu amor, chora tudo o que tiver para chorar – Segurou seu braço – Mas depois se levante e lute como sempre tem feito, lute por ela, e pela vida dela, e por sua vida... Por sua vida – Beijou o topo da sua cabeça.

Continua...

Simply, I love youOnde as histórias ganham vida. Descobre agora