Aquelas histórias

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[...] Apenas sentou e se acomodou em sua cadeira [...]

Depois de todos os passageiros entrarem, e os últimos reparos na aeronave serem feitos, saíram de perto da porta do desembarque para seguirem ate o final da pista.
Natasha olhou para o lado e viu quando a tensão recaiu sobre Phillip, que esfregava as mãos nos braços da cadeira e se agitava no banco. Ela fechou a janela para ele não olhar a subida. Ela estendeu a mão com a palma virada para cima, ele olhou o gesto e depois a encarou:
- John me disse que você não gosta de voar, segurar a mão de alguém ajuda – Respondeu olhando para ele.
- Não é necessário senhorita Donovan
- É sim. Vamos pegue, fique tranquilo John não está aqui para reclamar nem ninguém conhecido para dizer algo. E por favor, me chame de Nat. – Balançou levemente a mão. Phil mesmo relutante segurou a mão dela – Então, você serviu a marinha, certo?!
- Sim, servi por seis anos
- E o que fez você largar?
- Meu pai era da Marinha, eu o idolatrava quando era garoto, achava incrível quando aparecia em casa com aquela farda branca. Meus pais eram muito felizes juntos. Então decidi entrar a Marinha também, apenas para deixa-lo orgulhoso. Não demorou muito para o Primeiro Tenente reparar que eu era um bom soldado, eu me esforçava ao máximo para ser um dos melhores.
- E aposto que conseguiu – Sorriu de canto.
- Sim. No primeiro ano eu já tinha passado para as mãos do Capitão Tenente que assim que me viu me promoveu a Segundo Tenente. Fiquei responsável pelo recrutamento dos novos alistados. Eu subi de nível muito rápido, me esforçava ao máximo. Em dois anos já era considerado o melhor e promovido a Capitão de mar e guerra.
- Você teria conseguido chegar a Almirante?
- Provavelmente, todos os meus superiores diziam que eu tinha grandes chances. O próprio Almirante me disse que se eu continuasse com o bom trabalho ele mesmo me colocaria em seu lugar. Aquilo foi uma grande honra.
- Mas aí você saiu – Ela percebeu que o avião estava subindo e pretendia distrair ainda mais o homem.
- Sim, quando saí minha patente era Vice Almirante. Eu desisti quando meu pai morreu – Ele recaiu os olhos para o chão – Eu não sei bem o que houve, simplesmente a Marinha perdeu o interesse para mim, eu não conseguia mais realizar minhas tarefas com tanta convicção como antes. Eu era motivado pelo meu pai, pelo orgulho que ele sentia de mim. E depois que se foi, eu vi que nada mais fazia sentido, já era hora de sair. Minha saída ficou ainda mais certa quando eu participei da última missão. Não posso revelar o lugar, mas atracamos e fomos para a terra. Haviam alguns mercenários escondidos, matamos todos e eles mataram alguns de nós – Ele parou para tomar ar e revivendo a cena como se estivesse novamente lá presenciado tudo, terminou – Eu matei um homem que estava escondido no meio dos arbustos. Quando fui conferir de quem se tratava eu fiquei em choque quando vi o que ele tinha nas costas amarrado em um pano aberto. Um bebê.
Natasha sentiu um nó na garganta e ficou paralisada quando ele disse sobre o bebê:
- O que aconteceu?
- O bebê estava chorando, por sorte a bala não pegou nele. Eu notei que havia matado um inocente, apenas um pai levando seu filho para um lugar seguro.
- Por que o matou então? Não viu a criança?
- Não, ele estava segurando uma arma, e depois daquela emboscada com os mercenários achei que fosse mais um.
- E o que fez com a criança?
- Eu levei para a embarcação. Meu superior não gostou muito da ideia, pediu que eu me livrasse dele, mas não podia. Por sorte, o Almirante apareceu e disse que a criança deveria se levada para a nossa base, ser cuidada e medicada e achar um lar. Ninguém deu a mínima para o civil que eu matei, e percebi a frieza de cada integrante. Então assim que atracamos na América eu deixei meu posto, pedi a demissão.
- E a criança?
- Consegui encontrar um lar para ele. Pessoas boas, honestas, que não podiam ter filho, mas queriam mais que tudo ter um. Não pensaram duas vezes quando perguntei se podiam ficar com o menino. Receberam de braços abertos – Sorriu relembrando o dia em que entregara a criança – Sempre que tenho folga eu vou ate a casa deles para vista-los, também ajudo com as despesas.
- Sério? Isso é muito legal Phil.
- Sim, eu sou o padrinho dele – Sorriu abertamente.
- Olha só! Apesar de tudo você também se tornou o herói dele.
- É! Mas talvez isso mude quando souber o que fiz
- Phil nem tudo foi culpa sua, não podia imaginar que um pai e seu filho passariam exatamente àquela hora no meio da zona de guerra, e ainda portando uma arma. Foi lamentável? Claro que sim, mas você estava fazendo o que lhe foi designado. Mas você tentou se redimir, conseguindo uma boa casa e família para o menino. Caso um dia ele pergunte sobre os pais biológicos, diga a verdade, e o quanto se arrepende, que ele foi o principal motivo de ter largado a Marinha. Conte a mesma história que acabou de contar para mim. Se ele reconhecer que apesar de tudo você o salvou, ele vai perdoa-lo. Confie – Apertou a mão dele mostrando certeza no que falava.
- Eu espero que sim – Olhou para baixo sorrindo – Obrigado Nat, é muito bom falar com você.
- Eu que agradeço por ter me contado sua história – Ela notou que o avião não estava mais subindo, e a voz da aeromoça saindo do auto falante avisando que os passageiros podiam circular livremente em suas cabines a deixou contente. Olhou para Phil – Viu só, o avião estabilizou e você nem percebeu.
- Verdade – A expressão de alívio no rosto dele a deixou mais feliz – Geralmente a subida e aterrisagem me deixam mais tenso.
- Ainda temos bastante tempo ate a aterrisagem – Balançou a mão dele com um aperto forte.
- Obrigada – Sorriu sem jeito e soltou a mão dela.
- Disponha
Não demorou muito para a aeromoça aparecer e servi-los com um cardápio que só a primeira classe oferece. Durante as horas seguintes Natasha assistiu dois filmes para se distrair, fizeram dois pousos para reabastecer e os dois comeram tudo o que a aeromoça lhes oferecia. Quando finalmente chegaram Natasha estava mais do que pronta em sair correndo e ir para terra firme e andar ate seus pés sangrarem.
O aeroporto Zurich – Ou Kloten, o mesmo nome da cidade Zurique, era imenso, um mundo dentro e fora. Qualquer turista sem o menor conhecimento se perderia ali.
Não foi preciso pegar um taxi, havia um carro esperando por eles. Phillip guardou as malas e tomou a frente do carro. Assim que Nat entrou pegou seu celular para mandar uma mensagem para John e seus pais avisando que havia chegado bem. Como depois de minutos a resposta não veio sabia que ele estava dentro do avião:
- Ele me mandou uma mensagem avisando quando embarcou – Phil respondeu quando a viu olhando varias vezes para o celular.
- Acho que ainda vai demorar para chegar
- Talvez não, Jatos são mais rápidos que aviões comuns, e faz horas que saiu de Nova York
- Oh que bom! Espero que chegue logo – Sorriu. Apreciou o resto da viagem ate o hotel, que, diga- se de passagem, tinha todo o estilo de John, sofisticado e respirando puro luxo, somente o saguão era o tamanho inteiro do apartamento dele. Quase todo o local tinha tons de branco e dourado misturado, os funcionários pareciam robôs que só apareciam ou se movimentavam quando os chamavam.
Phil a acompanhou ate a cobertura – óbvio que ele escolheria a cobertura. O Quarto era enorme, a sala, o quarto e o closet eram divididos por portas deslizantes. Não tem jeito melhor de descrever aquele quarto como luxuoso. Assim que sua mala foi deixada no quarto, ela aproveitou para tomar um longo e relaxante banho para estar mais do que pronta para ir a sua reunião com Max.
A reunião não durou mais do que meia hora, já que entrar em acordo com Maxime sempre fora fácil:
- Eu sei que é um trabalho difícil, mas preciso de modelos ruivas naturais para o próximo desfile.
- Não se preocupe, meu pai tem uma agência pequena e ainda em desenvolvimento na Irlanda, mas contratamos modelos sem problema nenhum.
- Ótimo, eu sabia que contratar a Donovan era uma boa ideia – Maxime era loiro, olhos azuis claros quase transparentes, pele branca, típica da nacionalidade, era alto, corpo esguio e musculoso, e tinha uma fascinação por roupas justas, pois sempre que se falavam ele estava usando uma blusa que destacava com perfeição seu abdômen. O que pessoalmente fazia jus a tanto aperto.
- Fico feliz em ouvir isso. Meu pai se orgulha muito de cada contrato assinado.
- E vocês sempre me mandam as melhores modelos, não a do que reclamar. – Ergueu as duas mãos dando de ombros – Eu sinto muito pela nossa reunião ter sido rápida, mas eu tenho um compromisso agora, por mais que quisesse convida-la para jantar, o que seria uma grande realização, eu não posso. Infelizmente.
- Oh! Não se preocupe, tudo saiu como planejado, falamos dos detalhes mais importantes – Andou em direção a porta quando ele mostrou o caminho e a acompanhou ate o carro.
- Sim, mas preciso esclarecer alguns detalhes no contrato e algumas exigências. Tudo bem em você vir amanhã?
- Não, amanhã está ótimo – Eles desceram a escada ate a sala e passaram por duas colunas ate chegarem à porta, que Max abriu dando passagem a jovem.
- Então terei o imenso prazer em revê-la amanhã antes do almoço – Abriu a porta traseira do carro para ela.
- Ate amanhã Max – Sorriu entrando no carro. Quando a porta foi fechada e Phil foi embora, Maxime ficou olhando o veículo ate passar pelo grande portão da sua mansão e sumir de sua vista quando dobrou a direita.
- Que mulher linda. A mais bela que já vi. – Enfiou as mãos nos bolsos com um sorriso sedutor nos lábios, então voltou para dentro da sua casa.
Quando eles entraram no hotel, Natasha verificou novamente seu celular:
- John está no quarto? – Perguntou a Phillip que vinha do seu lado.
- Não, ele teve de sair para resolver alguns assuntos e disse que voltaria mais tarde. Então acho que não deve espera-lo acordada.
- Oh! Tudo bem – Entortou a boca desapontada. Eles caminharam para o elevador quando o celular de Phil começou a tocar e ele se afastou para atender. Nat decidiu seguir em frente, apertou o botão e enquanto esperava remexeu na sua bolsa procurando um bloco de notas e uma caneta.
- Natsy? – Aquela voz masculina a fez parar o que estava fazendo, ficando alguns segundos olhando para o chão chocada. Só havia um homem que a chamava assim.
- Sean? – Olhou para ele de boca aberta.
- Há! Há! Olha só você – Apontou para ela com um sorriso brilhante. Sean era o ex- namorado de Natasha, sempre se deram muito bem, até o termino do namoro foi tranquilo e amigável, tanto que ate hoje são amigos. Sean era alto, esguio de ombros largos, corpo não tão definido, mas sempre um ótimo atrativo para as mulheres, de pele bronzeada, cabelos cor de cobre, olhos castanhos tão claros que chegavam a ser amarelos, cílios longos e pretos que quando batiam era como um convite para brincar em meio ao pecado, ela sempre amou aqueles olhos. Dono de uma boca rosada tentadora, desenhada por um sorriso sempre malicioso que arrancava calcinhas. Sean sempre adorava se vestir como os ricos britânicos, blusa social, um colete de crochê, calça social e sapato, mas quando estava na faculdade optava por jeans e tênis, para continuar com o ar jovem, ele sempre fora cobiçado pelas mulheres, mas acabou de rendendo aos encantos de Natasha.
- Oh! Meu Deus, eu não esperava encontrar você aqui – O cumprimentou com um abraço.
- Digo o mesmo. Uau! Natsy você está mais linda do que nunca – Olhou ela dos pés a cabeça.
- Há! Há! Estou nada, ainda continuou do mesmo jeito
- Discordo plenamente, mas não vou discutir, sei como fica toda encabulada com excesso de elogios, o que sempre achei estranho, pois vivia recebendo cantadas e cartinhas de amor todos os dias.
- Há! Há! Fala sério Sean. Eu lembro muito bem que você também recebia várias cantadas, e nenhuma delas vinha em bilhetinho, às meninas iam pessoalmente falar o quanto você era lindo.
- Há! Há! É, mas nunca dei bola pra isso
- Sei – Sorriu cruzando os braços – Mas então, o que está fazendo aqui?
- Vim para uma palestra dos cirurgiões – Sean era médico, no momento atuava como clínico geral.
- Ah é? E como vai sua especialização?
- Ótima! Me formo daqui a dois anos
- Já? Nossa que rápido
- Mas e você? O que faz aqui?
- Estou a trabalho, fechando mais um contrato para a agência
- Olha! Eu sempre soube que essa era a carreira perfeita para você, assim como cantora
- Ah para – As portas do elevador se abriram. Sean esticou o braço dando passagem a ela.
- Qual é Natsy! Você canta muito bem, e sabe disso.
- É tá bom, eu canto bem – Deu de ombros sorrindo sem jeito.
- Modesta – Sean olhou para os botões e perguntou – Você está em que andar?
- Na cobertura
- Uau! Que chique. Estou no 6º andar, no 105, aparece lá. Hoje não vou a lugar nenhum, e a tarde depois da palestra vou ficar no quarto – Apertou os dois botões.
- Claro, eu apareço sim – Concordou.
- Meu número de telefone é o mesmo
- Por sorte ainda tenho gravado na minha agenda – Riu.
- E o Raphael como está? Faz tempo que não vejo ele – Enfiou as mãos nos bolsos recostando-se na parede fria olhando-a.
- O mesmo de sempre, nada mudou só está um pouco mais maduro
- Há! Há! Sempre gostei dele, um cara imprevisível e incapaz de não falar o que sente... Igual a você.
- Deve ser por isso que somos melhores amigos, nos completamos e entendemos um ao outro
- É – De repente a porta abriu. Sean olhou a morena por mais alguns segundos e saiu – Foi bom rever você Natsy.
- Também
- A gente se vê – Acenou. Natasha acenou de volta e quando as portas se fecharam ela segurou no corrimão do elevador e soltou um longo suspiro.
Ela entrou no quarto jogando sua bolsa no sofá, o sobretudo, a camisa, a calça e os sapatos foi espalhando ao longo da sala ate o quarto, seguindo direto para o banheiro onde afundaria na banheira com água quente.

Simply, I love youWhere stories live. Discover now