37: tem algo mais

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"Agora meu corpo e mente estão tão distantes

Não sei como escapar desta prisão

Como posso libertar minha mente?

Porque eu não posso respirar"

I can't breathe | Bea Miller

No dia seguinte tudo devia ser mais fácil

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No dia seguinte tudo devia ser mais fácil.

Pelo menos isso era o que eu tinha dito a mim mesma antes de ter adormecido nos braços de Nick, com o seu calor aquecendo cada pedaço que parecia ter cedido dentro de mim.

Eu pensei que ter a sua pele colada na minha e a sua respiração massajando os meus cabelos, ia desbloquear aquela parte otimista de mim que eu tinha perdido algures durante a tarde de ontem. Mas quando rolei na cama e não reconheci o quarto enorme embrulhado num leve negrume apagando a luz para além das cortinas, a decepção foi mais forte que tudo.

Não era em nada mais fácil.

Pensar nos olhos lacrimosos de mamãe... a sua admissão... ainda queimava bem fundo em meu peito.

Era suposto ser mais tolerável agora que eu sabia da verdade já tinham algumas horas... Se dizem que conhecimento é poder então eu devia senti-lo, certo?

Mas não. Eu simplesmente servia de abrigo para toda a desilusão, arrependimentos, e nenhum sentimento era maior que o desejo de que isso fosse um fodido pesadelo do qual eu acordaria e teria mamãe para me confortar.

Engoli a bolha de emoção subindo pela minha garganta e fechei os olhos. Eu não conseguia aguentar a dorme consumindo por dentro.

Isso era a sensação de um coração completamente despedaçado?

Quis rir.

E eu pensava que Nick tinha feito estragos quando me tratou daquele jeito depois de termos dormido juntos... Isso era a dor de uma desilusão amorosa um bilhão de vezes pior.

Me encolhi entre os lençóis, optando por ceder á obscuridão do quarto e á insistência da mesma na minha vida.

Foda-se. Não tinha como escapar. Tudo era real.

A ideia de que mamãe seria capaz de segurar os netos em seus braços, me ver casando em um vestido vermelho e envelhecer ao lado do amor da sua vida desvanecendo perante os meus olhos.

O meu maior contributo nessa vida, atualmente, era respirar, então me foquei nisso ao observar o teto branco do quarto de Nick. Nada mais parecia me servir. Estava vazia enquanto as palavras de McCartney ecoavam dentro de mim, me torturando como uma melodia agridoce.

Só sinta. Seja diferente.

Como?

Nick, presumi, interrompeu o meu declínio já muito baixo, batendo na porta do quarto. Movi a cabeça apenas o suficiente para ver algo que quase derreteu toda a dor cercando o meu coração: o sorriso em seus lábios, o doce em seus olhos e a ternura e carinho que ele tinha posto no café da manhã em suas mãos abafou um pouco a onda de autodepreciação me sufocando.

NICKTOPHILIA #1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora